terça-feira, 28 de abril de 2015

Incredulidade

Não ha o amor,
E pior,
Amor incondicional não ha.
Ha provas de amor,
E de amor há trocas.
Não há amor sem desejo,
De expectativas isento.
Há uma eterna espera
No outro,
A partir da outra
Satisfação.
O amor desejado
É antecipadamente pago,
Com a mesma moeda.
Pago é o amor com
A esperança.
Ama-se, em verdade,
A esperança de um sinal,
Símbolo da reciprocidade.
Mas há a espera, o desejo,
A condição.
Ha o "pidonho" coração,
Numa rima final.

domingo, 26 de abril de 2015

Melancholia

La vem a tarde de domingo,
Com sua indefinível saudade,
E incomoda vontade,
De coisas que já se foram.
Vem se arrastando a tarde,
Atrás do sol preguiçoso,
Vem sem fazer alarde,
Me lembrando,
E ao me lembrar traz a querença de asas.
Passa por mim,
A tarde de domingo,
Como se eu não estivesse,
Sem eu perceber em mim tece,
A trama dolorida da melancolia,
E torna a saudade, poesia.
Sou um pássaro sem asas.
Como asas eu queria!
Então eu voaria atrás do sol,
E não haveria entardecer,
Seria um eterno amanhecer,
Eu, o sol e a poesia.....saudade nunca mais. 

sábado, 25 de abril de 2015

Atributo

Não se iluda
Não procure
O amor não existe
O que existe
E resiste
São às provas
De amor
Os atos de amor
As atitudes
Amorosas
Às amorosas
Intenções
Amar é
Provar com atos
O amor ao outro.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Desideratum

Eu tenho várias saudades.
Não! ...
Não é saudade de muita gente,
Muita coisa!
São vários tipos de saudade.
Tem umas que são carregadas de amor...
Parentes que a muito não vejo,
Amigos de infância,
Meus pais.
Tem outras repletas de piedade, paixão.
Saudades daquela gente que passou pela minha vida,
Pedindo ajuda,
E se escapuliram das minhas mãos sem que eu pudesse cuidar,
Ou talvez não pudesse.
(Por onde andam? )
Tenho saudades de coisas de comer,
Saudades de lugares,
Saudades de cheiros, sons.
Mas a saudade mais doída é aquela de gente que eu amo mas com quem não posso estar.
Gente que não me ama,
Ou ama sem saber amar.
É uma saudade que nasce num lapso.
Num momento vazio.
Uma saudade de algo que não se pode segurar porque, por mais que se tente, insiste em escorrer pelos dedos.
É uma saudade impotente.
Uma saudade que nasce da dor do fracasso.
Saudade que nunca vai embora.
Saudade não sei de que.

domingo, 19 de abril de 2015

Primórdio

Como seria o homem puro,
Livre da nefasta influência,
Sem o pensamento obscuro,
Longe dos ardis da ciência?

Como seria sem a palavra,
Os limites da linguagem,
Numa situação que o livra,
Da limitada abordagem?

Como seria o homem,
Capaz de interpretar os sentimentos,
Que furiosos o consomem,
Sem descansar por momento?

E como seria o homem,
Livre para o livre pensar,
Sem os grilhões da cultura,
Passivel do possível amar?

Verei com os meus velhos olhos,
Tão grandioso advento,
De um redentor ser vivente,
Capaz de traduzir o sentimento?

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Eu espero em ti,
E confio.
Já não temo o frio,
Que me prendia aqui.

Espero de ti os bruxedos,
A levar as dores,
E amargos ardores,
A cultuar medos.

Tenho em ti a confiança,
E férrea certeza,
Do findar da angústia,
E o advir da esperança,

De eternos dias,
De doces estares,
E infindos amores,

E infinitas carícias,
E carneos prazeres,
Fartas delicias.

Eu espero em ti,
Porque te amo.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Desperto

Quem é você a quem nomeio realidade?
Criatura ou criador?
Eu, de mim, caçador,
Movido por dúbia verdade.

Como conceber o verdadeiro,
Se o real é fantasia,
Criada a revelia,
Ou proposta pelo obreiro?

Não há, comum, realidade.
Todos próprias às tem.
Criadas como convém,
Ou fruto de passividade.

Então, como entender o outro,
Se ele é por mim criado,
E por mim idealizado,
Seguindo um meu parâmetro?

Como entende-lo a partir da minha verdade,
Se é criador de si,
E tem para si a liberdade,
De escolher o que não escolhi?

É, então, minha covardia
Qualquer julgamento,
Se não tenho o conhecimento,
Do que o outro criaria?

Aqui não caberia,
A justa tolerância,
E, em última instância,
Respeitoso distanciamento?

Quem me dera um dia,
A insana fantasia,
Me deixasse acordado!

