segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O veleiro

Sou um veículo denso,
Ao mesmo tempo passageiro,
O nada tenho como destino,
Nenhum vil ancoradouro.
Move-me ela, a morte,
A título de vela e vento,
Da-me de indivíduo o sentido,
Tange-me com o sofrimento.
Impõe-me a vida sem escolha,
Força-me ao improvável futuro,
Obriga-me a amar seus passos,
Da-me dor num cálice obscuro.
Faz-me andar por seus vales,
Pago a ela o pedágio,
Dou-lhe autoria dos males,
A mim impõe presságios.
A temo e a amo, ó morte,
Tu me insuflas a vida.
Qual seria minha, a sorte?
O que seria a medida,
Daquilo que me aguarda?
Passado e futuro não haveria.
Sem tu, amada morte,
Nem homem existiria.

domingo, 30 de agosto de 2015

O fracasso da cultura

Não se esqueçam dos seus guarda chuvas; o mundo está desmoronando!

E o homem desmorona com ele e, por estar inserido nele, não percebe.
O que vemos hoje é um constante "remendar" o mundo.
Enquanto escoramos daqui ele se quebra ali.
O projeto inicial de um mundo que factuasse a felicidade e a liberdade do homem via ciência deu errado e, pior, tem criado homens cada vez mais errados em função da negação dos seus vínculos viscerais com a natureza.
Ao negar os seus instintos e paixões ao tentar suprimi-los com a tecnologia, a moral e a ciência o homem cria para si uma jaula de onde observa, triste, a liberdade que nega a si mesmo.
A evolução da lei é uma das provas desta decadência.
Ha leis para tudo e cada lei funciona como um esparadrapo numa fissura na existência.  Cada lei tapa um buraco já antevendo um novo buraco que se abrirá.
Tudo na cultura moderna é feito para se tapar buracos.  A escola é feita hoje para tapar um buraco que se abriu nas famílias, entre pais e filhos ou, lembrando-me de Reich, entre homem, mulher e jovem.
A religião é a atadura colocada sobre a fratura que separa o homem da natureza, ou seja, o homem de si mesmo.
O trabalho, e a sua ilusão de conforto, nos separa da nossa capacidade alegre de vivermos dos mananciais naturais ou, no mínimo, nos afasta da terra.
O casamento e as suas conturbadas relações fecha uma grossa cortina que nos separa da verdadeira natureza erótica do homem e do real sentido do amor.
Toda solução para esse estado de desmoronamento sem fim é um paliativo.  A técnica nada mais é que a arte do remendo.
Um fenômeno interessante neste cenário auto destrutivo é a busca pela conclusão. 
Já que tudo desmorona, já que tudo decai, não se pode vislumbrar a conclusão de nada.  Nada é concreto tudo é fonte de dúvidas, insônia, ansiedade, medo e o seu fruto, a violência.
O homem nega a dor e não à percebe como a força propulsora da natureza. 
A dor é o que induz à adaptação e a evolução.
O sofrimento é a mão da natureza a nos levar para o paraíso mas, nós homens prepotentes e rebeldes afastamos essa mão em troca de uma improvável existência sem dor.
Não nos adaptamos mas, na verdade, fugimos.
Criamos o pessimismo.  Criamos as doenças psíquicas e sociais.  Nada disso existe na natureza.  Criamos às várias formas de dominação baseadas no alívio do sofrimento.
Nos tornamos um corpo estranho.  Penetras na maravilhosa festa da vida.  Rejeitamos o banquete em troca de uma maçã que hoje já é podre.
Uma resposta?
Amanhã, quando acordarem e sentirem todo peso da existência após uma noite mau dormida a custa de excessos, não fujam da dor mas usem-na como impulso para uma existência feliz.
Para o homem natural, afirmar o sofrimento é trilhar o caminho da felicidade.

Bolhas

A lua está se afastando da terra.
Um centímetro por ano,
Segundo boatos.
A lua deveria ter âncora.
O que serei sem a lua?
A terra é um entre milhões de planetas,
Numa galáxia menor,
Se a outras comparada
E o nosso universo é pequeno
E eu sou um grão de poeira que ama...encerrado numa bolha.

