domingo, 31 de dezembro de 2017

31/12/2017

Lá vou eu de novo
Em direção à porta aberta
Mais um ano que se vai
Feliz ano novo...
Poeta.

Outro ciclo
E lá se foi outro inverno
E, enquanto o verão me aquece,
Espero o seu advento
Frio e terno.

Desta vez fui feliz.
Acho que é a idade.
Já não dói tanto a saudade.
Acho que calejei.
Já não urge o que se diz.

Também não abri tanto os armários
Deixei que os objetos descansassem.
P'ra eles sou enfadonho
Porque não me são necessários.

Voltei a andar nu e descalço.
Ouvi muito jazz (recomendo)
E me alimentei melhor.
Descobri que eu estava certo,
O amor não acaba
E nada acaba com o amor.

Me decepcionei o suficiente.
Chorei apenas o necessário.
Sofri só o inevitável
Ajudei quando pude.
Conheci muita gente.
Falhei sem culpa.

Quando eu entrar pela porta simbólica
Do ciclo imaginário que começa
Vou levar apenas os amores que vivi
E o bem e o belo que recebi
Porque é o que posso carregar
Enquanto a vida fica e eu passo
Ou enquanto eu fico e a vida passa.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Gaivota

Alguns dos meus amores
Vinham me visitar eventualmente.
Amores que davam férias
Às minhas dores.
Amores de festa.

Outros eram acidentais.
Esbarravam em mim na rua.
Eu ouvia falar.
Eram parecidos com alguém
De quem eu não me lembrava.
Amores por associação.

Mas o melhor amor que eu tenho
Está comigo todos os dias.
Às vezes perfumado
Outras cheirando a fritura.
Às vezes me abraça
E eu quero.
Outras não.
Esse amor que eu amo tanto
Ralha com o meu cachorro
E arruma o meu colarinho.
Cozinha e faz amor.
Dorme sem me ver e
Me cobra a presença num sonho.
Acorda e me abraça nua
Ao som do despertador.
E me mostra uma roupa
Que eu aprovo e ela não usa.
Esse amor constante
Que só faz besteira
E, não obstante,
Se não fosse
Por um instante...
Eu não seria eu.

Ah esse amor! ♡
De todos eu amo a todos
E a todos devo parte
De mim mas,
Não viveria feliz assim
Não fosse esse amor
Que é o amor que
Deus fez pra mim.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Dia

A tempos eu ando devagar
Ladeado pelo meu velho cão
Ambos abismados por tudo
A tempos eu ando devagar.

Hoje eu amo o sol
Já não mais o temo
Nem às linhas que ele desenha em mim
Hoje sou amigo do sol.

Agora o cheiro da pele importa mais que o choque
E o frio na barriga é degustavel
Agora eu não preciso entender o amor.

É doce andar de chinelos
E não combinar com nada
E andar devagar
Hoje, eu, meu velho cão e a estrada.

Você só saberá quando envelhecer.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Lua cheia

Lua cheia, lua gorda,
Que sequestra os meus olhos.
Porque não fala comigo?

Lua cheia, luz roubada,
Que me aviva a angústia.
Porque não me abre os braços?

Lua cheia, disco de prata,
Que me oferece segredos.
Porque foge de mim?

Lua cheia,  que causa espanto.
O que seria de mim sem você,
E de mim sem o meu neto
Para decifra-la?

Lua cheia, lua que significa os meus amores!
Porquê à tua luz e às minhas dores?!

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Necrópole

Hoje alguém morreu.
Alguém que eu não conhecia,
Mas vivia andando em mim.
Alguém que nasceu no fim.

Um órgão desconhecido,
Cuja função existia,
E, apesar de sentir,
Nunca soube pra que servia.

Era feito de substância intangível.
Substância densa, gelada,
Que segurei nas mãos
E me escorreu pelos ossos.

Hoje mais alguém morreu,
Mas não saiu de mim.
E sei, enfim,
Que carregarei para sempre o seu cadáver,
Até que eu também o seja.

Introspecto

Todos dormem e eu flutuo.
Sou imerso em silêncio.
A própria ausência do som.
A própria ausência.

Tudo está escuro.
Apenas a luz que insisto em ser brilha,
E me incomoda.
Desejo a ausência de mim.

Tudo é silêncio,
Menos os meus ruídos internos,
De máquina gasta.
Tudo é muito.

Sou pouco e poucos são meus desejos.
Pra que tanta fartura? !
Porque a mesa posta,
Se a concha das minhas mãos me bastam?
Quero pouco.

