sábado, 31 de outubro de 2015

Manual Drummond-ano

Bom é ler Drummond depois das refeições,
De barriga cheia!
Também melhor é ler quando não se é presa de paixões.
Le-se devagar, sem compromisso pois, só assim faz sentido.
Le-se de ouvido,
Pois é preciso ser um virtuoso.
É bom que se leia de passagem,
Como quem não quer nada,
Como se já conhecesse.
É preciso "ver a imagem"
Do que é dito.
Sentir o bafo de Itabira,
Fogões a lenha de Minas.
Gerais são as sílabas de Drummond.
Acho que para le-lo urge ser-se esnob, afetado,
Ler sempre sentado,
Com os óculos pendurados no nariz.
Cabe ai um pouco de amargura,
Bem pouco.
Drummond não é pra gente "feliz".
Drummond e pra gente que sabe que a vida, as vezes, dói...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Eloquência

Eu preciso falar menos
Ao menos, menos com a palavra.
A palavra crava um espinho ilusório;
Crava na carne da alma
E a cega ou turva a sua visão.

Não.

Eu preciso falar mais,
E ha tanto a dizer!
Mais que fazer
Dizer tudo antes é preciso.
Eu preciso que me conheçam.
Preciso ser notório,
Ou famoso.
Preciso desfrutar do gozo
De ser conhecido,
Mas sem palavrório.

Eu preciso que você,  "outro" me reconheça
Como entidade a parte de
Ti, o outro.
Eu quero o encontro das duas naturezas,
Minha e sua.

Eu, Sol, te desejo, ó Lua!
Contrário de mim,
Oposto.
Visto e posto que só em ti,
Adverso,
Vejo refletido a mim, verso.
Só e quieto me encontro em ti,
Sem palavras,
Apenas sentir.

Eu não sou o meu corpo.

Ou: o mito do macaco bebado como forma de transcendência.

Na África, na minha amada savana, alguns animais comem alguns tipos de frutas após a sua fermentação.  No processo de fermentação o açúcar da fruta é convertido em álcool que é um dos mais conhecidos narcóticos.  Acho que poucos desconhecem os benefícios e os malefícios deste tipo de ansiolitico.
Ao ingerir tais frutas fermentadas esses animais entram num "mundo sem corpo" onde eles experimentam a verdadeira existência livres da matéria.
São lapsos de consciência absoluta que dizem aos animais; --"você não é o corpo! "

"Advertência"
Este texto não faz apologia ao uso indiscriminado e irresponsável de qualquer tipo de narcótico.
Este texto tenta mostrar que podemos nos auto conhecer a partir de experiências de super consciência.

O que aprendo ao entrar neste estado alterado de consciência é que ha uma distinção entre o corpo e algo a que chamo "eu verdadeiro".
Ao "entorpecer" o meu corpo eu me liberto das amarras materiais e me percebo.
De repente tudo faz sentido.  Tudo é inteligível.  Tudo é, naturalmente,  criado por mim ou pela minha ferramenta de criação, a saber, a mente.
O homem tem medo das verdades advindas deste estado alterado e, por isso, foge dele e cria Impecilios e arquiteta preconceitos para dificultar a sua implementação.
Mas aqueles que tem a coragem de adentrar ao portal da super consciência conseguem ter a visão plena de tudo.
Ha um grande risco, eu os advirto.
O risco da escravidão, assim como ha o risco da escravidão pela ilusão para aqueles que se acovardam diante do abismo.
Mas o que eu quero dizer com esse."falatorium" é que, todos nós procurarmos nos entorpecer o tempo todo com todo tipo de "narcótico", seja ele cultural ou químico, para fugir não da realidade mas sim, da irrealidade que criamos para encarcerar o verdadeiro eu.
É por isso que se fala tanto em "libertação". É por isso que se busca tanto a felicidade (felicidade que nada mais é que a transcendência ao eu ilusório que usamos como máscara para nos escondermos).
A esperança é a expressão do medo de sermos nos mesmos plenos de autenticidade.
A esperança é a fuga ao exercer-se como ente natural.
Ansiamos (morremos de ansiedade) ao trabalharmos ininterruptamente para mantermos escondido aquilo que verdadeiramente somos.
É por isso que eu bebo...com moderação.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Deuses possíveis