sábado, 29 de agosto de 2015

O grande prazer do sexo

Como tenho dito, o homem sofre constantemente os efeitos dolorosos do seu afastamento da natureza. 
Ao negar às suas origens e, ao tentar criar uma existência artificial, o homem paga um preço terrível.  Em troca da sua ilusória autonomia o homem tem que temer o mundo. O homem sabe-se, instintivamente,  desamparado, banido do seu lar, impotente e limitado.
Vez por outra o homem sente saudades do seu estado original e o procura.
Ha várias formas de se vivenciar momentaneamente o retorno a tal estado primitivo, alguns inaceitáveis pela sociedade humana. Cito o entorpecimento químico, o crime no seu momento culminante, os esportes e, principalmente, o ato sexual.
Creio eu que, a morte e o orgasmo sejam os meios onde o retorno ao estado primordial se da de forma mais poderoso e, obviamente, o orgasmo é o mais prazeroso.
Todo o preparo para o orgasmo já leva ao estado onde o homem pode exercer a sua animalidade. Durante a "corte" os apaixonados dançam uma longa e complexa dança do acasalamento.
Com a aproximação do momento do ato a vivência da animalidade aumenta gradativamente. O homem assume o seu papel natural de macho e a mulher torna-se a fêmea como a natureza deseja e, no momento do orgasmo ambos retornam aos seus papéis naturais, vencem o medo e a morte e se fundem ao universo.  É o retorno a segurança do lar primordial.  A volta ao colo da mãe.  A vivência da felicidade. É o transe mais doce.  A absoluta inconsciência consciente.
Acho que é por esse motivo que os bloqueios sexuais advindos do afastamento do homem com relação à natureza sejam a causa de tantas anomalias individuais e coletivas. 
Privar-se dos benefícios do sexo natural leva o homem a se "amputar" do seu corpo natural tornando-o incompleto, ou seja,  infeliz.
Esta privação do sexo natural leva à classificação da sexualidade.  Heterossexualismo e outros "issmos" referentes são, na verdade, a tentativa da repressão de estados que levam o homem a comunhão com a natureza e visam torna-lo um ser ilusoriamente autônomo ou um ser artificial.
Não creio nestas classificações mas creio, sim, que haja apenas a sexualidade humana absolutamente livre de rótulos ou regras a não ser aquelas ditadas pela natureza.  Alias, creio que a orientação sexual seja um produto do meio e não uma imposição genética.  O homem livre de artificialismos pratica o sexo de forma a comungar com o universo e de maneira a criar elos sociais. Namorar naturalmente pode ser a cura para muitos males da humanidade.

A contradição do trabalho

A natureza é um ambiente inóspito.  A sua dinâmica é dura, sem emotividade e tirânica.  A natureza não negocia.  Tudo acontece como deve acontecer segundo a sua vontade.  Aquilo que vai contra ela ou aquilo que não lhe serve está fadado ao sofrimento e ao desaparecimento.
O homem, munido da razão, aprendeu isso e se revoltou.  O livro de Gênesis da Bíblia cristã e outros saberes discorrem sobre isso e, discorrem sobre como o homem se revolta contra essa tirania e cria um caminho antagônico. 
O homem, não aceitando de forma fatalista o jugo da natureza,  tenta, desde a sua aurora, criar um mundo para si apartado dela. Alias, diga-se de passagem, o "revoltar-se contra o jugo" parece ser característica muito humana.
Desta forma, o homem deixou de ser uma engrenagem da maquina natural e assumiu, como objetivo maior, o afastamento em todas às instâncias das suas origens.
O veículo de afastamento do homem é o trabalho, o grande criador da cultura.
Mais ainda, para se afastar da natureza,  visto que o homem sempre teve a consciência da infinita grandeza do mundo confrontada com a sua própria finitude e impotência, constroi ele uma interpretação limitada ou, uma visão diminuída da natureza adaptada a sua pequenez.  Desta maneira, o homem forçou-se a esquecer o tamanho daquilo que lhe originou e criou uma imagem menor .  Uma imagem suavizada que não lhe causasse tanto medo.  Ainda assim, o homem, baseado na imagem diminuída da natureza, se propôs a "conquista-la" como se a natureza fosse algo que estivesse circunscrito ao seu quintal.
Mas o homem é um animal equivocado por natureza posto que sofre de inconclusão crônica e não percebe que ele está inserido no mundo e, tragicamente,  não pode dissociar-se dele. Assim como o filho que sai da casa do pai não deixa de ser filho, o homem, ao criar a ilusão do afastamento da natureza não deixa de ser produto dela e subordinado a ela.
O homem tem, em si, um conjunto de atributos e ferramentas que lhe permite cumprir com o seu papel natural.  Estes elementos atribuídos pela natureza estão sempre em ação e o homem sofre lutando para reprimi-los. Este é o princípio da dor humana. A dor e a constante e insone angústia do homem é fruto da sua revolta contra às suas origens ou, como prefiro pensar, é o chamado da natureza para o seu retorno a ela. Toda doença existencial nasce da cultura e cultura é um nome elegante para a revolta e a rebeldia da "criança/homem".
O homem é obrigado a viver duas existências, a saber,  a existência que ele arquitetou, ou seja, a existência artificial e a existência sustentada por todo um aparato natural sejam instintos, pulsões e automatismos irresistíveis.
Já que esse aparato lhe é impingindo pela natureza e, já que a natureza é infinitamente maior,  o homem se vê cumprindo de forma sofrida os seus desígnios e se vê eternamente humilhado e em queda.
O homem se debate diante de algo muito maior e está condenado a derrota e a este "estar-se condenado a derrota" que lhe serve de manto, um manto fino e esburacado, que ele usa para se proteger da tempestade que ele mesmo cria.
Vejo para este drama dois desfechos possíveis:
Ou o homem desaparecerá ou, já que a natureza julga a continuidade da vida pela resistência e persistência, o homem vencerá induzindo a natureza a lhe criar as condições propícias para a felicidade.
Eu aguardo, confortavelmente instalado no meu camarote.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A humanidade como produto da morte

"A morte é a mãe do humano."

Com esta frase, imagino contundente, começo uma reflexão sobre os princípios da humanidade.  Quando digo "humanidade" me refiro a condição de humanos e não ao coletivo de homens. 

