terça-feira, 30 de junho de 2015

Quem?

Quem me ama levanta a mão!
Brincadeira de salão!
Quem me ama levanta a mão!
...ou não.
E esconde no coração,
Um amor de surpresa,
A me dar em aniversário,
Páscoa,  natal. ..
Ou no dia em que não haverá mal.
Quem me ama olha p'ra mim!
Discreto amor, assim.
Quem me ama pega a minha mão!
Quem me ama me da uma estrela. ..Não!
O firmamento!
Quem me ama levanta a mão,
E olha pra mim por um momento. ...
Eterno.

Júpiter

Eu e a fumaça,
Luzes da cidade e eu,
A vida que passa,
Eterna, expandindo.

Vozes a minha volta,
Paredes que me seguram,
As nuvens me escondem,
Das estrelas.

Amores, milhares deles,
Amores me seguram,
Vivo por eles,
Amores me expandem.
Passam eternos,
E me escondem
Das dores.

Fumaça e luzes,
Vozes familiares,
Vou a tantos lugares!
Sem sair daqui.

Sou um planeta joviano.

domingo, 28 de junho de 2015

Atemporal

Amanhã é segunda feira.
To nem ai!
Já não tenho idade pra essa besteira. ..
De não gostar de segunda feira.
De tanta segunda feira
Aprendi a gostar,  aliás,
Fui forçado,
A su-por-tar.
É como ser forçado a casar,
E casar com moça feia.
A gente casa a contragosto,
Tolera, aguenta, acaba amando.
Um dia, com 50, a gente acorda amando a moça feia
E a segunda feia...quer dizer. ..feira.
Um dia,
Depois de desgostar muuuiito e por muuuiito tempo da segunda feira. ...
A gente acorda feliz.

Miragem

Tenho sede, 
E a minha frente há, 
Uma correnteza,
Mas eu não vejo.
Ha, em todo lugar,
Beleza, 
Que eu antevejo
Por um buraco de fechadura. 
Ha, em tudo, ternura,Percebo aspereza.
Onde estou há luz,
Mas o olho cria a sombra
O nome da felicidade é percepção, 
Da alma livre.
A felicidade está na distração, 
O momento inconsciente,Prenúncio do acidente.Felicidade é a contemplação, 
Sem o intelecto. 
Felizes plenos????
Só as crianças,  os loucos
E os mortos......

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O chá

Entre eu e o mundo,
Minha xícara de chá,
Quente que me aquece.

Atrás da xícara de chá
Ha um céu estrelado,
Por janela emoldurado.

As luzes da cidade mergulhadas,
No doce vapor,
Eu, o chá e o amor.

Preferido assunto,
Eu, o chá e o mundo,
E todas às lembranças que há.

O universo cabe numa xícara,
Alguem mais ousado dirá,
Cabe numa xícara de chá...

Eu e uma xícara de chá,
Perdido entre lembranças,
A alta noite,
Olhando pela janela,
A cidade envolta em julho.

Narciso

Eu, eu alguém,
A mim, amém.
Eu, somente a mim,
Eu, sim.
Eu, tudo meu,
Eu melhor que eu,
Eu, enfim,
Imensidão de mim,
Eu senti,
Eu sofri,
Só eu sei,
Eu amei,
Eu, infinito de mim.
Eu mereço todo apreço,
Só eu sou,
Nada dou,
Tudo é meu,
Nada seu.
Eu existo. ..
Só eu.

A todo humano.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ignaro

Eu nunca saberei.
Constatação fria e triste,
Pois tudo o que existe
Me é empurrado goela abaixo.
Não posso saber.
Em nada me encaixo.
Sou gota de azeite
Num aquático oceano.
Tudo me é estranho.
Nada me é permitido.
Apenas flutuo, navego,
Puxam-me vagas e correntezas,
Eu cego, dono de certezas.
O certo escraviza.
Felizes os loucos e inseguros,
Doces são os benefícios da dúvida.
A felicidade é dos elementares, simplórios.
Ai de nós de intelecto vaidosos!
Fadados estamos a roer
Nossos próprios ossos...
Em vida.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Deserção

Hoje eu fugi pela porta dos fundos.
Abandonei mundos para viver mundo.
Abdiquei a rasos para o mergulho profundo. ..
Em mim.
Deixei para trás a guerra,
Vivida pelos homens vazios.
Vasos de culpa, remorsos.
Ossos sepultos na terra. ..
De ninguém.
Vidas vividas aquém.
Vidas mórbidas. ..
Apesar. .. do pesar.
Tristes lamentos vaidosos
Vão distantes ficando...
E eu, em movimento. ..
Indo.
Não levo bagagem,
Apenas aquilo que amo.
Não é uma viagem.
Subterfúgio. ..
Eu fugi de madrugada,
Quando todos os que não
Creram na minha coragem
Em me despir....
Dormiam.
O sono é o nada.
Hoje eu fugi pela porta dos fundos. ...
Com a minha amada.