Tudo é silêncio e escuro.
Mas tudo é prenúncio de incomodo.
Até a brisa me assusta.
Quisera ser um grão de areia.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Envelope

Sou o repositório de tudo o que em mim se encerra.
Sou conteúdo e substância.
Mas também sou quem degusta.

Não é recomendável a partilha.
Dou-me o prazer do silêncio,
Ou o seu benefício.
Tudo o que guardo não existe.
Nem lobo nem matilha.

E fico eu atrás da minha árvore.
E observo quem não sabe quem é.
E observo quem não sabe que tem.
Saboreio o sabor de quem sou.

Para que um sentido para a vida?

domingo, 16 de julho de 2017

Mínimo

Uma janela...
E um céu azul com nuvens brancas,
Quadradinho...
Igual a ela.

Água limpa
E meninos descalços,
Correndo atrás de uma pipa.

Solidão gostosa...
Eu comigo,
Num dedinho de prosa.

Saudade boa,
De sentir,
Quando se está a toa.

Drummond estava certo.
Eita vida besta! ♡

domingo, 4 de junho de 2017

Arrais

Me fiz de inverno lá na minha terra,
Por causa dos invernos montanheiros.
Por eles me tornei invernal.
Já combati o meu olhar formal,
Daquilo que é eterno
E sabe-se inevitável.
Quisera ter percebido ao nascer
Que já tinha cinquenta anos.
Talvez fosse mais fácil aceitar meus ares frios.
E talvez tivesse descoberto essa saudade incrustada nos meus brios,
Antes que ela virasse tristeza.
Me dei sempre bem com o frio
E com a letargia que ele causa nos lagartos,
Menos no lagarto que sou.
E por ter me tornado esse homem com alma de geada
Que induz ao aconchego,
Sempre tive esse equilíbrio que incomoda o mundo
E essa capacidade de ver através da neblina.
Mas tudo tem um ponto fraco,
Lembrança dada por Deus de
Que somos Deuses menores.
Então também tenho o meu.
E o que me dói e me tira o sono é que Deus,
Ao invés de me dar um calcanhar frágil,
Colocou em mim a fragilidade da nostalgia.

domingo, 16 de abril de 2017

Domingo

Hoje eu queria uma estrada daquelas de sítio,
Feita de chão batido e buracos de enxurrada.
E queria por na estrada
Os meus velhos pés amantes,
De amores próximos e distantes.
Amores que tenho e já
Não tenho.
Queria andar fito no horizonte,
E um sol de inverno queimando na fronte,
E perfume de frutas de época
A lembrar-me infância.
Não quero pensar em distância.
Prefiro pensar que, a cada passo, abandono às dores
E deixo pra trás os amores
Que às mesmas dores causaram.
Quem sabe essa estrada existe!
E me espera com o seu sol triste para quando vier a coragem.
E, quem sabe, um dia, da
Margem eu  levante
E juntando coragem o bastante
Eu consiga largar a saudade,
Daquilo que, por minha vontade
Ainda estaria comigo.
Porque a saudade é um precipício cujo fundo
É o desperdício do amor
Desperdiçado.

sábado, 15 de abril de 2017

Partícula

Hoje eu acordei mais tarde.
E me percebi sozinho.
Eu, meus pés e o caminho.
E o tempo sem fazer alarde.

Hoje eu acordei mais tarde.
E me notei indivíduo.
Me senti  mais assíduo.
Na minha própria saudade.

Hoje me levantei mais tarde.
E me lavei, e me levei pra fora.
Pois já era adiantada a hora.
De ter eu com a verdade.

Hoje  acordei  singular.
E apesar da multidão.
Fui ao campo semear.

E porque hoje acordei sozinho.
Fui semente, pé e espinho. 

domingo, 2 de abril de 2017

Andes

Descobri que sou outonal,
De espírito andino.
E pelos caminhos por onde andei
Sempre procurei o meio termo.
Terminei me encontrando nas montanhas
Nem quentes, nem frias.
Quente mesmo só esse meu
Coração rebelde que insiste
Em se apaixonar por tudo.
Amo a queda livre e "indisciplinada" das folhas
E amo às palavras invisíveis
Mas inferíveis escritas nelas.
Tenho uma simpatia masoquista
Pelas despedidas nelas simbolizadas
E a saudade me atrai como
Às flores outonais atraem às minhas irmãs abelhas.
Aqui em cima, no frio e sob a luz nostálgica
Do sol tardio,
Dou asas a saudade dos amores que não amei,
Pois, os que amei e amo
Nunca me deixaram.
Sou andino e patagonico.
Sou fruto e semente do outono.
E, ao chegar o último sono,
Rirei eu, do amor, irônico.

