sábado, 30 de maio de 2015

Nero

Até que ponto podem os sentidos?
Quantos estímulos eles carregam?
Quanto do mundo eles suportam?
Até que ponto são excitados?

O que, em mim, é sensação?
De onde vem tudo isso?
Até que ponto sou omisso,
Ao não ouvir meu coração?

Como experimentar todo sentimento,
Se me fogem da memória,
Protelando a
minha história,
Esvaziando o momento?

Só eu louco experimentaria,
Tudo aquilo que sinto,
Tendo o senso extinto.

Seria eu nervo exposto,
Tudo eu sentiria,
Teria o banquete posto,
E Roma, nua, queimaria.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Bal Masqué

Todos os personagens a minha volta,
Dançam. 
E ninguém me vê.
Ninguém me vê. 
Todas as mascaras do baile,
Belas.
Todas as danças,
Quadrilhas.
Todos se reconhecem em máscaras,
Todos são atores desesperados,
Interpretando.
Fustigados,
Por vaidades vorazes,
Ninguém dorme.
E ninguém me vê.
Ninguém me vê.
Passos velozes.  
Todos bebem imagens,
Bebem-se, embriagados,
Ébrios de si.
Máscaras. 
Todas belas segundo o
Ponto de vista de cada um.
Ouço suas frases feita entre a musica,
Frases de efeito, ineficazes
Palavras.
Senso comum.
Signos das angústias.
A vaidade concorre
Com a ansiedade.
Narcisos dançam para serem notados.
Mar de futilidade.
Procuram o perfeito espelho.
Decaem na própria beleza,
Afogados.
Náufragos da imagem.
Vida notória.
O sentido da vida é ser visto.
O objeto é a glória.
Medo da solidão.
Avessos ao invisível
Bailam a valsa do ego.
Padrão previsível.
Bela é a minha máscara,
E ninguém me vê.
Bela é a minha máscara,
Não eu,
Não eu,
Não eu.
Não.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Cinza

A noite se dedica aos fantasmas,
O que já passou,
Lembrança mesma,
Aquilo que nunca abandonei,
Ou nunca me abandonou,
A cama é repositório de melancolia,
Sombras do que fui um dia,
Vestimenta de sombras,
Som das vozes daquilo que amei,
Argumentando a minha culpa,
Alimentando a minha dúvida.
Errei?
Dedo em riste, apontado. 
Queria estar certo,
Mas o certo é limitado,
Encarcerado na certeza,
Absoluto e correto, 
Mergulho na mediocridade.
A paz da tristeza.
Funeral da poesia.
Sono assombrado,
Nunca saberei.
Haverá sempre o corvo
De Allan Poe a me olhar,
Nas sombras,
A me acusar.
Errei?

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Suspenso

Criei pra mim uma bolha,
Confortável,  transparente,
Flutuando num mar de gente,
Exercendo a minha escolha.

Dentro dela contemplo o mundo,
E com o mundo me abismo,
Sobre tudo eu  olho e sismo,
Num pensar poético profundo.

Tento ser inacessível,
Esforço por não ser tocado,
Distanciando o contemplado,
Observador insensível.

Sou logos analítico,
Viajando em um momento,
Sutil como o vento.

Num mundo alegórico,
Sou peripatético,
Tudo pra mim é paisagem.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Maria

Acorda cedo,
Vira na cama,
Diz que me ama.

Pensa em mim.

Sai do banho,
Cabelo molhado.
Você tá atrasado!

Pensa em mim.

Prepara a comida,
Me chama de vida,
Dorme de conchinha.

Pensa em mim.

Paga conta,
Resolve problema,
Inspira um poema.

Pensa em mim.

Faz café,
Faz bolo,
Cafuné.

Pensa em mim.

Me faz feliz,
Fica ao meu lado
E eu, abobado. ...

Penso nela...
Penso nela...
Penso nela...
Penso nela...

