terça-feira, 31 de março de 2015

(?)

O que eu procuro eu não sei,
Mas eu procuro,
Porque a procura é,
"A grande distração",
Mesmo que seja em vão.

Não ha no objetivo o objeto,
Não há na procura o objetivo,
Eu finjo,  mas não ha.
Não há da estrutura o projeto,
Eu nem sei porque vivo.

Nem sei onde isso levará.
Mas eu procuro,  mesmo sem saber o que.
O "que" eu não configuro,
E repito a procura,
E "redigo" o que já disse.
E na normalissima loucura,
Procurei em você,

E a prova que eu não sei o que procuro,
É que encontrei!
E ao encontrar foi-se a ânsia da procura,
E o objeto que eu procurava perdeu,
O direito a minha ternura.

Abandonei o infeliz objeto,
Voltei a ser feliz e inquieto,
Sou eu do incerto o amante,
E por não procurar o bastante,
E mesmo  estando exausto,
Continuo procurando,
Pois na procura me basto.

domingo, 29 de março de 2015

Festim

O universo é profícuo em ofertas,
Me afoga em possibilidades,
Probabilidades incertas,
Inteiras e meias verdades.
Atiça em mim desejos,
Vontade do que é fútil,
Do juízo faz lampejos,
Indiscernivel torna o útil.
Tantas cores,  tantas formas,
Tantos cheiros e sabores,
Possíveis caminhos e amores,
Convidam a fugir às normas.
Deliciosos pecados,
Que meus sonhos alimentam,
Doces e criminosos atos,
Que ao espírito atormentam.
Pobre eu, homem perdido,
A mercê dessa fartura,
Pelos Deuses condenado,
A eterna e insana  procura,
Entre o tanto ofertado,
A final saciedade.

Comentários sobre a ansiedade

(1) - A ansiedade é o grande mal.
(2) - Nasce da insegurança,  do medo do desconforto,  da responsabilidade.
(3) - A ansiedade é a origem do crime.
(4) - A ansiedade nasce da desnaturalização do homem em prol de uma sociedade artificial.
(5) - Portanto, a cultura é geradora de ansiedade.
(6) - Sendo o homem um gerador de cultura ele não pode fugir da ansiedade sendo eterna vítima dos seus efeitos.
(7) - E, está condenado a procurar o alívio para a sua ansiedade.
(8) - Esta procura o aproxima do desespero.
(9) - Esta proximidade ao desespero chamamos de angústia.
(10) - A angústia é dolorosa e, como dor, move o homem.
(11) - Portanto,  a ansiedade é a origem do comportamento.
(12) - A intensidade do comportamento é proporcional a intensidade da ansiedade que o gera.
(13) - O homem é uma célula da sociedade.
(14) - A soma das angústias dos homens gera a angústia característica de um povo e a intensidade dessa angústia define a intensidade do comportamento deste povo.
(15) - A realização de uma sociedade ideal deve prever o estudo e o controle da ansiedade do seu povo.

sábado, 28 de março de 2015

Dunas

As vezes eu queria ser uma árvore,
Com alguns galhos secos,
E queria que cada galho seco fosse uma mágoa,
E que o Deus do vento soprasse,
E cada galho quebrasse,
E para longe levasse cada ato falho,
E que a lagrima fosse a água,
Que aguasse as minhas raízes,
E fizesse nascer em mim galhos verdes e fecundos.
As vezes me imagino uma duna,
Me movendo por um deserto.
Imagino às dores no meu dorso impressas,
Sendo apagadas pela brisa.
Eu queria estar desperto,
Num mundo onde às memórias,
Não permitissem às mas lembranças.
Queria apagar tudo de ruim que ja me aconteceu.
Queria esquecer quem já morreu,
E me tirou às esperanças,
Em troca do desamparo.
É raro,
O momento em que não me sinto só,
Parece que,  a qualquer momento,
Alguem vai abrir a porta,
E sem pesar o sofrimento,
Vai me ferir sem dó.
Eu tenho medo.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Centro

