sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Noiva

Amável senhora da-me a tua mão,
E tira de mim a tua ausência,
Apossa-te do meu coração,
Afasta de mim a urgência,
De te-la constante em meus braços,
Faz meus os teus passos,
Da-me de ti a dependência,
De ser feliz a minha vida,
Cria entre nos fortes laços,
Auto nomeia-te querida,
Absoluta dona do destino,
Deste que se faz menino,
Ao te pedir encantado,
Amável senhora da-me a tua mão,
E aceita essa aliança,
Símbolo de eterno amor e promessa,
De interminável fidelidade,
Quero a minha vida contigo,
E contigo a felicidade,
Aceita de mim o pedido,
Por favor. ..
Por amor. ..
Por favor! !!!!
Casa comigo? ???????
Casa?

Requiem

O sol ja não aquece a pele fria,
Nem o olho a sua luz reflete,
Jaz sobre o pó a casca vazia,
Envolta em mortalha, inerte.

Aquilo que é ja foi um dia,
Pai, soldado, irmão e amigo,
Lutou ombro a ombro comigo,
Andou pelos caminhos por onde eu ia.

Jaz agora pranteado,
Pelos poucos bem-querentes,
Pelos poucos é lembrado,
Por andar entre as gentes.

Ficam as lembranças de batalhas,
Muitas delas vencidas,
Poucos erros, poucas falhas,
A vida por outras vidas.

O sol ja não aquece a pele fria,
E agora é dos santos a amizade,
A nos vivos só resta o pranto,
E as dores da saudade,
De quem já riu conosco um dia.

Segue agora pra outras terras,
Deixe aqui as tuas lembranças,
Da obra que agora encerras,
E do reencontro  esperanças .

Descanse em paz.

Ao amigo Cláudio.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Tribal

Soam tambores de guerra,
E a voz do sangue ecoa no homem.
Ancestrais forças vindas da terra,
Ditam os deveres que o consomem.
No ímpeto em proteger o que lhe é dado,
E por guardião tendo-se feito,
Faz-se finado antes que entregue,
Da natureza o que lhe é confiado.
Soam na noite tambores de guerra,
Dormem crianças e mulheres,
Ha acordado somente o homem,
Guardião de seus amores.
Deve o guerreiro andar com lobos,
Aprender com eles sobre instintos,
Os tribais e eternos verbos,
Emanados de velhos espíritos.
A lamina afiada é  seu instrumento,
A ira sua energia,
O medo a ele teme,
O amor é seu argumento,
Para o ataque impiedoso,
Aos que ao seu sangue atacam,
E se mantém corajoso,
Apesar dos que o cercam.
Nunca temerá a morte,
E nem da ira a chama,
Sera desperto e forte,
Protegendo a quem ama.
Soam tambores de guerra,
Uivam à lua os lobos,
Pisam guerreiros a terra,
Dormem seguras às tribos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Volta

Hoje eu queria um abraço que ganhei a muito tempo atrás.
Alias,
Queria todos,
Um a um,
E todos os beijos apaixonados,
Sem esquecer algum,
E de todos que o primeiro
Fosse o mais demorado, e queria ficar abraçado,
Sentindo o corpo inteiro,
De quem me iniciou no amor.
Não queria. voltar no tempo, ah isso não.
Mas queria que o tempo viesse até a mim,
E falasse comigo sobre aquilo que vivi,
E que ele guardou em algum lugar,
E me desse então,
A chance de reviver o que me deixou assim,
Tão nostálgico das vezes em que me atrevi,
A deixar a felicidade entrar,
Sorrateira, tímida, pedindo licença.
E se tudo isso de uma vez voltasse,
Eu pediria para que a felicidade se sentasse,
Ganharia a sua confiança,
Lhe serviria um café com muito açúcar,
E, deposto todo entrave,
Trancaria a porta e engoliria a chave.

Resolução

A dor da indefinição me leva a porta do abismo,
E, na beirada, me deparo com a imensidão.
É hora de parar de lutar,
A batalha travada contra mim mesmo.
Não cabe mais meio termo entre sim e não.
Ha um espelho flutuando,
Onde o reflexo de mim me é assustador.
Tudo o que sou está ali estampado.
Ha uma sombra de dor,
Para o que será deixado,
E outra sombra de dor para a covardia,
O medo da escolha que protelei até o dia,
Que não poderia mais ser adiado.
É chegada a hora, o fatídico momento,
Em que o grande passo será dado,
Para frente um vôo no escuro,
Do desconfortável desconhecido,
Para trás o retorno a paz do que ja era vivido.
De tudo apenas a cruel certeza,
De que o passo dado em direção ao que me falta,
Por covarde ou corajoso que seja,
Não me da o benefício da volta.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Tablado