Isolado

Sou apenas eu.
Sou apenas um.
Nada está em mim.
Tudo é meu...
Pela janela dos olhos.
Só a alma vê.
O ser antevê.
Nada muda por mim.
Eu não sou o caminho.
Sou rochedo.
Assim. ...
Não sou o agente. ..
De nada.
Não tenho o ônus. ..
Da estada.
Sou apenas eu.
Sou vítima da minha. ..
Permissividade.
Sou réu do destino. ..
Que me condena a ele,
Porque. ..
Ninguém mais me condena.
Não mudo nada.
Não faço a obra.
Não tenha pena!
Sou apenas eu;
"Um rapaz latino americano,
Sem dinheiro no banco,
E vindo do interior de si. "
Lamento. ...
Eu não tenho culpa.

*Participações especiais;

Belchior e uma garrafa de vodka.

domingo, 21 de junho de 2015

O pássaro

A tarde cai amarela,
E no peitoral da janela,
Pousa um pássaro.
É sempre o mesmo,
Toda tarde me visita,
Voa, voa, exita,
Acaba sempre pousando,
Com seu canto, chamando;
"Sou saudade".
Me debruço na janela,
Vendo o sol se pondo,
E vejo o meu passado,
Como pássaros voando,
Lindos para os olhos,
Inacessíveis às mãos,
Sombras voadoras do
Que não terminei.
Tudo aquilo que deixei,
Por vontade ou não.
Carrego em mim o grande
Peso do que já não é meu.
Voa pra longe pássaro!
Va pousar em outra memória,
E leva aquilo que é teu.

A pedra

Que inveja de ti rochedo,
Que aos dias não conta,
Ès ao tempo afronta,
Desconheces de todo o medo.
Não amas e não sois amado,
P'ra nada tens segredo,
No tempo/espaço parado.
Que inveja de ti rochedo.
Do homem não tens a maldade,
De tudo nada lhe importa,
De amores não tens saudade,
Em ti a saudade é morta.
Que inveja de ti rochedo!

Devir

Alguma coisa nova vem ai!
Ha sempre a novidade.
Uma nova tentativa.
Algo pra deixar saudade.
Ha sempre uma nova espera.
Esperança que se renova.
Eterna ansiedade,
Infinita quimera.
O olho atento, procura.
O ouvindo curioso, escuta.
Incomoda necessidade,
Por notícia vindoura.
Notícia que nunca chega.
Ha o tempo que passa.
A vida passa.
A espera continua.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Musgo

Verde,
Que se espalha,
Tapete, malha.
Ver-te, sobre solo,
Ver o solo verde.
Verde ligado ao sol,
Por raios ligado.
Ver-te sobre o solo,
Molhado.
Ver o sol nas gotas refletido,
Sol verde.
Ver-te me alegra.

Futuro

Hoje foi um dia triste.
Amanhã será outro. ..
Dia.
Hoje foi um dia negro.
Amanhã será outro. ..
Dia.
Hoje o dia amanheceu frio.
Amanhã será outro.
Frio.
Amanhã será um novo dia.
Hoje, velho.
Hoje eu amanheci mais velho.
Amanhã serei outro.
Homem.
Ao futuro, adeus pertence.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Ébrio

Da janela da minha casa,
Da janela da minha vida,
Pela janela da minha alma,
Eu vejo as luzes da cidade,
A chuva acalma mas a alma,
Clama.
As luzes são os fantasmas do passado,
Eu passei por lá,
Por lá deixei "alguens",
Molharam o meu caminho com lagrimas.
Ouço soluços nos trovões,
A alma clama.
Sinto o cheiro de terra
Molhada e da saudade
Que causei.
O vento me esbofeteia,
Me admoesta por tudo.
Maldita memória!
Porque não me abandona?
A alma clama.
Me lembro do que posso ter perdido.
Perdi?
Nunca saberei.
A chuva me molha. ..
Ou serão as lágrimas eternas?
A alma...
Clama.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Inerte