A morte é um marco na existência de qualquer ser vivo porém, é vivenciada de acordo com a espécie.
Para uma árvore,  talvez, a morte de outra árvore não signifique nada (parto do princípio não comprovado de que as árvores não sentem). Para algumas espécies de animais a morte de um semelhante pode significar um perigo imediato mas, para o homem ( ah o homem!), para o homem a morte é a corroboração do fato da existência. 

Se o meu "semelhante" morreu "racionalizo" que, já que somos semelhantes e, se ele se encontra num estado diferente do meu, ou seja, morto e, se eu vejo-o morto infiro que estou "vivo" e, consequentemente,  posso vir a morrer.
A partir desta premissa percebo a "minha existência" como indivíduo pois percebo-me semelhante a alguns e diferente de alguns.
Assim nasce a razão e, com a razão o indivíduo.
(Adão, engasgado com a maçã, percebe que ha um Deus e ele.)

Mas, a morte é (ainda) o maior dos mistérios e, o fato de ser um mistério que da ao homem a certeza da própria existência agrega a ela valor. E este valor torna a morte, para o homem, um bem precioso.

O homem cria os ritos fúnebres que tem vários sentidos:
O homem valoriza o cadáver pois este simboliza a existência, visto que é o seu oposto, afirmando-a;
O homem infere que, se há morte há uma causa e, já que ele desconhece a causa, ela é "sobrenatural" portanto, há a possibilidade de ser causada por "alguém" (nascem os Deuses) que pode causar a ele a morte.  O homem procura, então, ganhar a simpatia desses Deuses pois teme a morte;
A morte é a partida e a infinita ausência de alguém que dava ao homem algum alívio e o que sobra deste alguém é a memória que, baseado na ilusão da posse (se me faz bem eu desejo e, se está comigo e, até que uma força muito grande prove o contrário, "É MEU!") ;
O medo da morte é compartilhado com os seus semelhantes tornando-se um "elo" que os une e, os aproxima da igualdade a partir do momento que se percebe a morte como o destino comum a tudo ( a morte nos faz gregários).

Obviamente ha muitos outros bons motivos para que o homem cultue a morte mas prefiro deixar para aqueles que desejarem os listem a título de debate.

Somos humanos porque sabemos a morte e sabemos que somos diferentes dos mortos e tememos a morte porque ela nos limita e esse limite infere algo além.

Tememos e adoramos a morte porque a morte nos infringe o sentido de finitude o que nos faz inferir a infinitude nunca provada.

Amamos a morte porque, ao contrário das outras espécies, ela nos faz vivenciar a existência e nos faz valorizar o fato de existirmos e nos da uma consciência luminosa e estimulante de tudo.

Conheço a morte logo, estou vivo.

sábado, 22 de agosto de 2015

Da falsa liberdade do homem

Todo homem é livre dentro do seu universo, a saber, apenas dentro de si mesmo.
A liberdade externa é, portanto, uma ilusão do ego que crê ser maior que tudo.
Iludido pelos devaneios egoístas o homem procura uma liberdade que cria momentaneamente para si mas, ao acordar do sonho percebe-se desprovido dessa liberdade e a deseja.  Angustiado o homem não percebe que já é livre e não percebe que é um ser que tem a prerrogativa de contemplar o mundo a partir do veículo carneo no qual está encerrado.
Pobre hominídeo que já tem tudo e a tudo o que não tem deseja!
O homem não percebe que tem, dentro de si, um universo infinito a explorar e que, o universo externo é o reflexo do seu universo interno e que ele, o homem,  o cria para referenciar-se.
Não percebe que para entender o mundo basta entender a si mesmo.
"Aquilo que está em cima é igual à aquilo que está embaixo e aquilo que está fora é reflexo perfeito do que está dentro."

Vida e morte

Vivo porque algo morre por mim.
Absorvo outras vidas para a minha manter.
Mas se estou vivo, a vida que absorvi vive,enfim!
Desta forma, nada pode morrer.

Vida e morte são ilusórias,
Ha sim, um "estado de vivência",
Subordinado a consciência,
Com malefícios de mentiras.

Vivenciamos ciclos eternos,
Somos imortal poeira,
Soprada em abissais abismos.

Condenados à existência,
Vivenciando-nos vivos,
Ao perceber a experiência.

Horizontes

A cidade se enfeita com uma fita de fumaça vermelha,
E espera o abraço da noite,
E as lembranças daquilo que já não tenho vem à janela comigo.
Para os saudosos profissionais a noite é uma armadilha,
Que, presos nela, clamam por abrigo.
A noite sempre chega como um longo fechar de pálpebras.
Um sonho vigilante sobre casas absortas,
Que guardam felizes os que não sofrem saudades.
Os que amam amores fáceis,
Feitos de fútil rotina.
Eles tem sorte,
Dormem impossíveis,
E nem imaginam que a noite só termina...quando eu durmo.