Eu tentei te abandonar mas tu não me abandonaste, doce demônio.

Abril de 2017, outono.

domingo, 26 de março de 2017

Quero

Eu espero que você olhe pra mim.
Preciso da sua aprovação.
E preciso ser aceito.
Ser envolto na tua  atenção.

Quero que me olhe com desejo.
Preciso aprovar o que sou.
Descansar no que ensejo
E saber P'ronde vou.

Quero, dos heróis a popularidade.
Preciso de outros ao meu redor.
Quero que toda sua vontade
Torne-me continuamente melhor.

Preciso da sua disponibilidade,
E que anteveja o que quero.

Preciso do seu amor sincero
A alimentar a minha vaidade.

Porque você não quis conversar comigo.

sábado, 25 de março de 2017

Vitrine

Eu sou a imagem por detrás do vidro.
Sou espectador
Ou..
Expectador, porque espero.
Quero o seu amor,
E os seus olhos em mim.
Você é o meu espelho,
Simples assim.
Preciso de você para saber quem sou,
P'ronde vou
E o que fazer.
Sou um ser criado por ti
Pois só a sua concepção pode me criar.
Sou o que você pensar.
Sou a sua  concepção,
Ou fruto da sua imaginação.
Estou atrás do vidro e
Ele é o que nos separa.
Viajo em ondas eletromagnéticas
E estímulo suas ações imagéticas.
Te hipnotizo com a minha translúcida imagem
E te capturou numa reles mensagem.
O que eu sou é você quem me diz
E se eu serei feliz ou não
Depende da bondade que
Se esconde no seu coração.
Você é o meu outro e eu sou o seu.
Somos espelho contra espelho.
Somos esmero em ilusão.
Sou seu primo, meio irmão.
E é a gratidão que me leva
A te tornar em palavra.

domingo, 5 de março de 2017

Diálogo ♥

Duas linhas de cores diferentes
E um vento divino a uni-las
Tantos desejos prementes
E os verbos sempre limitantes.

Nenhuma palavra é bastante
Para ser o amor significado.
Por medo de parecer impotente
Diz-se de tudo e calado.

Que medo de ver-te sofrendo!
E não poder ser eu, o alívio.
Triste é o fraquejar, doença horrível
Fonte de todo desespero.

Duas linhas de cores diferentes
Que o vento divino alinhava,
Num amor eterno e pungente,
Que jamais caberá em palavra.

Ficamos assim, amantes eternos
De um amor perene e fogoso,
E com palavras aquecemos
Nossos corações...juntos
Para sempre.

E que, apesar de insuficientes, não nos falte nunca às palavras de amor.
♡♥♡♥

quinta-feira, 2 de março de 2017

A porta

Eu penso em algo
Me distraio com coisas
Me concentro em coisas
Me distraio
Penso em outra coisa
Me esqueço
Outra coisa me chama a atenção
Me distraio
E me divirto com a distração
E me distraio
Alguém fala comigo
E me esqueço
Mudo de emoção
Muda a atenção
Mudo a interpretação
Uma mosca passa
E eu me distraio.

Não sei quem sou por pura distração.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Extrato

Pois é.
Algumas palavras só se extraem com álcool.
Como o princípio ativo de certas plantas
Certas palavras são o princípio ativo do homem.
Tão raro e eficaz veneno só poderia ser ocultado.
O medo da infecção e o peso da máscara não me o permite.
Há grande perigo na palavra e aquele que possui o seu precário domínio corre um risco enorme.
A grandiloquencia é um pré suicídio.
A língua é o ferrão do escorpião.
(Maldita rima inconveniente! )
Por dizer tanta coisa sou o que sou.
Sob efeito do álcool...sou.
E se não houvessem palavras eu não seria.
Ou seria eu.
Penso logo, existo.
Falo logo, não sou.
E assim sigo amando e sofrendo apesar da palavra .♥

Em memória de todos os amores que morreram vítimas da palavra.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Lady

De tudo o que é atrativo
O que mais me atrai é você.
E estando a sua mercê,
Me sinto o homem mais vivo.

Sua pele é lençol de seda.
O meu desejado manto.
Fonte de todo encanto
E medo de toda perda.

Sua voz meus sonhos embala.
Teus olhos guiam meus passos.
Anseio em mim os teus braços
E o perfume que tu exala.

E assim eu sigo te amando,
Feliz  por ela, minha sorte,
De ter-te, um dia, desejado.