As vezes não me inspiro.
Fico em branco.
Sem palavras.
Silêncio franco.
As vezes sinto o giro,
Gira mundo aos meus pés.
Sem palavras,
Ando pelo convés,
Ando pelo navio,
Me guio por uma bússola louca,
E a voz rouca do vento nas
Velas me diz...
Palavras de vento,
E voa, voa,
P'ra bem longe dos meus ouvidos,
Que, aturdidos procuram
Palavras num mar branco,
Sem palavras.
As vezes não me inspiro,
Apenas sinto o giro,
Dos meus pés ao redor do
Mundo dentro de mim,
Sem palavras.
Branco, giro em silêncio.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Concepção

O que eu sei,
E o que nunca saberei.
A fronteira.
Abismo, beira.
A vontade do vôo,
De asas simbólicas,
Vertigem.
Grilhões do que não sei,
Asas do que  sei,
A vida vista,
Grade de gaiola,
Pássaro de uma asa
Sonhando com outra.
O que eu sei me serve?
Assim um pasto me bastaria.
Um pastor me tangeria.
Bípede quadrúpede.
Pão e agua.
Sono e vigília.
Eu, uma ilha,
Mas ninguém me disse.
Aprendo sozinho.
A beira do abismo canto.
Eu passarinho.
Alguma coisa eu não concebo.
Eu não.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Sombras

Escuro, escuridão,
Cheiro de terra,
Chão,
Gosto de barro,
Barro nas mãos,
Escuro,  escuridão.
Vento, ventania,
Cheiro de chuva,
Maresia,
E aquilo que serei um dia.
Escuro, escuridão,
Luz da lua, lua cheia,
Meia noite,  noite e meia,
Luz e solidão,
Eu andando, sozinho,
Sem destino, só caminho.
Escuro, escuridão,
Eu obscuro,  a procura de mim,
Sempre e sem fim,
Fugindo do espelho,
Fuga do que já fui.
Escuro,  escuridão,
Substrato solidão,
Eu ventando no chão,
E chovendo,  chovendo. ..

À dor, in memoriam .

domingo, 14 de junho de 2015

O velho

Um dia, de madrugada,
Enquanto eu caminhava,
Vi, sob uma porta, sentado,
Alguem que, curioso, me olhava.
Era figura estranha,
Cinza, encarquilhada,
Ele, da porta me olhando,
Medindo minha passada.
Era um velho, eu nem tanto.
Mundos ímpares, diferentes,
Eu com meus afazeres,
Ele com afazeres ausentes.
Decerto de mim pensava,
Porque o andar apressado,
Se a vida já é escrita,
Já é o destino traçado?
Por mais que se corra na vida,
Pela morte se é alcançado.
Eu por ele cismava:
Pobre velho acanhado,
Não quer poder de investida,
Não ve sentido na vida,
Ali na porta sentado.
Continuei a minha caminha,
Pressa cotidiana.
Ficou lá o velho sentado
Na soleira da cabana.
Ele, pensado por mim,
Eu, por ele pensado.
Passou por mim o tempo..
E, um dia, de madrugada,
Não tendo afazeres nada,
Sentei-me a tomar a fresca,
Aos pés da porta minha,
E eis que, apressada,  lá vinha,
Uma estranha criatura. ....
Era eu!

sábado, 13 de junho de 2015

Ladrão

Onde se foi o poema
Que criei eu acordado?
Depois da noite dormida,
Da memória foi roubado.
Onde está a palavra
Que agora eu teria dito?
O esquecimento  se agrava,
O vocabulário é restrito.
Quem de noite me assombra,
Entra sorrateiro em meu quarto,
Surrupia de mim a rima,
Faz-me acordar estupefato?
Quem a memória esvazia,
Durante o meu descanso?
Me faz procurar todavia,
De tanto procurar me canso.
Qual é a palavra que rima com.......

Neto

Tu, que nasceste das entranhas de quem veio
Das minhas entranhas!
Óh tu.
Ou me redimes,
Ou apanhas!

(Você mesmo amado kairo.)

Poeta

Todo poeta é sereno,
Da vida conhece o chão.
Todo poeta que existe,
É palavra e solidão.