Olhos

Aqui chorei minhas perdas,
Testemunhado por passaros passantes e a
Cidade...estática.
A dor estava comigo e dialogamos enquanto ela
Se esvanecia.
A cidade nos olhava, linda, apática.
Algo afirmava que ela nos ouvia,
Eu, a dor e a cidade na madrugada vazia.
Aqui fui assombrado pelo passado que nunca passou.
Eu, o passado e a cidade alheia,
Que dormia respirando carros,
Iluminada por poste e a lua cheia.
Algo me dizia
Que a lua sabia
E segredava os meus segredos aos serenos telhados ébrios de sereno.
Aqui eu venho exorcizar o passado e suas dores.
Venho exercer o remorso por idos amores.
Neste olho da minha casa que me serve de olho,
Presto contas a cidade
Das escolhas que escolho.
Aqui paro para medir a vida que tive,
E meço, ansiado, a que ainda terei,
Vigiado pelos pássaros, e
Pela cidade...que me olha e sorri quando não estou olhando...esperando,
Minhas cinzas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A fonte

Amo-te porque tu és a fonte das certezas do que sou.
Porque tu me indicas pr'onde vou.
Amo-te porque sois o mundo meu dentro do mundo que me é alheio.
Amo-te porque sei a que veio,
E não temo e, por ti, e sem temor, posso exercer o amor.
Amor que me afirma, amor que a paz tem me dado,
A partir de ti, objeto e objetivo mui amado.

A última definição de amor

Calma!  É a última definição até que a próxima apareça!
"O amor é o desejo por algo que satisfaz ou afirma algo que, em nós, é ambíguo nos trazendo,  desta forma, a paz conosco mesmos. "
Se potencializado,  "o amor é o desejo possessivo pelo objeto que nos apascenta".
E, "o amor é o desejo por algo que nos apascenta ao qual desejamos como destino ser uma obra prima, a nossa obra prima e, desta maneira, desejamos ter absoluto controle sobre a sua existência".
Em última instância amamos aquilo que nos da referências positivas e agradáveis de aspectos íntimos dos quais temos pouco controle e conhecimento.  Aspectos esses que geram, em nos, uma incomoda e constante ansiedade.
Quando nos deparamos com algo ou alguém que traz a possibilidade de conciliação com vários ou todos os aspectos obscuros que nos incomodam tendemos a elevarmos este objeto ao patamar mais alto.  "Endeusamos, santificamos, amamos tal objeto".
Tal mui amado elemento torna-se a nossa âncora, nosso porto seguro, a matriz do nosso amor próprio,  a fonte das referências sobre nós mesmos ou seja, a fonte da nossa segurança e da nossa paz.
Ao encontrarmos tal objeto nos sentimos no paraíso e desejamos que essa sensação se eternize.
As ambiguidades que citei acima e que desejamos que sejam afirmadas são várias, por exemplo;
Sou bom? Sou merecedor de amor?  Sou aceito? Quem sou? O que sou? O que sou sexualmente?  O que sou socialmente?  Sou competente?  Quanto sou com relação aos outros?
Amamos aquilo que nos aproxima da plenitude.
Até aqui tudo bem mas, (e sempre ha um "mas") o mais ambíguo dos aspectos, aquele ao qual temos menos acesso e pelo qual temos mais dúvidas, o "limite", é o aspecto que pode tornar o exercício do amor algo doentio, desconfortável, motivo de sofrimento.
Ao transpor os limites da razoabilidade o amante passa a ver o amado como objeto de seu domínio e passível de lhe satisfazer qualquer desejo. A busca pela satisfação via afirmação de certos aspectos é trocada pela busca por prazeres oriundos das camadas mais baixas da psique.
O objeto do nosso amor ae torna o nosso brinquedo.
Deixamos de amar para usar.
Falando exclusivamente em relacionamentos humanos, amar é perceber e cultivar no outro as possibilidades da nossa própria paz. Amar é cultivar o amor no outro.
Amém.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Membrana

Todos nascemos
Do pó viemos
Ao pó retornamos
Morreremos

Mas para cada um
Uma passagem
Uma viagem
Personalizada estadia

Vidas em camadas
Para cada um uma via
Bilhões de estradas
Com cercas de arame

Cada camada uma lei
Um estatuto
Um ditame
Mesmo que alguém nos ame

Estamos sós num reduto
Centro ou periferia
Cada um uma via
E o destino oculto

Haverá sempre muros para lembrar que ha homens diferentes de homens apesar da  humanidade compartilhada.

Ave Darwin!

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Gavetas

Tenho no coração compartimentos,
Quartos vagos,
Decorados com sentimentos,
Alguns habitados.

Sopra neles um vento,
Que evidencia o vazio,
Um vento frio,
O não movimento.

La fora os amores dobram,
Como sinos,
Metálico bronze ao sol,
Algazarra de meninos.

Tanto espaço em mim,
Tanto amor la fora!
Tudo é tanta demora,
Em abrir as janelas.

O amor me faz maior que o universo.

"Eu", o homem puro.

