Quero que a chuva molhe
As vis engrenagens dos relógios,
E que ele pare de vez por toda.
Não quero mais o tempo
Que envelhece minhas carnes.
Nem dos muitos anos, os elogios.
Não quero saber a próxima hora
E o dia de amanhã e o dia de sempre.
Quero sim, o dia e a noite,
Referências de labor e descanso.
Que, sob forte vento sul,
Rasgue-se o calendário.
E que o carrilhão diabólico venha abaixo.
Não quero a inútil hora pra nada
E nem o amargo e inútil "aniversário".
Que o sol do meio dia
Retorne para o leste
E que o oeste seja esquecido.
Que seja eu esquecido pelo tempo
E que a ampulheta se cristalize.
Abaixo o tempo que desperta a morte,
E aproxima os finados corpos da terra.
Desmembre-se máquina que a ilusão encerra
E encerra, do finito homem, a sorte.
Porque atemporal eu sou,
Fustigado pelos ponteiros.