Sobre a dificuldade em se perceber as coisas boas que temos.
Tenho comentado sobre o substrato conflitante onde o homem se desenvolve, a dependência do homem com relação ao outro na construção da sua identidade e a distorção da imagem do outro ou até a impossibilidade de percebe-lo em função da confusão gerada pelos conflitos vividos.
O que eu comento agora é o fato de que, em função destes intermináveis conflitos, o homem desenvolve uma imagem distorcida de tudo e não percebe ou percebe parcialmente ou eventualmente aquilo de bom que já conquistou ou que lhe é oferecido. É a velha questão de "a grama do vizinho ser mais verde que a nossa".
Sentindo às dores dos seus mundos conflitantes o homem procura e delega à procura um valor sempre maior do que o valor dado a aquilo que conquistou ou já tem.
Iludido com a visão desnaturada de tudo ele procura qualquer coisa que leve a sua própria conclusão e não percebe que a conclusão que tanto procura exige a conquista de estados e elementos específicos e nunca aleatórios. Neste contexto a imagem deturpada de tudo leva-o a crer que os outros são mais felizes e estão em vantagem e, então, ele crê que as coisas do outro são melhores do que as dele e que a aquisição destas coisas seria a solução para os seus problemas. É o princípio da inveja que nos impele a desejar.
O desejo por coisas ou condições que não são as que nos cabem ou que não sejam às que temos nos levam a "procurar no lugar errado" desperdiçando o tempo que nos é dado para a nossa própria construção.
Por outro lado, ao procurarmos fora daquilo que já temos a nossa "felicidade" deixamos de perceber o que temos como algo de valor. "Às vezes é preciso perder para dar valor. "
Não quero dizer com isso que o desejo seja deletério para o desenvolvimento do homem mas o desejo deve mirar aquilo que engrandecerá o indivíduo ou seja, aquilo que será ajuntado a construção da sua identidade, sem atingir o outro de qualquer forma. Acho que este é um princípio ético. Nunca incomodar ninguém durante a construção da nossa identidade deixando que o outro esteja livre para construir a sua, ou seja, a construção de uma identidade é um ato solitário onde podemos escolher às influências ou elementos necessários porém, sem que isto altere a rota do outro.
Um fenômeno interessante que noto é o fato de o homem parece preferir o "modo infantil" para abordar às suas relações com os mundos onde vive agindo de forma impertinente, desejando tudo a revelia do mundo, ou seja, "eu quero, eu mereço, o mundo tem que me dar e, se não me der ele é injusto.
Eu gosto de imaginar as pessoas se jogando no chão e esperneando e gritando querendo a felicidade a qualquer custo. Sobre essa fuga de volta a infância vou deixar "o fantasma do meu pai" falar.
Há um adulto, uma criança mimada e um tutor austero e rígido numa interminável disputa pela liderança em todo homem.
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