Me sento num banco de praça,
E o mundo gira ao meu redor,
Pressinto que o tempo passa,
E eu, no banco da praça,
Sou um sol,
Sozinho com tudo ao meu redor.
Ao meu redor ha outros sois,
Fingindo a não solidão,
Tão entretidos estão,
Que não me vêem,
Sol invisível ou homem insensível,
Ao calor de outros sois,
E tudo gira no entorno,
Deste sol quase frio, morno,
Sentado num banco da praça,
Vendo o mundo girando à sua volta,
E, notando que a atenção lhe falta,
O tempo, insidioso,  passa.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Responsabilidade

(1) - A responsabilidade é o dever, a obrigação sobre algo, o desejo potente de sucesso de algo a partir do trabalho próprio.
(2) - Há as responsabilidades básicas, aquelas voltadas para a manutenção da própria existência.
(3) - Há as responsabilidades necessárias a convivência em grupo, manutenção do bem estar do outro,  respeito ao espaço,  à propriedade.
(4) - A responsabilidade é um peso ao homem, é um desconforto.
(5) - O homem tende a irresponsabilidade ou, o homem tende ao conforto.
(6) - A responsabilidade gera a ansiedade.
(7) - A ansiedade é um desconforto.
(8) - Todo desconforto tende ao crescimento.
(9) - O homem tem um limite ao desconforto.
(10) - O homem toma como medida da responsabilidade o nivel de ansiedade.
(11) - Sofrendo com a responsabilidade excessiva o homem procura alivio em elementos e situações ansioliticas.
(12) - Quanto mais distante da natureza mais profundo e sofrível é este processo.
(13) - A responsabilidade crescente é o princípio do mal estar do homem.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Introspecção

Eu me isolo de tudo,
Silêncio e complexo,
Procuro o princípio oriundo,
De tudo procuro nexo.

Me torno um pensamento,
Um corpo  astral imerso,
Na negra matéria do universo,
Um início, um fim, um momento.

Há vozes em mim, ancestrais,
Me dizendo palavras imunes,
Com sentidos solenes,
Conhecimentos finais.

Ando sozinho,
Para  conhecer a verdade,
Abdico ao carinho,
Me eximo da piedade,
E assim, andando a esmo,
Olho para mim e,
Conheço a mim mesmo.

domingo, 22 de março de 2015

Breve comentário sobre o amor.

(1) - O amor é um estado constante.
(2) - A utilidade do amor é a união do ser com às coisas de forma harmoniosa e pacífica.
(3) - O objetivo do amante é o bem constante do amado.
(4) - O amor é unilateral.
(5) - O amor morre.
(6) - O amor deve ser alimentado com referências.
(7) - O amor não se transforma em outro estado.
(8) - O amor cede o seu lugar a outro estado.
(9) - Portanto,  o amor genuíno é o trabalho em prol do bem estar do outro baseado em referências.
(10) - O desejo do amante é o bem estar oriundo da valorização do seu trabalho.
(11) - Quando há a reciprocidade na doação desse bem estar baseado na valorização do trabalho em prol do bem do outro há a harmonia na relação.
(12) - O amor varia de acordo com o ente amado.
(13) - O amor do pai pelo filho e o amor do criador pela obra.
(14) - O amor da mãe é o amor pela espécie e a sua perpetuação.
(15) - O amor do irmão é o amor ao estado de família.
(16) - O amor do amigo é o amor conveniente.
(17) - O amor do amante é o amor ao cuidado.
(18) - O amor ideal traz conforto.
(19) - As formas de amar podem ser planejadas.
(20) - O amor é um elemento de coesão social.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Surreal

Eu gosto dos olhos dela,
De cores diferentes,
E da cor dos seus dentes,
De um sorriso absurdo,
Meu sorrindo da janela,
Me sonhando marido.
Gosto do andar dela,
Torto, desengonçado,
Tropego e engraçado,
Colorindo a viela,
Que clareia quando ela passa.
Gosto da voz estridente,
Fina como o falar dos pássaros,
A desenhar no ouvido da gente,
Histórias ouvidas de caixeiros,
Viajantes que passam pelas ruas,
Vendendo sonhos e badulaques,
Coisas que seriam suas,
Fosse eu seu namorado.
Andasse eu ao seu lado,
E tudo seria dela,
Em troca do sorriso na janela,
E de sonhar-me marido.