A alegria é um momento de vida amplificada.
Um "não sei o que" que da bem no meio do peito.
Um lapso de tempo em que a insegurança não existe.
Um momento em que a palavra vira risada,
E pra tudo ha um jeito,
E o coração insiste,
Em chamar outros pra brincar.
Tudo tende ao riso,
Mesmo aquilo que não tem graça nenhuma,
E a gente não quer parar.
Alegria é a vida de improviso.
Viver o inesperado que se esconde em algum lugar e nos toma de assalto saindo da bruma da esperada surpresa.
A alegria da frio na barriga.
Um medo bom, coisa antiga,
Cultivada por homens amantes da beleza,
E da arte de fazer sorrir a gente.
Quem sabe um dia um bruxo palhaço inventa uma poção, máquina ou encantamento,
Que faça a alegria constante e o riso permanente,
Sem quantia ou momento! !!

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Esconder-se

Ela está atrás das portas das mansões e dos casebres.
Debaixo das camas king ou das enxergas.
Não distingue ricos e pobres.
Um manto negro de abas longas,
Esperando a fatídica hora.
Mas quem a viu até agora?
Quem a desenhou assim?
Porque o medo por essa doce senhora,
Que nos leva a atravessar o mar dos tempos?
Não será ingratidão quando ela diz "descanse" em paz,
E desejamos, e desejamos, e desejamos sempre mais?
Não será ela doce mãe que prepara o filho para um novo dia?
Ela é criança que brinca de esconder e esconde a gente.
E deixa a impressão de trapaça na brincadeira,
Porque pra ela o tempo é inexistente,
E não percebe que a gente mais tempo queria.
E ri, zombeteira,  da lagrima sem sentido que corre,
Quando um filho seu morre, ou se esconde para reaparecer um dia.
Que besteirada!!!
A morte é a mãe,
Bela.........
Que nos prepara para um novo dia na escola,
Que nos mostra a eterna caminhada,
E nos ensina a cautela,
A ser tomada na via,
Que nos leva de volta a ela.
Que papagaiada dessa gente que chora,
Como se o esconder-se de um ente,
Significasse que ele foi-se embora!
E que a mãe,  minha senhora,
Fosse a fonte de todas as angústias.
Não ha fim nem partida.
A morte por homens desenhada não existe.
A morte é a vida que tirou férias! !!!!!!!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Idéia!

Nasce do nada,
Ou melhor,
Nasce de recônditos acontecimentos,
Que eu mau imagino,
Rebelde, arredia,
Tenta fugir a todo momento.
Olho para o lado,
Me distraio e la vai ela se esconder,
Insiste em desaparecer.
Me deixa atordoado,
Atormentado pelo medo,
De perde-la,
E de ser ela encontrada por outro,
Morro de ciumes,
Quisera te-la em um claustro,
Fechada sob meu jugo,
Só isso eu quisera,
Em meu transe febrífugo
Pura utopia,
Sobre ela não tenho,
O poder que queria,
Pois não tenho à ela,
Ela e que a mim,  tem.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Maledicência

Mau que é dito sem a possibilidade
Da defesa do ausente,
Com esforço consciente
Em se diminuir a verdade,
Ou torna-la inexistente
Por absoluta maldade.
É imagem criada e incutida, propositadamente distorcida,
A fim de denegrir a imagem do outro
E ferir a dignidade,
A força da inverdade.
Profunda é a covardia,
Daquele que dela faz uso,
Tornando incerto e confuso
O conceito acerca daquele
Que é vitima da ignomínia,
Pagante de profunda inveja,
Causada pela invídia,
De quem se deprecia.
E o que sobra do maldoso ato,
Todavia gratuito,
É o insidioso fato,
De que aquilo que é dito,
É considerado verídico,
Em detrimento daquele,
A quem o defender-se é negado.