Então, sem ter julgado,
Sobrio eu contemplaria,
Do outro, a realidade,
E a paz dos justos em mim seria.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Gênesis

Maravilhoso  sentir a eletricidade da pele,
E na pele a sexualidade,
Das florestas a humidade,
E do deserto o vento que impele.
Tudo o que eu preciso é de um corpo alem do meu,
Uma referência lasciva,
Uma oásis de saliva,
E suor,
Um amor maior,
Não sentimento,  não emoção,
Um corpo, o teu e o teu amor de carne.
Preciso eternizar esse momento carneo,
Tornar constante o paladar de néctares proibidos,
E os sons em meus ouvidos,
Dos seus gozos loucos.
Tornar os calores não poucos,
Um corpo etéreo,
União de dois corpos que amam um amor animal,
Com o calor do sol e o sabor de sal,
Mistura de mar e floresta,
Corpos a correr nus na savana,
Intercurso carnal,
O princípio da preservação,
O fluxo divino que emana,
O amor primordial.
Do pó viemos, por ventos navegamos e nos unimos,
E a terra voltamos.....
Como chuva.

sábado, 11 de abril de 2015

Lista

Descobri que sou feito de saudades.
E nela finquei raízes.
Nasci saudades, vivo assim,
Um maremoto de lembranças.
Tudo o que vivi vive em mim.
Tudo tem a minha idade.
Deliciosa e triste essa sensação de existência.
Melancólica essa sensação de impotência diante do passar da vida.
Estou aqui mas, queria. estar ai e la e acolá,
Tudo ao mesmo tempo.
Se estou aqui sinto saudades de outro lugar.
Se estou com alguém penso em outra pessoa.
Se sou feliz agora sinto a falta dos dias em que fui feliz.
Trago todo o meu passado nas costas com tanto carinho!
Não queria que as coisas terminassem.
O fim é uma crueldade dos Deuses.
Sabe aquele doce maravilhoso que você come devagar e com saudade por que sabe que vai acabar?
Isso é a vida.

Sábado

De manhã. ..
Em casa, sozinho...
Café quentinho. ..
Tapioca com queijo. ..
Nada pra fazer. ..
Um violão toca jazz. .
Pode não ser um poema mas estou em paz...

Beijo.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Reflexões - I

Todo relacionamento entre dois seres humanos é um projeto sem fins definidos.
Não ha objetivos, apenas objetos.
É um planejar planos incompletos.
Levado a termo por dois apaixonados.

Uma construções de cunho aleatório.
A ação movida pela espectativa.
A esperança da paz como uma dadiva.
A confiança no, do outro, repertório.

Mas, se não satisfeita a necessidade,
Se na relação advem o engano,
Tende a ser abortado o plano,
Em troca do desamparo como verdade.

Sobra a ilusão desiludida,
E a visão do inútil tempo gasto,
E de tanto esforço já exausto,
Sofre com o desperdiçar da vida.

Ao se transformar em dor a paixao,
E todo o inútil esforço em fracasso,
Torna-se o andar sereno escasso,
E lar do sofrimento o coração.

Pobre daquele que vivência,
Tão amarga e dolorida experiência!
Perde, de si, a consciência,
É presa de angústia e nostalgia.

Tem agora a duvida como castigo,
Da verdade do amor se desconfia,
E o que a existência desafia,
É o pesar insuportável e amargo.

terça-feira, 7 de abril de 2015

O elo perdido -1

Elementos do vocabulário associativo

1- Toda interpretação do mundo feita pelo homem é associativa.
2- A associação procede de elementos referenciais.
3- O homem recebe esses elementos via influências do meio em que foi concebido e vive.
4- O homem usa esses elementos de forma comparativa a fim de interpretar, construir, manter ou reagir a situações com vistas a beneficios próprios ou seja, o homem usa o seu vocabulário associativo para conseguir conforto.
5- O "homem instintivo" usa elementos associativos básicos para manter-se vivo por exemplo,
Uma criança na savana presencia o ataque de um leão a um membro do seu grupo e as reações de medo e fuga do grupo bem como, a morte do membro atacado. Logo ele associa a figura do leão à morte e a dor e esse elemento composto pela imagem do leão fortemente impressa em sua memória pelas fortes emoções da situação vivenciada por ele, à possibilidade da morte e, em nome do instinto de auto preservação,  temerá e fugirá de tudo o que se parecer com um leão.  A figura do leão passa a significar "morte".
6- Já o "homem cultural" ou seja, a instância humana construtora do mundo artificial, utiliza os elementos do vocabulário associativo de forma extensiva para criar elementos "supérfluos" ou "apêndices" à sua existência.
7- Portanto, o homem interpreta e interage com os mundos interno e externo e tenta harmoniza-los usando um vocabulário de elementos associativos que adquiri com experiências e usa este vocabulário de forma comparativa.  Este vocabulário é usado nas instâncias instintivas e artificiais de formas distintas.  Na primeira é efetiva e visa a auto preservação e na segunda é livre e visa o conforto (segurança, reservas, etc. ).

