quarta-feira, 20 de julho de 2016

Médio desejo

Abro a janela a espera do sol que não ha.
Da brisa que não está.
De um não existente olhar
A me olhar com ternura.

Congelado eternente na noite escura,
Na minha pétrea e fria rua.
Na minha pele limpa e fria,
Tão carente de abraço.

Procuro ouvir cada passo
Que ecoa a minha volta.
Esperando o grande amor
Do qual nunca estarei satisfeito.

Procuro cá dentro do peito
A morada de desejos,
Gênesis de mágoa e dor.
Quisera torna-la em cinzas.

Tantos são esses desejos.
Movem-me torto pela vida.
Quisera ser eu o desejo,
E o desejo a desejar-me.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Códigos

Acho que não te contei a novidade
Ou aquela velha anedota
Você me ligou?
Pensei que fosse
Quer me contar?
Viu quem morreu?
Como está a sua mãe?
O amor é a apoteose de todo desejo satisfeito!
(Tentando te impressionar)
Bom dia!
Boa tarde!
Boa noite!
(Pensando)...
O que estará acontecendo agora?
Quem sou eu?
Onde estou nessa história?
Está chovendo aí?
(Duas horas depois...)
TÁ.
Frio né? ...muito frio.
Oi!  Estou por aqui se precisar.
Tomara que precise.
Já almoçou?
(Na hora do jantar)
Já.
To rindo aqui. ...
Ah se ciumes desse dinheiro!

Pequeno desejo

Estou ouvindo jazz
Um piano melancólico
Música sem destino
Esperando o telefone tocar
Ou o remorso te tocar
Ou a memória acordar
Em você uma lembrança minha
Espero ouvir a tua voz ao som do piano
Mentindo sobre você
Regada ao meu vinho predileto
Papo reto
Moderninho
De gente bem resolvida
Que não sou
Queria ouvir a tua voz
Ao som de um piano melancólico
Cantando. ...
Amor. ..acorde
Foi só um sonho ruim.

É doentio esse prazer em ouvir e alimentar mentiras.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Segunda feira

Hoje o dia foi duro.
Os Deuses tiraram folga.
Os anjos perderam a hora.
Os ouvidos se fecharam.
A palavra não significou.
Meus amigos se foram.
Perdi um grande amor.
Descobri o amor sem desejo,
E os espinhos das mágoas.
Vivi mil lutos,
E não vi o sol.
Chorei sem esconderijo,
E riram das minhas humanas lágrimas.
Porque não eram humanos.
Hoje não teve açúcar,
E o sal foi amargo.
E houve um nò na garganta
Ao invés do "bom dia".
Hoje estive de ressaca
Do grande porre de remorso.
Vinho azedo de segunda.
E o poeta não veio
Pois lhe faltaram palavras.
Perdi a mulher.
Meu cachorro fugiu.
O carro não pegou.
Tive um pesadelo
Onde eu nascia na mesma vida
Para viver às mesmas coisas.
Hoje fez frio e esqueci o casaco.
Errei o caminho.
E amanhã será terça feira.