Fome

Eu queria ficar aqui,
Mas algo mais forte me impele,
A procurar em outra pele,
O que agora não ha em mim,
Preciso da vida o sim,
Do dever cumprido o descanso,
Do corpo de alguém o calor,
Redescobrir o amor,
Perdido em ato abrupto.
Preciso do gosto intenso,
De um beijo apaixonado,
Doce, Quente, Eterno,
E a certeza do afeto,
De que merecedor eu seria.
Me levo movido pela ansia,
E ansioso por satisfazer-me,
Arrisco em perder-me,
Na insana aventura,
De em última instância,
Proceder a procura,
Do desconhecido.
E ao encontrar o tesouro,
Então por mim procurado,
Espero ter satisfeito,
Aquilo que tem me movido.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Uma

Eu queria uma palavra,
Que mostrasse ao mundo o que sinto,
Que aquilo que sou expressasse,
Que agregasse valor a minha lavra,
Que medisse o meu esforço,
Em fazer o bem ao outro,
E me desse referências,
E mitigasse o meu remorso,
Em parecer tão pouco,
Tudo aquilo que faço.
Eu queria um signo,
Que tudo significasse,
E que o poder me desse,
De saber se eu basto,
E da paz eu sou digno,
Se o dever eu cumprisse,
Para com quem eu amo.
Queria que houvesse um dia,
Um mecanismo de relojoaria,
Que me desse a medida,
Do amor que ofereço,
E a medida do apreço,
Que eu mereceria,
Para que com justiça,
Por mim fosse cobrado,
E me desse o descanso,
Do dever cumprido,
Então eu dormiria,
O sono dos anjos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Esquina

Talvez ao virar a próxima,
Eu encontre o que quero,
Ou o que preciso,
Ou o que me é dado,
Nem o que preciso ou quero,
Mas não menos por isso,
Por mim não desejado,
Pois aquilo que não espero,
Pode ser de proveito,
Num coração desabitado.
E se, ao virar a próxima,
E olhar direito,
Mas de verdade,
E com muito jeito,
E a despeito da miopia,
De uma vida vazia,
De ausentes amores,
E apesar das mágoas e das dores,
Eu encontrar o amor que eu tanto queria? 
É por isso que eu erro, viro e dobro,
Movido pela esperança,
E desta angústia eu me cobro,
A resolução e confio,
Que ao virar a próxima talvez eu encontre,
Um amor que preencherá,
Esse coração vazio.

Sono

Dores descansem agora,
Retiro-vos o meu peito,
E na solidão do meu leito,
Deixo-vos ir embora.

Para outro mundo eu parto,
Onde tudo é possível,
Escureço o quarto,
Torno em sonho o tangível,
Que era impossível ao tato.

Pesam cansados os olhos,
Abrem-se comportas oníricas,
Onde passagens bucólicas,
Trazem a tona os brilhos,
De mil e uma estrelas,
Na forma constelar de rebanhos.

Deixo-te o dores sozinhas,
Vou procurar de ti descanso,
Descansem também dores minhas,
Procurem também um remanso,
Para que fiquem tão mansas,
Que deixem acordar os amores.

Nuvens

La vem e passa,
Tem a forma disforme,
Inconcreta, inferivel,
Adivinha-se o improvável,
Na portentosa massa,
De algodão doce,
Enorme,
Intangível,
Rápido ela passa,
Dando curta a vida,
Ao bicho adivinhado,
Pelo menino eu,
Languidamente deitado,
Na grama pelo sol aquecida,
Rebelde e só de pirraça,
Preguiçando a vida,
Vendo árvore no que era bicho,
E o azul do céu em um nicho,
No enorme e nubio continente,
Por vapor de água formado,
E não ha homem que não torne criança,
Ao encontrar a lembrança,
Da forma ali formada,
Pelo vento, movimento e imaginação abundante.

Limiar

Ha em tudo um momento,
Um estado suspenso,
O lapso de tempo,
Que precede o ato.

Ha um denso instante,
Que antecede a chegada,
Daquilo que é agora,
E com o adiantar da hora,
Se fará presente,
Trazendo do futuro,
O ato de inferida possibilidade,
Iluminando o escuro,
Expondo a verdade.

Ha em tudo um momento,
Onde o sonho é desfeito,
E vira realidade,
A força da verdade,
Mostrando aquilo,
Que estava escondido,
Trazendo por vezes ao agraciado o júbilo,
Ou a dor ao que foi ferido

Insídia

De todos os atos vis,
Ha o de maior vilania,
Acima de todos, de fato,
O mais vil de todos os atos,
Aquele que tira do outro o amor a vida.
Aquele que causa a ferida,
Que jamais será curada,
Por mais que passe o tempo,
Jamais será esquecida.
De todos os atos vis,
Ha o de maior malefício,
Aquele que traz o indício,
Da confiança perdida,
De todas as dores causadas,
Essa é a dor matriz,
E, uma vez contraida,
Aquele que à carrega,
À carregará por toda vida.
Não há cura para o seu amargor,
Quem a causa não deveria,
Pois amarga o amor,
Que o outro oferecia,
E será amargo toda vez que ofertado,
Será amor desconfiado,
Nunca gerador de harmonia,
Pois aquele que agora o dedica,
Um dia ja foi ferido,
E o desatino que nele fica,
Será eterno todavia.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Instintivo