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Antigo

Eu ando por esse mundo sem me importar.
Por que assumiria a dor?
Sou atemporal e fecundo,
Não preciso parar.
Navego na poeira dos tempos.
Não pertenço a um só mundo.
Me apiedo do homem novo e lamento a sua angústia.
Lamento o tempo que perde a procura de caminhos,
Em prol de uma utópica anistia.
Não sabe ele que já está?
Caminho por essa casa como se à tivesse construido,
E ando por trilhas em que nenhum outro homem andará.
Sou uma alma velha,
Pesada de saber e de saber-se.
Fui eu quem criou o tempo,
Esta bela alegoria.
Sou eu a preencher o espaço com toda a minha existência.
Nada do que é mortal me bastaria.
Existo logo, contemplo.
Uso e usei, como veículos, muitos corpos.
Nunca fui um, sou múltiplo.
Fala-se muito em morte.
Desconheço,  nunca morri.

domingo, 5 de abril de 2015

Perpétuo

De tanto adeus fiz de mim uma viagem,
Uma eterna ida,
Um interminável mergulho,
Infindável vertigem.

De tantos acenos cada vez mais distantes,
E tantos olhares retos,
Assumi o viajeiro espirito,
De insones navegantes.

Trago, portanto,  em mim a continua saudade,
Alimentada por deixar gente mui amada,
Que por não partir comigo foi deixada,
Em troca de minha liberdade.

Sou navegador, marinheiro do mar da vida,
Não ha para mim porto seguro,
É minha obra a dor da despedida,
E a saudade desmedida o meu tesouro.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Retirante

Hoje, da janela do meu quarto, me vi passar.
Ia devagar, carregava uma velha mala, uma folha de papel e um lápis.
Me achei estranho, meio triste,  meio alegre.
Um meio termo,  duas metades de um mesmo homem.
O que unia às duas metades eram a mala, o papel e o lápis.
Num arroubo de coragem, vencendo o medo do ridículo,  me chamei.
Estranho este ato, chamar a mim mesmo.
Nem me olhei distraído que estava.
De vez em quando parava e olhava para trás como se tivesse esquecido algo ou, como se alguém me chamasse.
Talvez eu tivesse esperanças de que assim fosse.
Depois voltava a caminhar devagar como se fosse imortal, como se soubesse da impossibilidade do tempo. 
Assim, parado na janela do meu quarto,  eu me via indo embora.
De vez em quando eu parava e escrevia alguma coisa ditada por alguns dos fantasmas que me acompanhavam.
Seres transparentes,  alguns alegres outros tristes,  lembranças, resquícios de uma vida intensa.
Um cachorro latiu, como quem diz "já vai tarde".
E eu fui, com vontade de ficar.
É uma enorme responsabilidade e uma grande violência ir embora.
Queria que nós dois fossemos vizinhos de janela.

Isenção

Quero te carregar pela vida,
Como bagagem de mão,
Que pode ser esquecida,
Num táxi ou saguão,
Caso a dor tome a vida.
Quero te levar de mãos dadas,
Pelas pontas dos dedos,
E te contar segredos,
Que a ninguém contaria.
Quero te deixar um dia,
Por mentiras contadas.
Quero um amor suave,
Delicado como a neblina,
Que a menor brisa de dor,
Para longe de ti me leve.
Um amor esvanecente,
Um grande amor pra eu viver,
Cálido e envolvente,
Fácil de esquecer.

Passagem

Hoje estou indo embora.
Já coloquei na mala o que cabia.
Não era tudo o que eu queria,
Mas é o que em mim cabe agora.

Deixo muita coisa para trás,
Algumas poucas muito amadas,
Horas boas por mim passadas,
Momentos de alegria e de paz.

Toda hora boa tem  minutos tristes,
Destas eu levo as que tem menos,
Aquelas que causaram poucos danos,
Que para o amor foram bastantes.

Deixo para trás a causa da dor,
Aquilo a que perdi a confiança,
Aquilo que não me da a esperança,
Aquilo que impossibilita em mim o amor.

Vou embora porque é preciso.
Não fosse a dor não iria.
Nesta paragem ficaria.

Por muito andei indeciso,
Presa de amor e piedade,
Medo,  talvez,  da saudade.

Mas vou apesar das dores,
Pois sou feito ao nomadismo,
Ou afeito ao comodismo,
Que suporta o que incomoda,
Que se rende sem luta aos cárceres.

Amar é um ato solitário,
Imaturo e adolescente,
Ninguém dele é consciente,
Tudo é feito aleatório.