Como seria o homem livre da cultura?  Como seria poder rosnar para alguém que faz menção em roubar a minha comida?  Como é amar instintivamente como um lobo?
Eu repito aquilo que tanto ja se disse;  o homem é impedido de exercer os seus instintos.  O homem é forçado violentamente a não ser um primata hominídeo.  Todo homem adquire essa dor como bônus junto com o conforto que consegue a custa do enclausuramento do seu verdadeiro "eu".
Abram-se às comportas do desespero!  O homem não tem cura (para a felicidade financeira dos pisico-profissionais).
A sociedade humana paga o conforto da cultura com o desconforto social.
A urbe perde o sono tentando manter os seus níveis e respectivos estatutos.
Os níveis perdem o sono tentando galgar degraus sociais e vivem a eterna vigília dos que criam blindagens contra os níveis que consideram "inferiores"
Ser expulso do paraíso é o esporte predileto do homem.
Viver do próprio suor é um prazer orgásmico sadomasoquista.  E o homem se deleita com às segundas feiras.
Para o verdadeiro homem resta o consolo dos esportes, do sexo e dos crimes.
O homem se esconde na mentira de si mesmo.
Cria emoções falsas atrás das quais esconde as verdadeiras.
Para fugir da sua medonha pureza o homem mente.
A cultura é a maquiagem do macaco.
Um brinde aos instintos que moram nos banheiros.

domingo, 16 de agosto de 2015

Frankenstein

Quem sou eu por detrás da máscara?
Me debato entre o que sou
E o que pareço ser.
Me confundo com o que não sou.
Há uma bruma cultural entre mim.
Vivo a procura de um lar.
Meu descanso primordial.
As vezes corro pelas ruas da savana atrás de uma presa
Invisível.
Sem perceber travo os dentes num rosnar
E mostro às minhas garras
Aos inimigos. ..
Que fogem.
Me pego preparando uma tocaia
No trânsito confuso.
Quero copular mas o amor me impede.
Quem é você a quem chamo "eu?
O que seria de mim sem a tecnologia?
Preciso fugir para o céu ou... para um mundo onde o mundo seja um enorme quarto com a porta trancada.

Fim de semana

Preciso do descanso para ser eu.
Preciso fugir do padrão
Exigido pelos dias úteis.
Espero um feriado para
Festejar coisas fúteis.
Padronizar futilidades.
Preciso de férias desse personagem,
Este trabalhador sisudo
Que economiza para uma viagem.
Careço de preguiça ao lado de alguém que calce chinelos,
porque chinelos...
Me humanizam.

A individualização do homem

O produto da evolução humana é a individualização.
A história da raça humana é a história da auto consciência.  O homem se tornou racional a partir do desenvolvimento do interesse por si mesmo.  A cultura nasce da consciência do indivíduo do seu próprio desconforto.  Ao perceber a dor do seu desconforto o indivíduo muda o seu meio adaptando-o a si.
Nesta longa jornada rumo a auto consciência o homem abandona o senso de "manada" e passa a ver a si como objetivo primordial. Esta individualização do homem traz fenômenos bastante interessantes, ao meu ver.
Nas comunicações há a criação de "linguagens particulares" e interpretações do mundo próprias de cada um que cria dificuldades nas relações com o outro.
Nas relações há a procura pelo desenvolvimento próprio a partir do outro.  Procura-se "um grande amor que nos fará felizes" ou "amizades que nos trarão vantagens" ou seja, procura-se a felicidade na felicidade do outro. O outro se torna o responsável pelo nosso sucesso ou, o culpado pelo nosso fracasso.
Paradoxalmente a individualização acaba levando a dependência.  Por exemplo, o cidadão vê o estado como responsável pela sua provisão.  Ve às origens das suas dificuldades ou desconfortos na gerência do estado.  O outro, seja indivíduo, sejam os governos são vistos como pontes para o desenvolvimento pessoal.
Eu chamaria este momento histórico de "a era do ego".
Um dos subprodutos deste estado de coisas é a solidão. 
Voltado para si o indivíduo perde um pouco do contato com a manada e a natureza o avisa fazendo-o perceber esse distanciamento.
A criação de ferramentas e métodos pessoais de interpretação do mundo também levam a solidão.  A interpretação do mundo de forma individual e egoísta dificulta a comunicação com o outro levando a incompreensão e ao isolamento do homem num mundo cada vez mais seu, apenas seu.
A coesão familiar se dilui gerando um desconforto crescente o que leva os pais a delegarem a educação e, às vezes, a manutenção da família ao estado.
Naturalmente não ha como prever o futuro mas eu imagino um mundo de diálogos vaidosos, um mundo onde o apreço pelo outro será menor e a competição será muito maior.  Imagino um mundo de homens-número onde tudo é estatística.  Um mundo onde haverá amor porém, com infinitas interpretações.
Que os Deuses me façam equivocado.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Religião pra que?

Sempre digo que o homem sofre de infinitude crônica.  Alias, acho que é isso que destaca a espécie humana dos outros animais.
Aqueles que não sofrem de doenças racionais ( os loucos e os bichos) não concebem o tempo. Desconhecem essa aberração que chamam "infinito".
Consciente da infinitude ou da finitude da sua apreensão das coisas o homem anseia.  Sente uma forte e inconsciente saudade da irracionalidade.  O humano é um eterno frustrado por estender a mão para tocar tudo e não encontrar nada.
O homem incerto busca a certeza na metafísica (conceito neoplatônico) e na ciência exatamente nessa ordem.
A metafísica, como o estudo daquilo que se considera sobrenatural, é o caminho mais fácil pois permite o uso de infinitas interpretações.  Para aplacar as dores causadas pelo desconhecido, modernamente as dores psicológicas, o homem usa as religiões, frutos dos delírios metafísicos.
A religião é, basicamente, uma psicologia popular, acessível a qualquer um que decidir segui-la.
Como todo bom lenitivo, a "fé religiosa" age como um narcótico e causa dependência e, aqueles que desejam liderar sabem disso.
Não haveria nada de errado se o homem fosse autônomo com relação às suas crenças mas as sedutoras vantagens em "crer" o levam a uma passiva escravidão e a supressão da sua capacidade criativa, aquilo que é mais forte no "homem da savana".
Eu acuso a religião de encarcerar os instintos escravizando o homem privando-o do seu direito de escolher o seu destino, de criar os seus caminhos e de construir a sua felicidade a partir da harmoniosa relação com a natureza.
A humanidade só alcançará a paz quando cada homem tiver a sua própria religião.