Já havia antes de mim,
Feito não artificial,
Advento do automatismo,
Evento natural,
Sem emoção ou fatalismo,
De utilidade original,
E sempre foi assim,
Antes de nascer a razão,
Que deu o benefício da escolha,
E o malefício do fim,
Da harmoniosa relação,
Criatura/criador,
E dividiu o amor,
Em dois mundos diferentes,
Anbiguos e divergentes.
Do natural e passivo,
Calmo e harmonioso,
Tornou-se reativo,
Quente e tempestuoso,
E trouxe ao homem a loucura,
De viver duas em uma vida,
E a ilusão de ser ativo,
Desdenhando a ternura,
Daquela que o fez vivo.
Vã ilusão, insana aventura.
Hoje vivo a sagaz procura,
Da ante sala dos dois mundos,
Onde, quem sabe, encontre a desejada harmonia,
Que se perdeu, em verdade, no fatídico dia,
Em que nos apartamos daquela à qual somos oriundos.

Emoção

De repente me pega de chofre,
Premente sensação,
Me vira do avesso.
Eu sou o que sofre
Dela todos os efeitos,
E ninguém nunca saberá,
A intensidade do que passo,
Pois traz ela calmaria,
Ou tempestade a corações aflitos.
Não pode ser manso,
Quem presa dela se torna,
Ou ja foi presa dela um dia.
E quem a controlaria?
Potente e insidiosa,
Finge que se vai e retorna,
Assaltando eficaz o incauto,
Que não a percebeu poderosa,
E perdeu o controle sobre o ato.
La vem ela estimulada,
Por acontecimento ou lembrança,
Geralmente inusitada,
Sem controle ou temperança,
Ninguém controla a reação,
Por mais que seja racional,
Diante do poderoso efeito da emoção.

Liberdade

De tanto perseguir a autonomia,
E desejar a isenção,
Não se percebe a ignomínia,
Da irresponsável ação,
De buscar algo que é,
Mas não é o que parece ser,
E um dia quem procura ha de perceber,
O mal que faz a si mesmo.

Pode-se atingir até,
O desejado intento,
De possuir-se imunidade,
Mas advirá o lamento,
Pois, desconhecendo o que é,
A sonhada independência,
Põem-se diante da cruel realidade,
Do universo de carências,
De quem alcança a liberdade.

Não há independência sem dependência,
Um estranho paradoxo,
Ao tomar da autonomia a ciência,
Percebe-se quão complexo,
É não estar-se ao outro preso,
E sente-se da solidão o peso,
Perde-se de tudo o nexo.

Não há, portanto, liberdade,
Se não se está do outro dependente,
Pois não ha quem se agrade,
Das asas do amor ausente,
E é triste a autonomia,
Sem a insólita e amorosa grade,
Que me nega a alforria,
E me da a liberdade.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Tranquilo

Procuro um amor calmo,
Mas o ha?
Dolorida sempre foi a procura,
Descanso nunca houve,
Sombra nunca existiu,
Apenas o deserto caminhar,
A procura, do amor perfeito,
Gerador de paz,
Que, arredio, se esconde nas dunas escaldantes.
O mesmo sol que queimava as dunas queimava a minha pele sedenta de sombra e carinho,
E eu procurei.
Mas não houve.
Como não houve rima neste poema.
E nunca haverá rima para o poema da procura,
Por um amor calmo e,
Tranquilo.

Estrutura

Ha para tudo uma base,
Um certo arranjo,
Um jeito certo,
Uma forma de realizar o concreto,
Que por absoluto incerto é quase.

A de se juntar as coisas,
Fazer-se pilhas,
Formarem-se ilhas,
Preparar-se o solo,
E gerar as causas,
Do nascer de algo,
Que antes era símbolo.

Tudo tem um esqueleto,
Onde se assenta,
Um alicerce onde se prende.
Uma estrutura formada,
Organizada, criada,
Para que torne existente,
Aquilo a que existir pretende.

Antes da coisa formada,
Formada é a estrutura,
Que dara a coisa idealizada,
A existência futura. 

Locomotiva

O tempo passa por mim,
E eu parado,
Ou eu passo e ele fica?
Passa a locomotiva e ela me indica,
Que eu, poste, estou sim, cravado,
No mesmo lugar e,
A locomotiva a passar.