Viagem

Portos onde mãos acenam,
Num monótono gesto,
Já passei por muitos,
Em muitos acenei,
Num monótono adeus.

Sombras que se esvanecem,
A luz de restos de velas,
Vozes ao longe,  sumindo,
Vidas que envelhecem,

Fins e eternos começos,
A saudade sempre presente,
Pesar por tudo o que fica,
A dor de mim, ausente.

Não valem mais as palavras,
Olhares e semblantes não servem,
A poesia agora é pouca,
Imagens nada mais dizem.

Viver é estar de partida.

Pequeno ensaio sobre a dor.

Não discorrerei sobre a dor fisica mas sim, sobre a dor emocional.

(1) - O homem sofre.
(2) - A dor é causada pela ativação da insegurança.
(3) - A insegurança é o desequilíbrio da certeza ou o incomodo da incerteza.
(4) - O homem foge da dor.
(5) - A vida humana é a história da fuga da dor.
(6) - O oposto da dor é o prazer.
(7) - A vida humana também é a história da busca por prazer.
(8) - O que move o homem, portanto, é a dor.
(9) - A segurança no homem se da na forma de equilíbrio.
(10) - O equilíbrio gera a paz de espírito.
(11) - O equilíbrio é a aceitação positiva e prazerosa de que o que cremos é verdade.
(12) - Portanto, aquilo que cremos ser verdade nos traz equilíbrio. (Crer e a expectativa confiante, a fé. A certeza absoluta não existe pois ha sempre a possibilidade. )
(13) - A dor advém quando as nossas verdades são postas a prova. ("Creio que sou um bom profissional e alguém me diz o contrario, portanto, algo desafia a minha crença e eu passo a duvidar e a dúvida me incomoda.  Incomodo é dor. ")
(14) - A dor também advém do acordar de memórias desagradáveis.
(15) - A dor varia de grau.
(16) - A dor pode ser induzida pelo meio ou pelo outro.
(17) - A dor é induzida pelo meio pois o meio é maior que o homem ja que, ele ao meio pertence.
(18) - O homem sofre a dor induzida pelo meio e reage a dor adaptando-se ao meio ou sendo destruído por ele.
(19) - Ao homem não cabe a escolha da não dor quando induzida pelo meio. (É impossível não sofrer as dores induzidas pelo meio. )
(20) - O destino do homem é sofrer as dores induzidas pelo meio e a elas se adaptar na busca pelo prazer.
(21) - Esta é a dinâmica da evolução.  Adaptar-se movido pela dor.
(22) - O homem obtém sucesso admitindo a inevitabilidade das dores induzidas pelo meio, estudando os seus processos e se adaptando.
(23) - A dor induzida pelo outro difere da dor induzida pelo meio.
(24) - A dor induzida pelo outro pode ser acidental ou proposital.
(25) - A dor induzida pelo outro pode ser evitada.
(26) - Há responsabilidade na dor induzida pelo outro.
(27) - Aquele que recebe a dor é vítima.
(28) - Ao agente causador da dor cabe a culpa.
(29) - A culpa, quando vivenciada, é dor.
(30) - A culpa é a consciência do ato e o auto julgamento baseado nos conceitos de certo e errado.
(31) - O homem tende ao racionalismo para fugir da culpa.
(32) - Se não encontra uma solução racional ou aceita a culpa ou cria um argumento racional fictício que lhe alivie a dor.
(33) - Quem recebe a dor perde a tendência a confiança no outro.
(34) - A desconfiança dispara processos de auto proteção.
(35) - A não confiança é dor.
(36) - A crescente não confiança afasta. (Há a tendência da fuga da dor e, consequentemente, há a tendência da fuga do agente causador da dor. )
(37) - Nos relacionamentos a dor é o elemento determinante.
(38) - O equilíbrio no relacionamento se da em função dos níveis de dor e da resistência à ela.
(39) - A manutenção do relacionamento é a manutenção da não dor.
(40) - O insucesso do relacionamento se da em função da ruptura da resistência à dor e ao advento da absoluta não confiança.