Está fundada a "Associação Universal de Criadores de Deuses".

Jazz

O som embala a preguiça,
E os seus olhos nos meus adormecem.
Estrelas piscam no ritmo
E nos tornamos maestros de estrelas.
Amores amanhecem.
O céu se move como um pêndulo,
Movemos o céu com a rede.
O céu da a sede, de um beijo.
Desejos crescem.
Metais gritam ordens às mãos que correm pelas suas costas.
Nuas!
Mãos enternecem,
Minhas, suas.
E, a ternura, à musica se mistura e,
Nossas vozes afinadas dizem em uníssono. ..
TI AMO!
AMO-TI!
TI AMO!...

Gravadas na memória,
Histórias jamais esquecidas.
Memórias de duas vidas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Os benefícios do amor

O homem se relaciona com o mundo e o percebe ilusoriamente e, a relação do homem com o mundo é permeada pela incerteza.
A incerteza é geradora da procura e a procura incerta leva à angústia.  Na tentativa de aplacar a dor da angústia o homem busca afirmar-se nos vários aspectos da existência.
Esta força em afirmar-se é a potencialização do ato ao seu ponto mais alto.
Ao se relacionar com o outro o homem se depara com a incerteza do ser já que o outro é o seu espelho, aquele que diz quem o outro é. 
Somos porque nos percebemos mas, somos muito mais e somos melhores porque o outro nos diz quem somos. Na verdade nos socializamos  impelidos pela necessidade de saber quem e o que somos e só conseguimos ter uma tênue idéia disso a partir do outro.  O outro é, portanto, muito valioso no processo do conhecimento de si.
Percebendo o valor do outro como referência para o que somos e como apaziguador de nossas angústias tentamos mante-lo conosco; o amamos.
O amor é o ato de relacionar-se no seu auge, na sua máxima potência.  Amamos porque desejamos o outro perto de nós.  Amamos porque precisamos de um espelho que nos torne belos e nos de algo que se aproxime da certeza de sermos.  Amamos porque esperamos que o outro nos de segurança.  O outro, dentro do processo de extraordinário relacionar-se, ou seja, dentro do processo de amar, torna-se um repositório das nossas últimas esperanças.
Naturalmente ha o medo da perda que, positivamente, potencializa os cuidados ou,  negativamente, destrói o amor.
Quando o medo da perda dói de forma insuportável o homem tende a se afastar do objeto do seu amor.  É o princípio da solidão. 
A solidão pode nascer do medo de amar.
O homem, como ja disse antes,  sofre de "infinitude crônica" ou seja,  o homem está condenado a procurar e nunca encontrar.  Ao encontrar o objeto da sua procura o homem passa a procurar algo que referencie esse objeto dando-lhe qualidades e afirmando a sua finalidade.
O amor é, também, a esperança do fim da procura.
Por trás de todo amor ha uma intenção.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Feedback

A nobre arte de querer saber!
Somos mestres,
A praticamos,
Mesmo a custa do sofrer.
Desobedecemos o tempo e,
Voltamos.
Adoecemos por não ver as marcas,
Que deixamos.
Nos referenciamos pelos efeitos,
Procuramos os defeitos,
Que a insistente dor nos
Levaram.
Não queremos a cura.
A doença nos agrada.
Não aceitamos, da paz,
A brandura.
Queremos mais!
E, se o objeto da nossa ânsia faz menção em ir,
O agarramos,  dissimulamos,
Não deixamos fugir.
Discursamos um discurso longo, desusado.
Nos esmeramos no palavreado,
Poetisamos.
Não deixamos a história morrer mesmo,
Sabendo que já é morta.
Mesmo diante da impossibilidade da volta.
Ficamos.
Mesmo náufragos num mar sem ilhas,
Nadamos.
Precisamos ver as nossas pegadas na areia,
Antes que a maré cheia
Nos leve.
Tudo o que o homem constroi é... breve.

Sutil

Hoje estive esparso
Como as nuvens sobre mim.

Não desejei.
Enfim,
Nem percebi a ausência
Dos meus amados desejos.

Passei.
Atravessei o dia como um
Pássaro enorme, lento.
Comi e bebi o vento.

Perdi a necessidade por aí!
Talvez encontre amanhã,
Mas prefiro não encontrar.

Não quis me esforçar,
Na verdade,
Não tive motivo.

Me senti vivo e,
Quer saber?
Sentir-se vivo é um tédio,
Mas um tédio muito bom.