Já falei muito sobre a esperança e seus efeitos.
Disse outras vezes que, tanto quanto a razão, o que distingue o homem, aquilo que o evidencia na natureza é a esperança.
O homem espera pois na esperança ele descansa das realidades conflitantes que o atormentam.
Mas ele sabe que não basta esperar.  Ele precisa agir em direção daquilo que espera. É necessário, para que ele se sinta "cumprindo o dever", que ele perceba o próprio movimento em direção a coisa esperada.
E o homem anda, estimulado pela esperança e auto alimentado pelo movimento, em direção ao desconhecido ou, em direção ao nada.
Todo este "palavrorium" soaria como a negação da vida se eu não fosse uma criatura nietzscheniana. Seria um niilismo triste se não fosse o niilismo que nega a morte.
A vida humana se bifurca em dois caminhos distintos:
Ou negamos a vida e vivemos um sonho turbulento onde, eventualmente, submergimos em direção a superfície da realidade e, covardemente, emergimos novamente no mundo onírico ou procuramos da vida o sentido.
Viver num mundo de sonhos onde fingimos ter controle sobre às coisas é negar a vida definitivamente.
Procurar o sentido da vida é negar a morte porém, é negar a morte baseado numa vida idealizada e, portanto, impossível pois (obrigado fonte da minha inspiração) A VIDA NÃO TEM SENTIDO!
A vida é um processo gigantesco que foge às nossas vistas e controle porém, creio eu que, o absurdo que é a vida tem um propósito já que tudo no universo tem um fim. Tudo é tese, antítese e síntese.  Tudo gera um produto final como se esse produto final fosse "necessário" e, se é necessário pede satisfação mas, a satisfação de quem?  Ou do que?
Se a espécie humana, com os seus milhões de anos, ainda não encontrou o sentido da vida ela encontrou sim o seu "não sentido", e o não sentido da vida nada mais são que os limites do entendimento humano.  Os Deuses do infinito constroem, infinitamente, o caminho que trilhamos enquanto trilhamos tornando o nosso andar, também, infinito.  Não ha e nunca haverá uma chegada para a necessidade de conhecimento do homem.
Estamos fadados a procura e, por procurarmos, esperamos e, por esperar procuramos num eterno ciclo que se repete indefinidamente.
Pois bem, mas não será este infinito processo de procura e esperança algo necessário a manutenção de alguma coisa maior que nós?
Não seria a procura por um sentido para às coisas a energia que manteria a existência de outra energia?
Talvez devesse o homem aliar a filosofia um novo paganismo.
Eu me pergunto todos os dias, o que ha mais adiante?

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Exilado

A árvore não pensa.
O tempo passa.
Raízes a prendem ao chão.
Pedras não sentem,
E o vento sopra
Esculpindo a pedra,
Erosão.
O sol se move sobre as coisas.
O sol as queima e amadurece.
Nada é lembrado,
Nada se esquece.
Tudo se move a minha volta.
Tudo a mim é alheio.
Nada e belo,
Nada é feio.
Tudo tem seu tempo de ir.
Tudo tem momento de vir.
Vive e morre a natureza.
Tudo se vai...
Só eu morro de amor.

Injusto.