*Este texto é um pequeno ensaio e , como tal, passivel de alterações.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Amar.....

O desejar o bem do outro,
E do outro se fartar de bem,
Ir alem,
Ir ao seu encontro.

Ver o outro e sentir,
O que o outro sente,
Estar-se presente,
Ouvir.

Trazer ao outro a paz,
Ser capaz,
De suprir o outro de bem.

Ir além,
Sempre mais,
Amor e paz.

Nunca a dor,
Sempre o amor.

quarta-feira, 18 de março de 2015

As milenares estruturas das classes.

(1) - O princípio da diferença é o desequilíbrio de poderes.
(2) - As classes são divididas de acordo com o nivel de poder.
(3) - O agente do poder varia com o tempo.
* em tempo de paz o poder se faz pelo grau de riqueza material.
* em tempos de guerra o poder se faz pelo grau de força.
(4) - As classes ascendem proporcionalmente à ascensão do poder.
(5) - De forma natural há duas classes,  rica e pobre.
(6) - Desta maneira, ha um equilíbrio dentro do desequilíbrio.
(7) - Classes intermediárias geram inconstância.
(8) - Classes intermediárias tem estruturas variáveis.
(9) - Classes intermediárias são dissipadoras das variações das classes rica e pobre.
(10) - Classes intermediárias são a ponte para a ascensão da classe pobre (emergentes) e para a queda da classe rica.
(11) - As classes rica e pobre desfrutam de conforto estável.
(12) - As classes intermediárias tem conforto instavel.
(13) - O sistema capitalista se caracteriza pela luta entre classes.
(14) -  No sistema capitalista ideal há uma classe mais rica e uma classe menos rica.
(15) - O sistema capitalista brasileiro se caracteriza pela luta "interclasse", onde a classe rica não luta e as classes pobre e média se confundem e se dividem em subclasses lutando entre si.

Amor

Em algum lugar alguém me espera,
Com esperança e um sorriso,
Talvez com café fresquinho,
E um cheiro de casa da gente.
É tudo o que eu preciso.
Talvez, em algum lugar alguém me espere,
Por uma vida toda,
Uma vida só pra mim.
A minha vida.
Quem sabe em algum lugar alguém me espere,
Apesar de todas as mancadas,
De todas as lagrimas derramadas,
Apesar de tantas despedidas.
Quem sabe alguém,
Em algum lugar,
Tenha a chave dessa caixa preta,
Que carrego dentro de mim,
Cheia de vazio,
Origem do frio que me faz buscar braços.
Eu caminho para algum lugar,
Onde, talvez, haja alguem que me espere,
Com perdão e café,
Eu caminho,
E espero chegar.

terça-feira, 17 de março de 2015

Carinho

Mãos nos meus cabelos,
Afagos,
Suave balançar da rede,
E a brisa,
Me afaga.

Doces olhos de mãe,
Doce pele da mão,
Na salgada pele,
Minha,
Que se funde a dela.

Calor, o morno calor,
E o cheiro de leite,
Colo,
E o suave balanço,
Da cadeira.

Roupa limpa,
Cheiro,
Nuvem branca,
E flores,
Mansos odores,
Mansa a vida,
Segue um destino,
De mansinho.

Um silêncio bom,
Uma aragem boa,
E a paz da certeza,
Da infinitude de tudo,
O que é bem,
E cheiro, e som e saliva,
De quem me ama.