Mas e se eu estiver sentado,
Confortavelmente alojado,
Numa bela e exclusiva,
Poltrona...
Dentro da locomotiva? !!
Agora é o poste que passa! E eu estou parado,
Na locomotiva que se move,
Em sentido oposto ao poste,
Um para o sul outro para o norte!

Parmenedis e Heráclito lutam no Olimpo,
A milenar batalha,
Enquanto aqui na terra,
Sem o saber o homem erra,
Míope, sua visão falha,
A desdenhar o passar do tempo.

Eu passo e o tempo fica
Ou ele fica e eu passo?
Não importa o juízo que faço,
Tudo se move,
Tudo é parado,
Parmenedis esta certo,
Heráclito não está errado.
O erro é do homem,
Que parado vê o movimento,
E movendo-se vê o parado,
Ve o que fica e o que é passado,
Ao conceber o tempo.

O tempo passa e
Passa o homem,
O homem passa e o tempo fica,
No entanto ambos se consomem,
E ambos se aniquilam,
Numa contenda analítica,
Onde ambas as verdades falam.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Embuste

Na verdade há a mentira perfeita,
Aquela que é afeita,
Ao que possa dar errado,
Pois o feito elaborado,
Nunca à fará mau feita.

Mentira!

Toda mentira é imperfeita,
Nenhuma pode dar certo,
Pois havendo menor suspeita,
Traz o embuste a descoberto,
Portanto é caminho incerto,
Fazer-se uso da mentira.

Mentira!

Não ha esse caminho incerto,
Tão propalado acima,
O que nos aproxima,
Da mais pura das verdades,
Contrariando às possibilidades,
Do insucesso do intento,
A levar-se a contento,
O implemento do engano.

Mentira!

Nunca ha sucesso no engano,
Pois ha sempre a tendência,
De antes de aceita-lo,
Investigar-se a procedência,
E ao perceber-se a artimanha,
Cai por terra o plano.

Verdade......

....Que,

Apesar da impossibilidade aparente,
O insidioso que mente,
Pode obter o sucesso,
Na sua vil empreitada,
Posto que, se acreditada,
E aplicada a anuência,
Do agente crédulo,
A calunia torna a ser verdade,
Ja que a mentira se alimenta da sua credulidade.

Mentira!

Miséria

Todo homem traz em si incubada, a miséria,
Que fica, apesar de dormente, a espreita,
Medindo a resistência do homem e aceita,
Qualquer sinal de fraqueza para instalar-se.
Insidiosa,  tem aliada a potência,
Da sociedade que escolhe,
A quem o benefício gregário é dado,
E a quem, por crueldade fria, é negado.

A miséria acompanha o homem como a morte.
A primeira é sorte,
A segunda destino,
Que sem cerimônia nos leva.
A miséria, nos envolve num assalto repentino,
Alimentando-se da nossa fraqueza.

A dinâmica marca a miséria,
De tão ela elaborada,
Primeiro entristece o homem,
Depois lhe atiça o vício,
E o leva a derrocada,
Destrói-se o humano nela,
Virtudes nela se consomem,
Levadas ao desperdício.

Ha de ser forte aquele que deseja,
Da miséria estar-se afastado,
Terá que ter o cuidado,
De sentir o que quer que seja,
Desde que se tenha julgado,
Valor e procedência,
Do que gera o seu estado,
Pois é a miséria no homem,
Germe atroz incubado.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Casulo

O homem se fecha num mundo,
Só por ele construido,
Uma construção infinda,
Uma nave feita de coisas,
Feita de gente e lugares,
De intenções e desejos,
O homem se fecha em seu mundo,
E navega pela vida.

A naus a franco vento,
Outras estão a deriva,
Às suas velas alçando,
No desesperar da vida.

O homem precisa de paredes,
Precisa de algo que o contenha,
Que o separe de tudo,
E separe tudo de si,
Assim se constroi indivíduo,
E pelo mundo caminha,

Ha fortalezas erguidas,
Por quem tem medo de tudo,
Fechando-se em seu mundo,
Protege-se de feridas,
Amargando o doce da vida.

Ha fortalezas de nuvens,
Paredes feitas de ar,
Feitas por quem tem coragem,
De viver novas paisagens,
Gente que acolhe gente,
Mundo pra todo mundo entrar,
Gente que troca paredes,
Pelo véu do possível amar,

Todo homem tem seu casulo,
Parede, muro, fortaleza,
Que usa como certeza,
De volátil segurança,
Ou ainda de minima esperança,
De realizar o desejo incrédulo,
De um dia pertencer a um grupo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Vida

A vida é o substrato de tudo,
Base da existência,
O nada na sua ausência,
Princípio dos objetivos,
Motivo para que os vivos,
Temam a morte contudo.

