terça-feira, 6 de novembro de 2018

A sentença

Não sei o que fiz
Vim pra cá
Preso em uma gaiola
De terra
De carne
De medo de sair

Não sei o que fiz
Mas algo me diz
Que foi grave
Os Deuses me abandonaram
A minha própria
Sorte
Madrasta

É uma prisão Sui generis
Não posso sair
Tenho medo de sair
Até gosto, às vezes
Não me lembro quem sou
Não sei o que virá
Só sei que estou preso
E colocaram, em mim
O infinito para me dizer

Estou preso aqui
E há tanto amor lá fora
E tanto alguém para amar
Sou torturado por isso
Pelo desejo de um amor
Satisfatório
Ou um fim

Nas paredes risco os dias
Sei quantos são
E, por não saber
O que está lá fora,
São poucos aos meus olhos

Construo bonecos de barro
E finjo que me satisfazem
Crio história diárias
Poemas cotidianos
Doces enganos
Que me entorpecem
Enquanto espero

A única lembrança
Daquilo que sou
O único lapso
A única brisa
O único perfume fantasmagórico
É esse insuportável
(De tão belo)
Céu azul.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Soleira

Pinga chuva
Na pingadeira
Brincadeira de infância
Lava tudo
Tudo leva
Água benta
Abençoada.

Água do céus
Que Deus manda
Forma um véu
Molha a terra
Germina sementes
Tudo erva
Água benta
Abençoando.

Água limpa
Cheiro de chuva
Cai bem
No balanço
A rede
Trás preguiça
E lembrança
Água benta
Me abençoa.

Pinga chuva
Na soleira
Chuva forte
Água limpa
Trás de amores
Boas lembranças
Água benta
Abençoada.