Dor

Desamparo,
Areia e deserto,
Vento frio,
Noite,
O vazio,
A lacuna a ser preenchida,
Por carinho,
A esperança,
Se esvanecendo,
No desamor,
Nos olhos do outro,
Na dureza da palavra,
No descuido,
Na visão das costas do outro,
Indo,
Todos os sentidos,
Voltados para a dor,
Dores sem sentido,
Areias frias no deserto,
O vento frio,
Solidão,
Desamparo.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Louco

Caminho nu pelo mundo,
Vagabundo, maltrapilho,
Nada mais importante,
Nada foi o bastante,
Nada me impediu,
Nem arrebatou o brilho,
De continuar a procura,
Pela bem aventurança,
Do amor verdadeiro,
Este o amor primeiro,
Pai da minha esperança,
Raiz da minha loucura.
Ei de encontra-lo um dia,
E ei de nos olhos olha-lo,
E ei de interpela-lo,
Porque?

Branco

Não penso,
Nada me vem,
A cabeça,
Vazia.
Nada tem,
O que eu queria,
Tenso,
Momento de procura,
Penso,
No vazio,
Suspenso,
No vão pensamento,
Espio,
E me vejo,
Esperando,
Esperando,
Esperando.

terça-feira, 10 de março de 2015

Ciume

Espinho que fere o peito,
Daquele que se da o direito,
De  sentir-se dono.
Medo do abandono,
Fonte do desrespeito,
Ao ato livre de escolha,
Praga que tira o sono,
Pai de insensata discordia,
Insidiosa armadilha,
Que ao amor prende e mata,
Avesso de toda concordia,
Mal que do mal não se farta,
Pensar errado do outro,
Fatídica obsessão,
Que cega ao valor do amado,
Torna o amar deturpado,
Semelhante mas não igual,
Ao amar abnegado.
Mentira contada a si mesmo,
E por si acreditada,
Índole do outro mutilada,
Por absurda ilusão,
Fonte do amargo mal,
Que corroi sentimentos,
E de nobres e exatos,
Tornam-se dubios e tristes,
O fim para quem resiste,
E em harmonia o converte,
É a paz a dois merecida,
E do eterno amor a sorte.
Mas a quem lhe da guarida,
O futuro é cinza e incerto,
Pois do pensar incorreto,
Ao amar lançou mão.
E tendo de morte ferido,
O puro amor ofertado,
Tendo-o de si afastado,
Vive a dois com a solidão.

É preciso aprender a amar acima de todas as coisas.
É preciso aprender a ser feliz sozinho,
Ser a fonte de carinho,
Que ao outro da às asas.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Solo

Amar é um ato solitário,
Imaturo e adolescente,
Ninguém dele é consciente,
Tudo é feito aleatório.
Não se ama querendo,
Pelo amor somos tolhidos,
Como que por irresistível vaga,
Somos levados e feridos.
Ao amor valor é dado,
Menos pelo amado que pelo amante,
Tornando o amor distante,
Se bem não valorizado.
Amar se ama sozinho,
Nada se espera em troca,
Não cabe o desejar mesquinho,
Se o bem do outro se invoca.

Amar é um ato solitário,
Amar é própria construção
É obra ofertada pelo coração,
A espera de usuário,
Que ofereça a ele então,
O sincero valor necessário,
Sob pena da sua morte,
Pois o amor que seja por mais forte,
Fenece se não aproveitado.

Sendo o amor finado,
Torna-se na alma lacuna,
Ferida aberta, importuna,
Faz o amante desesperado,
E aquele que de bom grado,
A sua obra ofereceu,
Sente o ato fracassado,
Pelo amor que morreu.

Mas se o ente amado,
o amor valoriza,
Sente o amante apaixonado,
Que de mais amar precisa,
E quanto mais ama mais ama,
Num crescente amoroso e eterno,
Que afasta do coração o inverno,
E mantem do calor a chama.

Amar é um ato solitário a dois.

