terça-feira, 24 de novembro de 2015

O homem de duas faces 3 - O vassalo

Da angústia em servir a dois senhores.

O subtítulo " O vassalo" remete ao estado de servidão do homem, na idade média, ao senhor das terras, o suserano.  Assim também é o homem com relação aos seus dois senhores, o racional e o irracional porém, como agravante ele deve satisfazer a ambos sob pena de ser fustigado pelo outro não satisfeito.  É como se ambos fossem senhores ciumentos, possessivos e algo infantis.  Desta forma,  as relações do indivíduo com o outro são envoltas numa névoa gerada pela animosidade existente entre estes senhores.
Especificamente nas relações pais/filhos o complexo de Édipo, preferido de Freud ou o complexo de Electra, idealizado por Jung nos mostram claramente os efeitos dos comportamentos influenciados por estas duas instâncias.
Mas...e se olhássemos os complexos de Édipo e Electra do ponto de vista dos pais?  Como é para uma mãe que ama incondicionalmente a filha percebe-la como a uma crescente rival? E com relação ao filho, como se sente a mãe que, ao mesmo tempo, é fêmea?  E o pai que ama ao filho e coloca nele todas às expectativas de sucesso, como se sente ao perceber que o filho disputa com ele o amor da sua mulher e que tem que defender a mãe do seu filho do "assédio", não de um estranho mas sim, daquele a quem ela e ele geraram?  E quais os sentimentos obviamente conflitantes, dolorosos e inomináveis que ele deve reprimir a força de culpas terríveis ao ver a própria filha se tornar uma fêmea apta à procriação?
Estas reflexões pretendem trazer a possibilidade de reconciliação entre pais e filhos e dirigem-se a ambos na tentativa de ajuda-los a reconhecer a isenção de culpa e pretende, também, abrir um debate para o entendimento de comportamentos, principalmente eróticos, como o incesto e a pedofilia.
Acredito que às relações entre filhos e pais, (nesta ordem pois somos primeiramente filhos) já que é o primeiro contato do homem com outros humanos, sejam o substrato ou os alicerces que dão início a construção do homem e definem a forma como ele se relacionará com o outro, com a coletividade e com o universo.  Desta forma,  seríamos reflexos das atitudes de nossos pais e o eco destes comportamentos somados ao que auto criamos como nossa obra de arte ou seja,  aquilo que construímos como a nós mesmos.
Assim, um indivíduo socialmente saudável seria aquele que teria passado satisfatoriamente pelos "ritos de passagem", ou seja,  aquele indivíduo que teria resolvido todas às tensões originadas durante a sua primeira adaptação ao meio e aos outros.
Naturalmente este indivíduo idealizado dificilmente virá a existir posto que somos todos herdeiros dás dores dos nossos pais e às legamos aos nossos frutos.
Imagino então que cada indivíduo seja único pois não se pode determinar um "padrão de dores" que será passado como herança  de um grupo de indivíduos para os seus descendentes. Assim acredito que cada indivíduo tenha uma dinâmica de construção bastante singular onde os níveis de dores e capacidade de suporta-las perfazem um espectro infinito de intensidades.
Também não creio na limitação temporal dada aos complexos.  Acredito que as relações pais/filhos sejam as formadoras dos elementos da dinâmica que o indivíduo utilizará para se relacionar por toda vida.  Os pais ensinam aos filhos como construir os seus machados de pedra e estes machados terão a forma básica dos pais porém, detalhes característicos aos filhos.  Esta é a raiz da evolução herdada e esta herança não garante o sucesso da nossa espécie pois é caótica ou seja, não pode ser vista com um primeiro olhar por ser extensa demais para a nossa turva visão. Cabe aqui a escolha de olhos capazes de verem o macro e o micro contexto e uma mente capaz de equalizar as imagens de forma a trazer a paz da compreensão aos corações.  A paz da conclusão e da contemplação da obra.

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