sábado, 19 de novembro de 2016

Formiga

Uma crença,
Mais uma.
Uma palavra,
Outra dança,
Outra valsa,
Outra moda,
E a saudade
Da valsa falsa,
Da que já foi.

Outra opinião
Oposta à de ontem.
Outra idéia
Esquecida.
Uma refeição,
A última
Antes da próxima
Doída fome,
Da doce rima.

Outro dia
De tantos
Dos quais
Um foi
O primeiro.
E virão outros
Mais
E prantos
Para prantear
Idos,
Findos e finados.
Todos tem
Os seus dias
Contados.

Todos caminham
Pelos caminhos
Onde caminha
O universo.
Só eu e você
Somos o inverso,
Parados, olhando
Às formigas
Que passam
Alheias ao fim
Dos ciclos
Que recomeçam.

Só a percepção
Da infinitude
Leva à poética
Atitude
Ou hipotética
Ação.

sábado, 12 de novembro de 2016

Obstáculo

Desejo e vivo da energia do desejo.
Mas não peço.
O braço pesa e a mão não se estende.
Doce negação.
Digo a mim mesmo não.
Sinto o prazer da saudade
Daquilo que me fez bem
E vou além,
Fujo daquilo que amo.
É urgente à humildade
E o doloroso dobrar de joelhos.
Atrás das paredes eu clamo
Pelo amor que me falta.
Mas lá fora me espera
Aquilo que exige a máscara.
Algo feito de matéria
Que ignora a alma.
Estou congelado de
orgulho e pedir um afeto
Desperta a desonra.
Envolto em minha miséria
Feito mortalha espero
Que passe o mundo
Enquanto fico eu e o tempo.
Me sobra o esperar pela
Vida eterna
Com os pés mergulhados
Nestas frias águas.
Onde me dissolvo aos poucos
Por não chorar.

Siameses

É só isso.
Estamos grudados
Um no outro.
E nunca poderemos
Ser separados,
Pois bate em nós
Um único coração.
Triste é o desejo
Que um dia tivemos
De não mais nos vermos.
Absurda ilusão.
Somos calmos quando
Aceitos um pelo outro
E condenados ao perdão.
Sufocamos se acaso um não respira.
E a fome nos move
Ao mesmo tempo.
Nos ameaça à vida,
À mentira,
De que é possível
Levar apenas um, a irmã
Morte.
Temos uma e a mesma sorte.
Em comum temos, os
Mesmos sonhos,
Que a distância associada
Ao tempo principia.
E sofremos da mesma ânsia,
E da mesma pressa,
E do mesmo incomodo
Desejo,
De iniciarmos uma nova vida,
Com o, desta vida,
Último beijo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ansiedade

Ha um futuro que me preda.
Insaciável em coisas que não existem.
Histórias que resistem
Como um gigante, à queda.

Habito um corpo em movimento.
Perene constância,
Infindável ânsia,
Masmorras de pensamento.

Tantas inominaveis memórias.
Orda de horríveis fantasmas.
De medos inenarraveis,
Insuportáveis miasmas.

Movo-me à esperanças de sono.
Descanso e imobilidade.
Da infância me sobra saudade,
Quando de mim era dono.

Deuses apascentem a alma
Da criatura sem sorte,
Que vê com desejo a morte
Como princípio da cobiçada calma.