 

domingo, 8 de março de 2015

Mulher

A outra metade de mim,
Aquela por quem eu vivo,
Aquela que me fez viver,
Aquela por quem eu sigo,
E que me levou pelas mãos,
Até eu aprender a andar,
Sozinho e com as próprias pernas,
Quem me ensinou a amar,
Mas nunca soltei de todo as mãos,
Sempre as segurei em mãos outras,
E em outros olhos encontrei a luz,
De variadas cores,
E variados amores,
Mas sempre fui metade sem ela,
E sem ela ando sozinho,
Metade de um homem num meio caminho.
Dona de todas as cicatrizes,
Que hora trago no peito,
Tentando o amor perfeito,
Tentando metades felizes,
E por mais machucado que esteja,
Sempre ei de procura-la,
Sonhando um dia encontra-la,
Mesmo que por um lapso que seja,
Pois o meu coração almeja,
Toca-la antes da morte,
E que os Deuses dêem-me a sorte,
De encontra-la e  não perde-la.

sábado, 7 de março de 2015

Telhados

Eu ando por telhados a noite,
Coberto apenas pela lua,
Enquanto na escura rua,
O homem anda assustado,
Pois ouve meus passos no telhado,
E dos ventos recebe o açoite.

Já ando a milhares de noites,
A procura de um que encantado,
Que um dia teria levado,
A sorte que um dia eu tinha,
Sorte que já não é minha,
E me torna então azarado.

De mim todos tem medo,
E temem em mim os segredos,
Dos meus passos assombrados,
Pois sou o filho da noite,
Que traz os sinais do bruxedo.

Soprem os ventos da noite,
Sibilem por entre galhos,
Dêem ao homem passos falhos,
Fantasmas arrastem correntes,
Que sejam nos corações ardentes,
Apenas os medos que incuto,
Ao verem meu pelo de luto.

E sobre túmulos, nas lápides,
Que se escrevam o epíteto,
"Aqui jazem covardes,
Insanos e pelos seus medos,
Mortos por um gato preto.

Frio

Estranho no que se transforma o homem,
Que de tão machucado se desumaniza,
De amar já não mais precisa,
Pelas dores que o consomem.

Desacreditado dele o amor,
E tendo o seu esforço esquecido,
Faz-se a si desanimado,
Frente ao dado desvalor.

Exaurido de energias,
E tendo por elas lutado,
No afã de provar a alguém,
O seu amor extremado,
Ve seu trabalho vão,
Sua obra de ninguém.

Volta-se então para si,
Pobre e deserto ser,
Que por muito bem querer,
Tornou-se odre vazio,
Pois o insuportável fastio,
Do seu amor não amado,
Teria a ele levado,
Ser o que nele antevi.

Medonho fantasma é esse homem,
Que agora bate minha porta,
Nele a vida é morta,
E o amor é sua mortalha,
Pois de amar a sua obra é falha,
E nada mais lhe importa.

quinta-feira, 5 de março de 2015

90

Eu navegava sozinho,
num mar calmo e amargo,
me agarrava a náufragos,
levado pelo vento marinho,
do amor desacreditado,
e vazio de carinho,
fugindo do seu encargo,
tendo em seu lugar,
a fatal piedade.

Mas eis que me vem,
você, tempestade,
de dor torvelinho,
um rodamoinho,
de angustia e saudade,
a ambiguidade,
de não estar mais sozinho,
e a mesma vontade,
da solidão dos que tem,
o coração em pedaços.

Ainda estou no barco,
meio naufrago meio pescador,
trago a vontade do amor,
e o medo da calmaria,
que me protegeu da dor,
com suas amargas águas.
tenho você ao meu lado,
meio sereia meio turbulência,
que de jovem aparência,
cobriu o meu semblante,
e não obstante,
com suas terríveis vagas
afastou as amargas águas,
que me traziam acomodado.

hoje estou acordado,
ao lado da sereia-tempestade,
ainda trago a saudade,
do pescador amargurado,
desesperado e faminto,
que se deixava levar,
pelos caprichos do mar,
e aceitava o manter,
do seu escasso alimento,
mas da mulher-tempestade,
vem a vontade e o vento,
a esperança e o  alento,
de um amor de verdade,

Classes sociais no Brasil contemporâneo

                                                                  Material para debate.