Estive com,
Estive lá,
Bebi água,
Ri.

E o tempo fez de conta que passou.
E o tempo voltou...
Pra tomar café comigo.

domingo, 9 de agosto de 2015

A vigília

Amor, meu grande amor,
Não trabalhe tanto!
Não tente aplacar o pranto,
Este é um mundo de dor.

Amor, eterno amor,
Limite-se a poucos,
Pois apenas os loucos,
Te dão real valor.

Amor, insensato anjo,
Guarda às tuas setas,
De-lhes melhor arranjo.

Amor, criança daninha!
Pare de ter com outros,
Da-me a paz minha.

O amor pertence ao amante.

Arquitetos de um mundo novo

Hoje tive o enorme prazer de conversar com dois jovens, amigos dos meus filhos, no café da manhã.  Gosto de conversar com pessoas cuja diferença de idade com relação a minha seja grande. Em ambos os extremos sempre aprendo muita coisa.
Como sempre acontece quando converso com jovem, fica aparente a forma como vêem a vida como um dilema.
Num mundo artificial e regido por incertezas é praticamente impossível se traçar um caminho sem orientação de alguém.
Ora, não se pode esperar que pais que tenham construido as suas vidas navegando num roda moinho de incertezas possam formar um filho para que a sua vida seja previsível.  Faz-se necessário, desta forma, que o profissional de educação tenha capacidades para tal fim.
Creio que, a maior falha do sistema de ensino comum a maior parte das pessoas seja pautar todo processo educativo no coletivo e não no indivíduo.
Observei nos meus jovens interlocutores que, cada um trazia um conceito de felicidade diferente.  Eu acredito que a felicidade é um estado absolutamente particular de bem aventurança construido num mundo comum a todos ou seja, o meu estado de felicidade é totalmente diferente do estado de felicidade do outro e acontece num mundo que é o mesmo para nos dois. Isto ficou óbvio quando criei propositadamente um modelo de conjunto de procedimentos para a felicidade que foi aceito de forma emocionada por um dos garotos e de forma indiferente pelo outro. Isso mostra que o professor deve ter a capacidade de direcionar o jovem de maneira "personalizada".
Dirão muitos que "não é papel do professor educar mas sim, ensinar". Essa visão rígida dos processos educativos é a causa dos tristes destinos de alguns alunos e, sem dúvidas,  é uma visão contraditória. 
Creio ser impossível a um professor não se ligar emocionalmente aos seus alunos e que, mais impossível ainda, não os influenciar de forma positiva ou negativa (Saudades da minha Santa Dona Toninha que me fez o leitor e eterno estudante que sou). Cabe aqui uma "humanização" do sistema de ensino que de ao aluno às bases para a construção da sua felicidade emocional, social e profissional individualmente.
Espero, ansioso, a volta dos peripatéticos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A esfinge

Não posso ser o que sou,
Pois, se o fosse feio seria
E parada não teria,
Não saberia por onde vou.

Sou um abismo enfim,
Tenho em mim tesouros,
Vis e santos ouros,
Feitos todos de mim.

Sou a palavra indizível,
O termo nunca usado,
O dito jamais ousado,
O ato in exequível.

E tenho de mim tanto,
Que de mim estou farto,
A fugir-me sem rumo eu parto,
E me encontro em todo canto.

Quero contar-me ao mundo,
Tamanho e atroz segredo,
Mas do mundo tenho medo,
E ao mundo não me conto.

Escondo-me na minha sombra,
Mostro-me como não sou,
Sou a verdade da mentira,
Aquilo que se eternizou,
Sob as areias do Egito.

Ao meu querido e amado Id.
"Só nós sabemos. "

Finalidade

Sou...
A alegria em alguns,
Para outros a sorte,
Para tantos, aporte,
Amores comuns.

Para alguns inexisto,
Sou como transparente,
Sou aquilo ausente
E na ausência insisto.

Para poucos sou a dor
De um grande amor perdido,
Este, um eterno amor.

Para estes serei eterno,
A custa do amor banido
Serei perene sol de inverno.

Aos amores que nunca saberei.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A arte suicida dos jovens

Ontem vi um grafite que tinha como tema o hip hop e esportes radicais e tive uma "visão"! Na verdade, uma visão de mim mesmo quando jovem.  Revi a minha rebeldia contra aquilo com o qual não concordava e que, de alguma forma, limitava ou impedia a minha liberdade.
Percebi então que, a angústia nasce na adolescência quando às nossas necessidades não naturais, aquelas impostas pelo meio, nos assolam.
Até os nove anos vivi uma vida praticamente instintiva. Me limitavam apenas os limites colocados pelos meus pais. Viver consistia em satisfazer as mais básicas necessidades e ao delicioso "desbravamento do mundo selvagem" ( selvagem para mim). No dia do meu aniversário de nove anos descobri a libido, ou tornei consciente dela, ao ver as pernas morenas de uma amiguinha da mesma idade. Descobri a paixão. 
Descobri também que, para garantir a posse do meu objeto da paixão eu deveria "ser melhor", precisaria me destacar, precisaria competir e descobri que, ao contrário do que acontece nas sociedades naturais onde adornos,  danças e demonstrações de força eram o suficiente, eu teria que "ter". A sociedade em que eu vivia me impunha como condição para o sucesso reprodutivo a interferência no meio ou seja, a "criação da cultura".
A cada intervenção minha eu satisfazia uma necessidade e criava varias outras me levando à angústia da incerteza e a constante procura do sentido de tudo.
Tudo isso me levou a entrar em contato com a "pressão do tempo" que me lembrava da finitude da vida e gerou em mim uma premente "pressa em viver" que me deu como fruto a "ansiedade". Em função disso desenvolvi a necessidade da fuga dessa ansiedade a "qualquer custo" e conheci a arte como "válvula de escape".  Creio que esse "a qualquer custo" seja o componente gerador das atitudes radicais dos jovens.
Ao longo da vida o mundo, em decorrencia da sua infinita magnitude, "dobra o homem" e ele se aproxima da aceitação da sua submissão. Este "submeter-se" é a incruzilhada que leva o homem a felicidade ou a infelicidade, ambas relativas.
O adolescente da sociedade capitalista vive um salto de para quedas até a maturidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A ilusão da verdade