Notícias

Espero. ..
Infindável espera...
Sono e vigília. ..
Espero novidades!
Espero do futuro,
Quimera.
Espero do passado,
Saudades.
Algo pra contar.
Algo pra inferir.
Sentido para a vida.
Utilidade para a memoria.
História.
Uso para a fala.
Insidiosa esperança.
Discurso curto que não cala
Para não desaparecer.
Ativa confiança em algo
Por acontecer.
Espero e ao esperar,
Vivo.
Alimento a existência.
Insisto na espera e
Espero na insistência.
Nunca haverá paz,
Só esperança.
Nada mais...

Existencialismo

O que ha na proxima esquina,
Que ainda não percebo?
Qual será a minha sina?
O que me será dado?
Quem define o que recebo?
Qual é, dos Deuses, o objetivo,
Ao me dar a incerteza?
Onde está o motivo,
Para tal vilania?
Pode o filho de homem, um dia,
Não viver angustiado,
Pelos medos que consomem,
O alento que lhe é dado?
Qual será o caminho,
Da perene segurança?
Quais opções eu tenho?
Quais seriam às esperanças?
Sofro eu de existência,
Doença do futuro,
Vítima da consequência,
Ignorância do porvir,
Horizonte obscuro.
Condenado a existir.

domingo, 24 de maio de 2015

Enlevo

A saudade é a gratidão,
Por tudo o que bem me fez.
Homenagem da alma ao bom.
E a dor por aquilo que não tenho mais,
Ou tenho mas não está aqui.
Na saudade eu esqueço o mal,
Apago da memória momentos que escolho,
Faço vir a mim apenas o bem.
Saudade é coisa que da domingo a tarde,
Quando me desligo de tudo.
Saudade da nas ondas sonoras de uma música,
Da nó na garganta,
E água nos olhos.
Saudade da preguiça de não ter saudade.
Saudade me faz ver vultos,
Antigos rostos, vozes queridas, frio na barriga.
Saudade nasce no chão que ja pisei.
Saudade da em nuvem,
Saudade da em árvore,
Pra menino subir.

.

sábado, 23 de maio de 2015

Limite

Quanto eu resisto a piedade?
A pena que tenho de tudo,
A dó que me deixa mudo,
Que me tolhe a liberdade?
Até que ponto o pesar me move?
E a lagrima que em outro rosto,
Mesmo a contragosto,
Insidiosamente me comove?
Até onde os meus limites morais
me permitirão?
Quanto eu permitirei,
E dominado anuirei,
Apesar da alma pedir não?
Pobre eu, tão limitado,
Escravo do amor condenado,
Mesmo contrariado, a fazer o bem!
Pobre eu que, em verdade,
Serei sempre metade,
Por bem estar de alguém.

Existo

Eu...eu...eu,
Eu sou.
Sei que sou eu.
Sei que sou.
Mas é só isso.
Nada mais sei.
Me sobra apenas
A estupefação
Diante de tudo.
A vida é.
Eu sei a vida.
Mas apenas sei.
Sobra o mistério
Sobre o seu conteudo.
A vida é. ..
Uma grande surpresa,
Num enorme momento de
Distração.
Eu vou.
De um ponto ao outro.
Estupefato,
Surpreso,
Distraído e,
Vivo.

Imensurável

Eu sou menor que o mundo,
Mas do mundo sou a medida,
Assim argumento a vida,
E crio a medida de tudo.

Sou menor que a natureza,
Pois nela estou inserido,
Por ela fui elaborado,
Imagem, dúvida e grandeza.

Sou menor que o homem,
Por conta dos seus mistérios,
Aspectos contraditórios,
Que, inatingiveis, oprimem.

Sou a eterna potência,
De impossível saber,
Da eterna procura.