Do meu ponto de vista hà três classes sociais no Brasil:
A classe abastada, rica, que detêm praticamente toda a riqueza, dona do conforto e do poder,
A classe media, que flutua entre a classe pobre e a classe rica e que serve de referencia e chamariz para a primeira e de escudo para a segunda e,
A classe pobre e trabalhadora que tem como papel, para não dizer sina, gerar a riqueza e ser a massa moldável para os desígnios do poder.
Das três, a que esta fadada ao sofrimento e a luta permanente pela permanência é a classe media.
Explico.
A classe pobre é tão antiga que as suas estruturas ja estão consolidadas. Às suas operações ja estão padronizadas e quase não mudam ao longo do tempo. Os seus elementos culturais, ou seja, os elementos culturais que a caracterizam estão arraigados e concretizados de tal maneira que so podem mudar a longo prazo a não ser por algum acontecimento de grandes proporções que gere uma comoção absurdamente grande (uma guerra, um cataclismo de grandeza maior, etc.)
A longo prazo a estrutura da classe pobre muda sob o comendo dos controles do poder e da capacidade deste em gerar cultura.
A classe abastada também tem uma estrutura secular, quase imutável, a sua capacidade em gerar cultura lhe permite gerar a própria ao seu bel prazer e a sua autonomia só é limitada pela natureza.
Estando no topo da piramide social ela não compete a não ser com os seus iguais para manter o seu espaço e ha um certo "cavalheirismo" entre os componentes dessa classe que exclui a agressão.
Ha, outrossim, um jogo cíclico de trocas parciais de posições apenas para que se perceba a sua existência. Esta classe tem muitos e grandes tentáculos que usa para manter o controle sobre o mundo.
Ja a classe media, essa flutua num limbo intermediário entre as duas classes supracitadas sendo permeada pelos tentáculos de ambas.
A classe pobre, de onde parte da classe media ascendeu, lhe lembra para onde ela pode voltar e a classe rica, de onde parte dela descendeu, lhe aparece como imagem ideal porem não permite a sua ascensão. Ela luta para não descer e é puxada pela necessidade de ascensão da classe pobre e tenta subir mas é impedida pela classe dominante por conta de ser uma ferramenta intermediaria de controle.
A classe media sofre de profunda insegurança ja que não tem uma estrutura concreta. Toda mudança na realidade do país lhe atinge. A dependência da imagem lhe obriga a nadar em círculos dentro de uma tempestade interminável sob pena de afundar.
Na crise é a classe sacrificada em prol da manutenção da classe dominante. É a classe que não dorme, a que antevê a eterna possibilidade do fim. Às cordas do marionete. o tronco que recebe os golpes do machado.
Mas a classe media é, também, o veiculo possível da revolução. Bem preparada pela organização ou pela dor ela pode ser o carro chefe de grandes mudanças que levarão a sua manutenção.
O que caracteriza a classe media, entre outras coisas, é a busca constante e crescente pelo conforto.
Talvez a consciência da possibilidade da extinção do conforto a faça movimentar as massas em direção às mudanças que nos aproximarão da igualdade duradoura.

A ilusão da propriedade

A propriedade ou a apropriação caracterizam a construção e manutenção do mundo do homem.
Ha no homem uma incontrolável necessidade de ajuntar a si coisas que darão a ele referencias sobre o seu estado. Um endereço, algo que se pareça com um lar, utensílios, são o ponto de partida do homem para o mundo. A partir da sua localização fixa desse "monumento ao seu estado" o homem começa a ganhar o mundo.
Mas o homem só se sente pleno e relativamente senhor de si se tem um lugar seu para voltar. Sem um "lugar de origem" a identidade do homem se enfraquece. Sobram para ele apenas os conceitos que ele faz de si mesmo e esses conceitos são distorcidos pela interpretação absolutamente pessoal que ele faz do mundo.
A propriedade é, portanto, indispensável para que o homem se posicione no mundo. Sem ela a estrutura social se torna nômade e o progresso tecnológico se torna, no minimo, difícil senão impossível.
Ora, o poder é baseado na apropriação e/ou controle sobre elementos indispensáveis. O Estado (aqueles que administram o espaço e a vida) detêm o poder sobre esses elementos e, a partir deles, controla o homem enquanto cidadão.
O estado incute no cidadão a "ilusão da propriedade" mantendo-o crédulo na estabilidade do seu proprio estado baseado nas suas posses.
"Eu tenho uma casa!" Eu tenho um carro!" Eu tenho uma identidade!"
Mas se não se mantem um equilíbrio de forças e o Estado se sobrepõem sem a resistência necessária do cidadão a propriedade passa a pertencer ao estado e o estado cede, provisoriamente, a propriedade ao cidadão.
Em 16 de março de 1990 o então Presidente da Republica, Fernando Collor de Mello, nos deu uma grande lição de como isso funciona confiscando a poupança de milhares de cidadãos. O efeito foi devastador.
A pergunta que eu faço ao cidadão brasileiro e, principalmente, ao cidadão de classe media é:
A sua propriedade é realmente sua?
Quais os riscos de perde-la?
Como aconteceria?
Em que isso te transformaria?
Os processos políticos que acontecem agora não seriam um prenuncio de uma desintegração da propriedade?
Este é um debate urgente.


