segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Necrópole

Hoje alguém morreu.
Alguém que eu não conhecia,
Mas vivia andando em mim.
Alguém que nasceu no fim.

Um órgão desconhecido,
Cuja função existia,
E, apesar de sentir,
Nunca soube pra que servia.

Era feito de substância intangível.
Substância densa, gelada,
Que segurei nas mãos
E me escorreu pelos ossos.

Hoje mais alguém morreu,
Mas não saiu de mim.
E sei, enfim,
Que carregarei para sempre o seu cadáver,
Até que eu também o seja.

Introspecto

Todos dormem e eu flutuo.
Sou imerso em silêncio.
A própria ausência do som.
A própria ausência.

Tudo está escuro.
Apenas a luz que insisto em ser brilha,
E me incomoda.
Desejo a ausência de mim.

Tudo é silêncio,
Menos os meus ruídos internos,
De máquina gasta.
Tudo é muito.

Sou pouco e poucos são meus desejos.
Pra que tanta fartura? !
Porque a mesa posta,
Se a concha das minhas mãos me bastam?
Quero pouco.

Tudo é silêncio e escuro.
Mas tudo é prenúncio de incomodo.
Até a brisa me assusta.
Quisera ser um grão de areia.