De tão preciosa a vida,
Ninguém perde-la deseja,
E mesmo quem a morte almeja,
Recua ante acaso deixa-la,
E mesmo ao determinado suicida,
A existência é bem querida.
Óh vida boa vida,
Lamento o teu mau uso,
De difamar-te me esqueço,
Pois bem sei não mereço,
Teu tamanho benefício,
E por tão feliz repouso,
Em alegria desmedida.

Por tua beleza cativo,
Descubro da felicidade,
Ser a unica verdade,
Que ser feliz é estar vivo.

Ampulheta

Todo mundo deveria poder voltar no tempo uma vez na vida,
E ter uma chance de mudar a sua história,
Mudando do caminho a trajetória,
Partindo de outro ponto de partida.

Toda vida deveria ter dois começos e um fim,
(Fico pensando o que mudaria em mim)
Todo começo deveria ser diferente do outro,
E o segundo deveria trazer do primeiro à lembrança,
E todo homem deveria trazer a  esperança,
De ser da sua vida o árbitro.

Julgando os seus caminhos e
Pensando os seus atos,
Analisando os fatos e
Doando mais carinho,
Buscando o bem do outro,
Apesar do seu próprio,
Deixando a indelével marca
Do bem pelo seu caminho,
Imprimindo em toda memoria,
A imagem de boa gente.

Dizer

Dizer é algo complexo,
É preciso pensar antes de dizer,
E viver o suspense,
Do efeito daquilo que é dito,
Urge que tenha nexo,
E que da palavra pensada,
Se expresse algo bonito,
Que soe a todo ouvido,
Agradável sonoridade.
É preciso dizer a verdade,
E da verdade nascer a esperança,
Que a todo ouvido que alcança,
O teor seja entendido.
Dizer é um ato complexo,
Pois nem tudo é passivel,
Do ponderado dizer .
Ha sempre um mais sensível,
Ao que uma palavra basta,
E nem precisa ser dita,
Mesmo subentendida,
Se torna inteligível.
Pode-se dizer com os olhos,
Olhares verbalizados,
Pode-se dizer com às mãos,
Termos imaginados,
Dizemos muito com a pele,
Linguagem de alcova dito a bem amados,
Corpos significados.
Ditos amorosos,
A linguagem do carinho.
O dizer de quem não é sozinho,
E sabe que é acompanhado,
Pelo dizer não falado,
Da gramatical presença,
Daquela a quem se ama.

Volúpia

Quero do teu corpo o sumo,
Intenso, morno, salgado,
A adoçar a minha boca,
A deixar embriagado,
O animal que em mim acorda,
E procurar na sua pele,
A satisfação dos desejos,
E no calor dos seus beijos,
Aquecer minha alma.
Quero ter em minha boca,
A tua fruta mais doce,
E sentir na minha lingua,
Os tremores do gozo.
Quero beber na tua fonte,
A mais vital e pura agua,
Sentir na minha nuca,
O  toque afetuoso,
E lascivo dos seu dedos,
Me pedindo sem palavras,
Um vôo ao paraiso,
E fazer o que for preciso,
Para diluir os seus medos,
Num arroubo carinhoso,
Sinto as tuas asas se abrirem,
E nos tremores crescentes,
Aflorar-se o momento,
Da exaltação a luxúria,
Dos prazeres ardentes.
E num ultimo e longo suspiro você voa,
E eu vôo contigo,
O meu prazer é o teu,
E o teu é comigo,
E voamos bem alto,
Eu e tu passarinho,
Te acolho em meu peito,
Faço dele o teu ninho,
No meu coração quentinho,
Como tesouro te oculto.
E te amo...
Te amo. ..
Te amo. ..
Te am...
Te a...
.......
.................

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Ócio

Eita preguiça danada,
De sair dessa cama!
Tivesse aqui quem me ama,
Jamais teria acordado.
Deixava meu corpo colado,
Enramado como cipó enrama.

Preguiça é coisa de gente,
Feliz e de bem com a vida,
Que não oferece guarida,
Pra aquilo que é premente,
Premente pra quem tem preguiça,
É o prazer que a preguiça,
Oferece pra gente.

Um bate papo gostoso,
Jogando conversa fora,
Falando amenidades,
A gente esquece à hora,
Que passa despercebida,
Levando adversidades,
Deixando a calmaria,
Necessaria para que o dia,
Seja vivido  agora.