terça-feira, 3 de março de 2015

Momento

Um lapso,
Segundo,
Um som,
Oriundo,
De um
Ponteiro.
Tempo,
Primeiro,
De muitos,
Tempos.
Um som,
Palavra,
Uma farpa,
Que crava,
Num segundo,
E o tempo,
Muda,
De alguém,
O mundo,
E o tempo,
Muda,
O tempo,
Todo.

Cães

Um homem e seu cão caminham pela praia.
Deserta praia irmã do mar.
Um homem e seu cão caminham pela vida.
Vida deserta de amar.
Um homem caminha no deserto,
A procura do sentido,
Do caminhar no deserto, perdido.
Um homem deserto caminha pela vida,
A procura do que sabia,
Antes da despedida,
Nos portais do deserto,
Antes da inocência perdida.
O que sabe o homem que caminha com o seu cão,
Na deserta praia, irmã do mar?
O que leva ele no seu coração,
Além do gélido vento do desamor,
Ou do medo de amar,
Já que é morto em si o amor?
Um homem deserto caminha pela vida,
Apenas um velho cão ao seu lado,
E apesar do frio vento que sopra,
E apesar da inocência perdida,
Tudo o que ao velho homem sobra,
É o amor do seu cão e a vida.

Cães ensinam amor.

Pai

Eu quero cuidar de alguém.
Eu quero alguém pra cuidar.
Eu quero ter um lugar.
Eu quero que alguém me veja,
Me perceba em cuidados,
E o amor que eles tem.
Eu quero um remédio caseiro,
Que desfaça esse nó,
Que desate essa dor,
Que dilua por inteiro,
Este cruel desvalor,
Que ha no meu carinho,
Disfarçado em cuidar.
O amor é o cuidado,
De amor carregado,
Expressão do ato de amar.
Quem cuida não se quer sozinho.
O amor é o desejo do bem,
Para o outro,
Substância que funde as coisas,
E deixa nos caminhos um ratro,
De vida bem vivida.

Vidro

Tudo é ligado por um fio,
Que mantém a certeza de tudo,
Raiz de toda segurança,
E da paz sobretudo.
É para o amor substrato,
Um chão para o amar,
O solo fertil da felicidade.
Existente é forte muralha,
Que mantém seguras as relações.
Valorizado é o veículo que leva a perene felicidade,
Aplicado da vida plena e fertil.
Mas quebrado não pode ser refeito,
E tudo morre sobre os seus cacos.

domingo, 1 de março de 2015

Ciclo

Ha um mundo novo atrás da porta.
Ha um novo mundo,
Apesar dos destroços do outro.
Ha um novo amor atrás da porta.
Apesar do fracasso do outro.
Ha um novo caminho atrás do muro,
E a esperança de mundos sem muros em mim.
Acho que vou amar de novo.
Acho que vou viajar.
Acho que vou pular muros,
E fazer rimas infantis,
Rimando amor com flor,
E nunca mais dor com amor.
Que "preguicinha" de sair da cama!