Sou pequena existência,
vontade de crescer,
Infinda releitura...de mim.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Recôndito

Não existe passado fora do tempo.
Não existe futuro fora de mim.
São buracos onde me escondo,
Quando o agora me assusta.
Agora é um ogro muito feio,
Que me acorda de devaneios.
Agora é um lugar que me ensinaram,
A temer.
O Agora não me deixa dormir,
Faz barulhos pela casa,
Arrasta correntes.
Tento exorciza-lo com o ontem,
Ou esquece-lo com o amanhã.
Mas o agora insiste em destruir os meus mitos,
Que construo com tanto,
Esmero.
E em desespero ouço ele a berrar pelos cantos:
"Ama-me porque somente eu existo e tu so existes dentro de mim...Agora. "

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O quê?

O amor é um cubo de amor puro.
Não ha nele impurezas de sentimentos outros.
O desejo não é amor,
Nem a ilusão da posse o é.
Não é o corpo e nem,
O que o corpo deseja.
Não é o objeto e nem o objetivo.
Não é do amado mas,
Do amante.
Não é dado mas praticado.
Por ele não se espera pagamento.
Amor não é sentimento,
É complexo.
Desconexo do "ter" e
Vibrante,
So pode ser unilateral.
Não pode ser frugal posto
Que é abrangente,
Gigante de muitos braços.
Incondicional.
O amor é o desejo pelo bem do outro.
Só isso.
O resto é conversa de egoístas.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Volátil

Eu tinha uma ideia para um poema,
Sumiu!
Fico somente o problema,
Surgiu.
Idéia arisca,
Que corta a minha poesia em fatias,
Do que me lembro e,
Do que procuro me lembrar.
Eu tinha um tema,
Es-pe-ta-cu-lar!
Que me deixou,
A procurar.
Passou.
Passaram tantas ideias,
Em tantos anos,
Poemas-planos,
E tantas platéias que nunca verei.
Onde andarão os poemas,
Que nunca escrevi.
Porque esqueci.

domingo, 17 de maio de 2015

Senoide

Rostos, milhões de rostos.
Cada um com uma vida,
Implícita em si a despedida,
Vida de prazer e desgosto.

Tempo, sempre pouco tempo.
Raro, escasso e delicioso.
Suave, imperceptível e insidioso.
Castigo dos Deuses do Olimpo.

Vida que se degrada com o tempo,
Tempo que abrasa a vida,
Saudade, dor e partida.

De tanto viver que eu tento,
Prender a vida passada,
Torno o esforço em nada,
E perco a vida para o vento.

A vida passa ou eu passo por ela?

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Novelo

Um monte de coisas!
Gente pra todo lado.
Auroras com sons de carros,
Cheiro de café!
Homens feitos de barro.
Terra molhada pela chuva.
Não sabem,
Não sabemos,
Não sei.
Caminhos que vão,
E que trazem de volta.
A rotina bate a porta.
Acorda....
E vem almoçar.
Sair pra poder voltar.
Um lar,
E a eterna saudade de algum lugar,
Lugar nenhum.
Gente pra todo lado,
Rostos familiares que eu nunca vi.
Relações.
Elos que me ligam a vida,
E argumentam a possibilidade
De eu estar vivo.
Eu vivo.
Tenho documentos, família e casa,
E passo pela vida,
Enquanto a vida passa.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Preciso criar alguns deuses,
Que me tragam a clara crença,
Inocente fé de homem puro.
Preciso do tecido escuro,
E da invisível presença,
E de profundas frases.
Preciso de novos mitos,
Uma nova Ilíada ou odisséia,
Vozes de poetas antigos,
Poetas fantasmas de palavras vivas.
Já não me basta o utópico paraiso,
Nem a densa panacéia,
Doses de ilusão homeopática.
Eu preciso da fogueira a brasar,
Aos olhos da lua,
E na terra nua deitar,
O meu térreo espírito.
Preciso tocar tambores,
Amar térreos amores,
Permitir ao semem jorrar,
Em míticos vasos que trarão novas flores,
Novos frutos de homens,
Filhos meus que enfeitarão,
O trono de Zeus.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Holograma

A realidade é falsa.
O real não existe.
O que ha são fragmentos,
Pedaços, particulas.
Montamos com eles um mosaico.
Simulacro do real.
Ilusão crivel,
Pela mente criada.
Imagem acreditada,
Em que a vida se baseia.
Complexa teia.
Não se vive a realidade.
Vagueia-se por uma utopia,
Criada para o próprio conforto.
Eu não estou aqui.
Sou fruto da sua imaginação.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Andarilhos