Para o homem a verdade é substância, é corpórea, personificada. Mas a verdade não existe.  A verdade é uma ilusão conveniente.  A verdade é fruto do indivíduo, é dependente do ato de conceituar o mundo de forma egoísta.  A prova disto é a dependência do outro. O homem sozinho é incapaz de alcançar a verdade e, mesmo fingindo conhecer a paz, é vítima da dúvida.  Diz-se o homem medida do mundo mas, como pode uma medida não conhecer a própria capacidade de medição?
Todo homem sofre de incerteza crônica.  A incerteza, mãe de todos os medos, nos impele.  Seria um exercício penoso de humildade aceitar o jugo do universo e admitir-se pequeno para esse oceano de vaidades que é o homem.  É menos doloroso alimentar a mentira e personificar-se como eterna vítima de tudo.
Pobre cego que não percebe que é vítima porque luta contra algo infinitamente maior que ele.
Pobre daquele que não afirma a sua participação na construção da própria dor e continua a culpar o externo, aquilo que não está em si próprio.
Infeliz o filho da natureza que não ouve o chamado da mãe e cala os seus instintos.
O que posso fazer é rir da minha raça ao som do eco da voz de Nietzsche, "A verdade é a mentira e a mentira é a verdade. "

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O manual do proprietário

É preciso que o homem aceite o mundo para que ele se torne real.

Ha o mundo e o homem. O mundo é a rocha auto suficiente, inalterável pelas mãos do homem.
Incapaz de alterar o mundo o homem o idealiza e cria, desta forma,  um mundo adaptado a si, mundo este que fica guardado em sua mente e serve de substrato para a elaboração da sua existência.
Tem-se desta forma dois mundos; o mundo real e independente do homem e o mundo do homem dependente da plasticidade do mundo, plasticidade esta que, não existe.
Ao se confrontarem esses dois mundos se conflitam, colidem de frente e nunca se harmonizam.
Sem limites para a sua imaginação o homem, de maneira egoísta, continua a criar o seu mundo ilusório afastando-se cada vez mais da realidade.
O mundo fica e o homem passa como tudo o que compõe o mundo.
A criação do mundo pelo homem se da pela força das suas necessidades.  Baseado nelas ele tenta impor o seu modelo de mundo ao mundo real. Ora, é óbvio que o mundo real é infinitamente maior que o homem e o subjuga.  Fracassando copiosamente o homem se esconde cada vez mais na ilusão e se angustia.  Esse é o princípio da dor.
Interessante notar que; quanto maior a distância entre homens e natureza maior é a ilusão.  Observo também que a inocência, este atributo tão doce, é característica marcante naqueles que estão mais cônscios do mundo real.
O homem que supera a ilusão percebe a grandeza e a infinita beleza do mundo e percebe, também, a absoluta impossibilidade de alterar os acontecimentos porém, reconhece o seu poder sobre o seu próprio destino.
O homem é o animal que sonha o mundo.

sábado, 1 de agosto de 2015

O Apocalipse segundo São Silas

Todo homem tem em si um inconfessável desejo pela catástrofe.
Todo homem deseja uma tempestade que o impeça de ir ao trabalho ou um grande acontecimento que lhe traga novidades pré digeridas ou mais cinco minutos de sono, ou melhor; todo homem que não seja uma criança feliz ou um louco.
O homem é um descontente dissimulado que "finge que está tudo bem".
O homem é o único animal que procura a felicidade.  Para às outras espécies já há.
O Apocalipse é um livro mau interpretado.  Ao invés de fatalista e catastrófico o Apocalipse da ao homem a solução final, o fim das dores, o sono eterno ou a bem aventurança eterna, que são a mesma coisa.
É interessante notar que todo movimento da sociedade se baseia neste descontentamento.  Há sempre alívio sendo oferecido pelo melhor preço do mercado e ha sempre uma procura maior.
Ha sempre movimento. O homem sofre ao parar porque parado ele tende a se confrontar com a sua própria pequenez alias, criada por ele.
Se cansado pelo movimento o homem procura a cessação aliada a tão sonhada paz eterna e então, almeja o fim nas suas mais variadas formas.
Assim falaria Zaratustra.