O amanhã ainda não veio,
O ontem ja foi-se embora,
O hoje é o que existe,
E nos traz o devaneio,
Daquele que deita na rede,
E sonha com o agora,
Pois o amanhã ainda não veio,
E o ontem ja foi embora.

Um cafezinho quente,
Muita risada gostosa,
O mundo anda devagar,
À hora passa dengosa,
E a doce malemolência,
Nos traz a sapiência,
Daquilo que é bom pra gente.

Insolúvel

Ha dias que os passos me pesam,
Como se precisasse voltar,
Como se tivesse esquecido algo,
Deixado algo para trás,
Um dever não cumprido,
Um que de obrigação,
Algo não resolvido,
Algo a reparar,
Alguem que deixei chorando,
Algo que fiz e não percebi,
Um lapso, um esquecimento,
Uma palavra que não disse,
A impressão de déjà vu,
Um lugar onde não fui,
Algo que eu não vi,
E nunca mais verei,
Saudade do que não sei,
Coisas inacabadas,
Brigas não terminadas,
Talvez alguem esperando meus olhos tristes,
Esperando o adeus que eu não disse,
Amores que não amei,
E nunca amarei,
Como seria se os tivesse amado?
Ah essa interrogação,
Que me persegue vida a fora!
E se o que sou não tivesse sido?
O que seria de mim então?
E se o que fiz não fosse feito?
Oque teria acontecido?
Que pena não ter percebido!
Ha dias que essa saudade,
Acorda e se move em meu peito,
Doce melancolia,
Inoportuna nostalgia,
Que me faz errar,
Pelo tempo a esmo,
Saudade do que não fui,
Saudade do que não fiz,
Saudade de mim mesmo.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Aliar-se

Quero escrever um poema eterno,
Escrito com todas as palavras,
Tocando todos os sentidos,
Usando todos os contornos,
Exalando todos os odores.
Quero falar de amores,
Por uma mulher vividos,
E como nunca nascidos,
Seus termos sempre modernos,
Falando eternamente,
De tudo o que move a vida,
Do amor que tudo move,
Da paixão sem medida,
E da dor permanente,
Do medo da partida.
Quero um discurso eterno,
Falado com a pele,
Expresso com o som,
Dos seus pés caminhando pela casa.
Vou criar uma ode ao bom,
Ao doce lado da vida,
Que só vivida ao seu lado,
É possível ser vivida.
Vou criar um poema eterno,
Para acamar-te nas brigas,
Tempestades momentâneas,
Em meio a calmaria,
Desse amor grandioso,
De duas almas amigas,
Unidas com a anuência de todos os Deuses.
E que se passem os meses,
Que se escoem os dias.
Quero escrever uma história eterna,
Sem fim e falar do amor
Que tenho,
E da dor que existia,
E que o amor transformou em lenho,
Para aquecer quem sofria.
Quero criar quadrinhas,
Singelas, adolescentes,
Daquelas que tiram das gentes,
Os mais sinceros sorrisos,
Que falam da pura esperança,
De amor correspondido,
E de um futuro que traga,
Apenas boa lembrança,
Do caminho percorrido,
Ao lado de quem eu amo,
E viveu comigo uma saga,
E lutou comigo as batalhas,
Daquilo que não se aliava
Em prol do nosso futuro.
Quero atravessar a vida escrevendo,
Como algo obscuro,
Se tornou um grande amor, que nas dores tornou-se puro,
Água, alimento e guarida,
Reviveu o que estava morrendo,
E falar da fidelidade,
Que aboliu a insegurança,
E nos trouxe o benefício,
De dias longos e mansos,
E ao partirmos que deixe aos outros,
A premente lembrança,
De quem viveu o amor,
E venceu a dor,
Como um casal de gansos.

Modernidade

O moderno é,
O velho futuro,
O brilho antes do escuro,
O agora superado,
Pelo moderno futuro,
O novo ilusório,
O valor do imediato,
Uma afronta à harmonia,
Da sequência o hiato,
Para quem mais queria,
A modernidade do dia.
O moderno só existe agora,
Inexiste na proxima hora,
Trocado por outro moderno,
E assim segue-se ciclo eterno.
Talvez e digo,
"Talvez" um dia,
Possa o homem perceber,
Que o moderno é a seta,
Que o leva a correr,
Indicando a ele,
Um caminho para o nada,
Um fim para uma estrada,
Que nunca foi um caminho.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Vitima