Nenhum poeta ama,
Sabe que o amor não existe,
Todo poeta clama,
Todo poeta é triste.

Todo poeta é signo,
Nem só de palavra é feito,
Todo poeta é menino,
Nascido não do útero,
Do peito.

Todo poeta é alheio.
Valente, amigo da dor.
Sabe a que a vida veio.
Vai onde ela for.

Todo poeta é vagabundo,
Nenhum é deste mundo...
Nenhum.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Arquivos

Para onde vão os amores,
Aqueles que vivi?
Frutos de dissabores,
Já não os sinto aqui,
Neste peito tão amplo,
Vazio.
Coração de inverno,
Tempos de estio.
Onde se guardam todas as juras,
Promessas?
O que era eterno,
Se era?
O que ainda espera?
Em que estarão, às palavras,
Impressas?
Madeira ou pedra?
Qual vaso guarda as lágrimas?
Ou terão se convertido em vapor?
Serão nuvem agora?
A chuva é feita de amor?
E as palavras não ditas depois do adeus?
Porque ainda ecoam la fora?
Onde ficaram os olhos meus?
Depois que os seus se foram?
Sobraram apenas as canções,
Melodiosas lembranças.
Restam apenas as sensações de obras
Interminadas.
Saudosas esperanças.
Rimas inglórias.
Angústias.
Gavetas.

Pórtico

Vida, doce vida,
Vida amarga,
Instável via.
Brisa que torna-se tempestade,
Mar de brevidade.
Nada é igual.
Encanto e decepção.
Torvelinho, turbilhão.
Oasis de águas salobras.
Sal da vida.
Vida, doce vida,
Vida amarga.
Acido, alcalino.
Via dos sabores,
Trilhas para as dores.
Cheiros e perfumes.
Odores.
Amores e memórias.
Heroísmos e glórias.
Derrotas e saudades.
A parede e a porta.
O medo,
A dor,
O dedo,
Na maçaneta.
A vida nasce e é morta.
Mar de brevidades.
Breves maresias.
À mão pertence a chave.
Saudades dos meus dias.

Exorcismo

Destino, destino!
Porque não me reponde?
Onde o destino se esconde?
Destino o que de ti é feito?
Responda-me atroz espírito!
Da-me um sinal a teu respeito.
Diga-me, ó terrivel fantasma,
O que de mim é feito?
Porque tudo me abisma,
Se tu já estiveste traçado?
E fosse tudo previsível,
Porque recorro ao passado,
E temo, eu, o futuro?
Porque sois tão obscuro,
E não vives em mim o presente? 
Porque, pasmo percorro a vida?
Persigo eu a sorte
Temeroso dos dias
Antevendo a morte,
Pois não te encontro, destino.
Destino, terrível assombração,
Desde menino persigo-te
Em terrível solidão.
Tu és mentira destino,
Tu estás morto,
Amarga ilusão.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Edifício

O erro é a substância.
A argila do mundo.
Amálgama de discordâncias.
Fruto de insistências.
O mundo é o fato,
Mas,
O fato que faço.
Existir é conflitar-se.
{A guerra dos mundos. }
O fato que crio,
Dentro do fato que sou.
Eu faço,
Eu creio,
Eu vou.
O mundo fica,
Eu passo.
Palavra que se rebela na frase,
A discordar do sentido.
Rota de colisão.
Consumo,
Sou consumido.
Me dissolvo.
O machado de Deus é o não.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Mea culpa

Não ha nada a não ser,
O que faço.
Não ha o caminho sem o meu passo.

Sou agente de toda dor,
Do sofrer o criador.

A vida não me é dada.
Sempre foi minha.
Fora de mim, o nada.

Contemplo o tempo,
A ele sou sensível,
Somente a ele.
Previsível.

Eu e o tempo nos sentimos.
Nos comunicamos,
Eu com a pele,
Com engrenagens, ele.

Eu criei o tempo.
Lhe soprei as narinas.
Criei-lhe um templo em
Minhas entranhas.

Sou autor do espaço,
De todas as fronteiras,
Com os olhos eu às meço,

Sou culpado de mim,
Sou de mim réu confesso,
A ninguém jamais delego,
Do meu destino as bandeiras.

Mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Eu/Outro

Eu e o mundo somos.
Eu puro, o mundo amálgama.
Nos misturamos,
Luta por dominância,
Desigual estratagema.
Somos senhor e escravo,
Sempre ao mesmo tempo,
Ambos equilibrados
Na egoísta vontade,
De vindouro agravo.
Sou antipático ao mundo,
E ele de mim não gosta,
Muda-me como resposta,
Quer-me seu oriundo.
-Não serei seu, mundo ingrato!-
Não serás dono de mim.
Te dominarei um dia, de fato,
Domando-me por fim.
Quanto eu sou eu e,
Quanto sou mundo?

Levitação

Sofro da mesma síndrome Drumommdiana.
Aquela....
De contemplar tudo,
A vida como aquarela.
Arte mundana,
Olhar agudo,
Imagem dinâmica.
Sofro de Mineirismos,
Achaques de fogão a lenha,
Síndrome solitária de seres sós.
Eu vestido de nós.
Bosque de formas onde
O olho se embrenha,
Arrastando consigo
O coração.
Um oceano de tudo,
Onde olho mudo...
Vagabundo,
...ou não.

Basico

Um pouco de tudo,
De tudo,
Um pouco só,
Alguma coisa nada,
Só uma estrada,
Só,
Um pouco mais de mim,
Só o que as coisas precisam,
Nada mais....
Apenas a satisfação,
Eu contente e contido em mim.
Eu apenas,
Eu e as coisas de que preciso.
Pão e agua.
Fogo e ar,
E a terra, e pés.
Um pouco de tudo,
Tudo,
Nada do que não preciso.
Nada.
Um pouco só, da solidão,
E de mim....
Imensidão!

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Humano

É difícil ser homem,
E olhar nos olhos antevendo a dor.
Essa coisa que da na gente,
Que não deixa seguir em frente.
Isso que trava a gente ao ver noutros olhos, o pavor.
É como se o ato contra o outro fosse contra nós mesmos.
Como se a lagrima fosse nossa.
Damos a isso o nome de amor,
Disfarçando uma fraqueza.
Coragem escassa,
Ou clara incerteza.
Como viverei após isso?
Miserável animal é o homem,
Fadado a um viver incerto,
A não saber ao certo,
A não saber quem é.
Piedade.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Processo

Sou uma máquina de envelhecer coisas.
Tudo o que passa por mim e usado,
Entra em decadência,
Perde a urgência,
Deixa de ser desejado.
Sinto saudades do que não tenho,
E do que tenho não me lembro.
Tudo o que não tenho é sonho,
Cuja aquisição celebro,
E relego ao tempo passado.
Estou só de passagem,
Passando pelas coisas.
Pouca é a bagagem,
Que vou largando pelo caminho.
Vou envelhecendo devagar,
Tão devagar que nem percebo . ....

....esperar é o grande mal...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Duocordio

Eu..
Lua...
Ela...
Poesia. ..
Eu...
Céu. ..
Alegria. ..
Dela....
Olhos....
Meus...
Olhos....
Eu...
Ela....
Ela....
Eu....
Dois....
Um.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Inferência

Não é o que sei que me dói,
Nem o que conheço me importa,
Mas ao que o nada reporta,
Raiz da dúvida que corrói.
O que não sei nos armários se esconde,
Ou nas sombras frias do meu quarto.
Vem não se sabe de onde,
Mas está sempre comigo,
Símbolo da morte o perigo,
Medo da solidão de fato,
Motivo da gélida rima,
Ou desesperado vazio.
"Eu acho." E se acho não sei.
Acho pois desconheço origem,
Verdade volátil que inventei,
Estado de inutil fastio,
Incomoda e leve vertigem,
Descontrole do meu incerto mundo.
Eu acho e se acho não sei.
Se não sei não encontro descanso.
Nada me vale o que penso.
Existe a certeza?

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Mirante

Hoje o vento veio me ver.
Frio.
Trouxe com ele velhas e conhecidas nuvens.
Cinzas.
Eu esperei por cinquenta anos.
Ano que vem serão cinquenta e um.
O mesmo vento.
As mesmas nuvens.
Acho que já passei por aqui.
Já não me lembro da saudade do vento.
O gosto do sal mudou.
Já não ha bichos nas nuvens.
Cresci.
Acordei no meio de um inverno.
Esperando flores.
Esperando o frio.
Esperando o calor.
Esperando.
Esperando.
......frio.