Serei seu eterno consorte.
Por vidas estarei ao teu lado.
Nada nos afastará,
Nem a morte.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Morbidus

O cinza tem um porquê.
É a membranosa bandeja
Onde são servidos os moribundos.
O grande portão de chumbo.
A madeira apodrecendo sob
Impotentes olhos úmidos de
Covardia e lágrimas de medo.
A morte nos quer doentes,
Pré digeridos por leveduras.
Somos, desta forma,  melhor
Aproveitados pelo
Negro sistema que nos leva
Para onde nunca saberemos.
Saudáveis somos insossos.
É proibido voltar o rosto para olhar.
Aquele que olha corre o risco
De ver a verdadeira face da mentira.
A morte veste branco,
E tem um odor químico.
E reza para todos os Deuses possíveis aos pequenos homens.
Mas cala-se perante os grandes
Pois conhece aqueles que a
Desconhecem.
Usa o vento para nos inocular
E a luz do sol para nos atrair
Como se fosse açúcar de esperança.
Não haverá no universo algo
Tão engenhoso e eficiente
Como a morte.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A brisa

Fique atenta para quando o amor chegar.
Ele é discreto.
E raro.
Quase um não afeto.

Vista-se de forma simples
Para quando o amor chegar.
Mesmo na pluralidade ele é único.
De tão sutil e discreto
Parece pudico.

Afaste-se das luzes para esperar o amor.
Ele é íntimo.
Prefere companhia pouca.
Sussurros e voz rouca.
Na sua infinitude, parece ínfimo.

Diminua-se diante do amor.
Ele é diminutivo,
Como um pai diminui os termos
A um filho.
Imóvel mantém-se ativo.

Não feche os olhos quando o amor chegar.
Nem os leve para outro horizonte.
Pois em nenhum horizonte haverá,
A vida da qual o amor é fonte.

Infantilize-se quando o amor chegar.
Seja criança.
E deixe acordar a esperança
Que aviva aquele que se deixa amar. 

Não perca a hora quando o amor chegar.
Jamais o deixe ir.
De-lhe a mais absoluta atenção.
E a mais doce distração,
Para que ele deseje ficar,
E não queira jamais partir.

E, se for pelo seu bem,
E apenas por desejo teu,
Fique atenta para quando o amor chegar.
Todo amor do mundo mas,
Não qualquer um.
Apenas um...
O meu.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Transmutação

Como torções nos galhos de uma
Velha árvore,
Mudanças doem-me nos passados ossos.
E não meço esforços para evitar vendavais.
Aliás,
Amo a rotina, esta inquieta menina
Que me mantém no rumo.
Me aprumo quando não ha movimento.
E, ao sabor do vento...
Sou daquelas árvores milenares de profundas raízes.
Que, felizes, se prendem na terra orvalhada.
Não me dêem uma estrada.
Dêem-me uma pedra para me sentar.
E me deixem ver a vida passar
Enquanto passo por ela.
Quero uma janela para me debruçar e ver um homem passando.
E ver um burro passando devagar.
Enquanto, do outro lado da rua,
Mas sob a mesma lua, vejo Drummond ainda criança na janela
A olhar extasiado.
Itabira ainda é um paraíso
E é só disso que eu preciso.
Uai!

Vento norte

Hoje eu o senti roçar o meu rosto,
E um tremor no músculo cardíaco.
Às 12:30 do dia 12/01/2017
Ele chegou, digo, o percebi.
Ladeou-me aqui, onde sempre estive.
Trouxe-me esquecidos perfumes,
Distantes ciumes
Que me arranharam a alma,
E sob uma aragem calma
A tormenta se escondia.
Não sei o que fazia que não fugi.
Talvez a esperança de voltar a rotina
Ou a fuga do pavor de saber quem sou
Apesar do que pensava ser.
Só sei que me pus a correr
Em direção ao turbilhão de ansiedade
Causada pela vontade de te-la
Em meus velhos e sofridos braços,
Esfolados por tantos abraços no vazio.
A pensar me fio, urdindo a trama
Dos meus irrealizáveis desejos
Que me fazem andar infinitamente.
Descontente, procuro me contentar
Correndo contra o frio vento
Que nada tem de alento mas sim,
De perdição.
Quantos medos criarei em meus
Campos mentais para sustentar
Tão profundo amor?
Ou será o amoroso objeto
Que me leva inquieto,
Apenas miragem, fantasma, ilusão,
Montando como em balsa
Este velho coração,
Soprado pelo vento norte,
Soberano dos meus pensamentos
e senhor da minha sorte?
Sou eu, amante de amores selvagens,
Náufrago em revoltas águas
No rio de mil e uma ou mil e umas
margens.