Ha o homem e o meio.
Ha uma relação de domínio,
Do meio sobre o homem,
Que foge ao homem,
A sua sapiência,
É para o homem demonio,
Causador da indolência,
Da sensual procura,
E dela o homem foge,
E aos Deuses pede clemência,
Temendo a própria loucura. Pobre homem!
Não sabe,
Que é tudo da natureza,
Que tudo é feito pra ele, 
Presente de mãe para filho,
Agrado infindo,
Absoluto,
Raiz de toda beleza,
Que nela não ha pecado,
Pai de toda angústia,
Pelo homem inventado,
Bicho tinhoso, astuto,
Sombra que sempre acompanha,
Sem trégua ou anistia. 
Pura é, do homem, a ilusão
Por ele mesmo criado,
Não há culpa nesse chão,
À eras pelo humano pisado.
Levanta-te fruto da natureza,
Assume de vez teu esteio,
Arranca de ti toda culpa,
Pois tu és vítima do meio.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Chuva

A chuva cai,
De pedra,
Sobre a pedra e a molha,
O homem feito de terra,
Sobre a terra se ajoelha,
E pede aos Deuses mais chuva,
E pede pra que ela pare,
Não ha nada que se compare,
Ao poder que se encerra,
Na água que brota da terra,
Sobe aos céus e a ela torna,
Faz da pedra a bigorna,
E do homem coisa pequena.
Da-me chuva,
Para chuva,
Da tua falta agora chega!
Para chuva, para enchente,
Tenha pena desses homens,
Não venha tão inclemente,
Piedade para esses bichos,
Que alteraram a natureza,
Mudando os cursos dos rios,
Ou te selando em represa.
A chuva cai de pedra,
E sobre a pedra o homem chora.

Resistência

Eu resisto a dor,
E ao desamor,
De quem sofre por si.
Eu me torno forte,
Com toda ameaça,
Tudo na vida passa,
Até as dores da morte.
E eu não tenho escolha,
Pra mim o caminho é sem volta,
Todo passo é pra frente,
Toda gente armadilha,
Não dependo da sorte,
A solidão é uma ilha,
Que tranformo em fortaleza,
E me curo da  falta,
À ausência de quem amo,
De quem em sonho eu chamo,
Mas o jugo não aceito,
Pois o que tenho no peito,
Me é caro e só entrego,
A quem o seu amor não me nega,
E me assume e se entrega
Ao meu amor mais profundo,
E não haverá nesse mundo,
Um amor mais perfeito.

Simples

1+1=2,
Feijão com arroz,
Beijo na boca,
Com gosto de creme dental,
Pão com manteiga,
Café com leite,
Andar a pé,
Um papo legal,
Tudo de bom!
Nada mau!
Namorar escondido,
Com medo do pai,
E um dia ser marido,
Pagar contas todo mês,
Passear de quando em vez,
Com a mulher e a filharada,
Pegar as vezes a estrada,
Sem saber onde se vai.
A vida é muito simples.
Ser feliz é muito simples.
Todo mundo ja é.
Só não é quem não percebe.

Sede

Eu tenho saudades de coisas que nunca vi.
Anseio por amores improváveis.
Procuro sempre por caminhos,
Que me dêem um destino.
Sou peregrino.
Menino que caça pipas.
Velho que sonha a infância.
Moço apaixonado,
Sofrendo por não ser amado,  amando a dor mais que a moça.
Há em mim uma ânsia
Por simplificar tudo.
Simplifico o meu mundo.
Difícil só os outros.
O tempo passa e ao passar alimenta a saudade,
De coisas que nunca vi.
Eu simplifico a saudade,
E tranformo num arremedo de poesia,
Pra que alguém leia a saudade minha.

Rotina

Ha um amor a me esperar,
De avental na janela,
Há a mulher mais bela,
Me esperando em algum lugar.
Há uma estrofe a rodar,
Na cabeça com o seu nome,
E a imagem vem e some,
Descalça, descabelada,
De carinha amassada,
Resistindo a acordar.
Há um amor a me esperar
Com o café na mesa,
Ansiosa por perguntar do meu dia,
E contar novidades,
E falar das Saudades,
Que sentiu por mim.
Ha um amor simples a me esperar,
Para falar amenidades,
E suavizar o dia,
E criar belas imagens,
Da carinhosa rotina,
Que me mantém crente na vida.
Meu bem, meu amor,  querida,
Cheiro de alho nas mãos,
Cabelos no alto amarrados,
Seus olhos nunca cansados estão.
Ha um amor a me esperar,
Olhando pela janela,
Me esperando chegar,
Trazendo pão e carinho.
Há uma esposa a me esperar,
Em algum lugar no futuro,
Ha um grande amor a me esperar,
E a esperar que a esperança se torne doce rotina.
Eu também espero. ......