A solidão é substância,
Instância de dor e paz,
O solitário em si se compraz,
Se não se entrega à ânsia,
De ter pra si companhia,
Que lhe outorgue um dia,
Responsabilidade pelo cuidado.
Vive então descansado,
Das dores da relação,
Tendo-lhe dado a solidão,
Tão profunda alegria.
Tem ele a sorte, então,
De cuidar de si mesmo,
Cria pra si o seu norte,
Não teme, portanto, o abismo.
O solitário se exerce,
Faz de si exercício,
De si se torna o princípio,
Da liberdade que merece.

Nomade

Meu coração quer um lar,
Mas não parada.
Meu coração é estrada,
Minha alma é caminho.
Nunca ando sozinho,
Mas ando e não quero parar.
Preciso de amor com paisagem,
Estou sempre de passagem,
Quem me ama tem que andar.
Ando amando,
Muito e muita gente.
Mas sempre descontente,
Preciso de imensidão,
E alguem com asas,
Pares das minhas asas.
Quero uma casa ambulante.
Solar itinerante,
Vida de improviso,
É a vida que preciso,
Para amar muitos amores.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Pacem

A paz é utopia,
Ilusoria visão poética,
De quem não concebe a vida,
Bela,  real e trágica.
A paz é esperança,
Da paz nunca alcançada,
Apenas aproximada,
Algo que não se alcança.
Da paz apenas a presença,
Pobremente sentida,
Como se fosse um fantasma,
Que nos atiça a crença.
A paz não existe,
É vã a procura,
Como a busca em noite escura,
Num lugar já esquecido,
Carregado de ensejo,
Não é ela objeto,
Mas insano desejo.

A paz é o desejar  à paz.
É o que nos resta.

Movediço

Sou feito da areias,
Particulas de experiências,
Amálgamas de urgências,
Granulos de vivencias.
Vivo levado pelos ventos,
Dirão alguns, "do destino",
De nada sei, imagino,
Me baseando em sentimentos.
Não quero mas me deixo levar,
Resisto mas adormeço,
E acordo num recomeço,
Só me resta contemplar.
Me deixo anoitecer com o dia,
O sono é apenas um lapso,
Um intervalo para sonhar,
Com a vida que eu queria.

A vida é intolerável sem a poesia.
A interpretação poética das coisas me salva.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Timore

Medos tem vida curta,
Adapto-me a eles,
Me torno comum,
Acostumo-me.
Mas, antes de morrer
Os medos tem filhos,
Novos medos,
Incômodos a princípio,
Comuns ao longo,
"Meus amigos medos. "
Filhos de medos antigos,
Medos ancestrais.
Netos, bisnetos, tetranetos.
Medos que tomam comigo
O café da manhã.
Outros vão comigo para o trabalho,
E trabalham para que eu os tenha.
Medos que me ditam o discurso,
Ou me calam,
Discurso sem palavras,
Medos
Medos
Medos
Vivem em mim e,
Um dia,
No último dia,
Da "minha" vida,
No meu último momento,
Eles me abandonarão,
Para viver outras vidas.
Medos.

domingo, 3 de maio de 2015

Nocturnus

A lua brigou por mim,
Com a luz da rua.
Ambas queriam atenção,
Queriam clarear,
A da rua os meus pés,
A lua, meu coração.
A lua é uma namorada ciumenta.

sábado, 2 de maio de 2015

Vidraça

Uma janela sem grades,
A possibilidade do vôo,
Quadrado de liberdade,
Um lapso de abrir asas,
Eu e a vontade de voar,
O corpo que pesa,
A inveja da nuvem,
Saudade de pássaro,
A nuvem é o objetivo do
mergulho,
O azul celeste é
o oceano que refresca,
Nasci para ser pássaro,
Faço das palavras
minhas asas.