A arquitetura da realidade

Como já disse outras vezes, creio que cada um constroi as suas realidades e a estrutura destas realidades são formadas pelos conhecimentos e o homem vivência tais realidades de acordo com a forma como interpreta e aplica seus conhecimentos adquiridos ou intuídos (inferidos).
O homem sofre, desta forma, as inquietações geradas pelos conflitos que ha, invariavelmente, entre as realidades criadas por ele, as realidades dos outros e a realidade do universo que o cerca.
De todas as realidades as únicas passíveis de mudanças pelo indivíduo são aquelas criadas por ele mesmo e, já que as realidades criadas por ele são baseadas nos seus conhecimentos, somente adquirindo conhecimentos e os interpretando e aplicando de forma a se harmonizar com o outro e com o universo  é que o indivíduo poderá ter vislumbres da tão desejada paz.
O problema é, como podemos saber o quanto estamos em harmonia com o todo?
Qual o grau de distorção da nossa visão de mundo?
Teremos a capacidade de percebermos quem somos, quem e o que é o todo?
Podemos mensurar o quanto somos influenciados pelo todo e o quanto o influenciamos?
Os conflitos gerados pelo choque entre visão de mundo do indivíduo, visão de mundo do outro e a realidade altamente mutável do universo são terrivelmente dolorosos e não raramente levam a distúrbios psicológicos e comportamentais tornando o indivíduo um "corpo estranho" à sociedade.
Chamo de sociedade aquele grupo de pessoas que se ligam pelo senso comum.
Ora, poderíamos aventar a possibilidade de criarmos uma forma de medirmos o espectro formado pela visão de mundo de um indivíduo com vistas a aproxima-lo da realidade ou seja,  de forma a aproxima-lo de um estado de harmonia com o todo e de aproxima-lo de um estado de relativa paz já que a paz nasce da segurança gerada pela participação de um grupo.
Já a princípio esbarramos na questão da referência primordial pois para criarmos uma forma de medida precisamos de algo que nos embase, precisamos de um padrão.
Então, como seria um padrão de realidade universal que, aliada as realidades do outro nos serviria como padrão?
Quais os atributos destas realidades deveríamos ajuntar?
Imaginando que conseguíssemos criar este padrão criariamos uma escala que iria do absolutamente inserido na realidade até o absolutamente fora dela e, a partir doa dados coletados via comparação poderíamos definir quais conhecimentos e comportamentos levar até o indivíduo de forma a traze-lo para um estado harmonioso com o todo.
Divaguemos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Auto conflito

Ou "o animal de duas mentes".

A meu ver o homem é um animal fadado à angústia e é fadado à angústia porque vive mentalmente em dois universos que se chocam eternamente.
O primeiro universo é a sua mente interna, aquela que é construída juntamente com o seu corpo.
É uma mente caótica porém é a mente que se harmoniza com a natureza, é aquela que da ao homem asas, liberdade, o prazer de não ter limites.  A mente caótica é aquela que torna o "indivíduo" absolutamente pleno, completo porém, é a instância que o torna medonho a si mesmo e essa feiura advém da razão, que a tudo cobra explicação e da consciência, que nasce da insidiosa memória.
Levado pelo medo da verdade sobre si o homem "filtra" o mundo criando um segundo universo que ele chama erroneamente de "realidade".
A palavra realidade nos remete a idéia de algo sólido, afirmado na sua irrefutável existência, posto sobre bases sólidas e inalteráveis, algo que é comum a todos.  É óbvio que a realidade, como conceituada acima, é uma absurda utopia ja que, cada pessoa cria a sua própria realidade baseada nas suas experiências.
Portanto o homem sofre o dilema das três verdades, a saber :
A verdade sobre si ditada pela sua mente caótica;
A verdade sobre si ditada pela realidade que o homem cria;
A verdade sobre si impostas cruelmente pelas realidades do outro.
Outro aspecto trágico é que, nos relacionamentos, ha a tendência de as  realidades de cada indivíduo absorverem ou serem absorvidas pela realidade do outro num jogo de dominação que não deve terminar sob pena da desvalorização das relações.
Relacionar-se com o outro é um eterno jogo. Uma vitalícia competição onde a felicidade depende da continuidade das contendas.  Uma competição que não admite vencedores pois quando alguém vence o jogo perde o sentido de existência e o outro perde o sentido da permanência.
Este é o homem.
Um animal condenado a existir a partir da competição com o outro.
Um animal cuja identidade está sempre em mãos alheias.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Atenção! Areia movediça!

Quero dar um conselho.  Ou melhor, quero advertir a quem, por vontade ou por acidente (eu prefiro por acidente) passe aqui pelo meu blog. Na verdade, acho que não é nem um conselho e nem uma advertência mas sim, um presente.  Algo que só quem se exauriu em humores invisíveis, amargos e dolorosos em nome do amor poderia dar.
Algo que alguém que caminha pelo mundo sem a pele do corpo com todos os nervos expostos e somente ele tem autoridade para discorrer.
Prontos?
Eu digo que, amem porém, nunca, nunca, em hipótese alguma se doem totalmente.
Deixem sempre o amor com aquele sabor delicioso porém com a impressão de que falta algum tempero que nunca se. saberá.  Que o amor seja como aquela música que ouvimos pela primeira e única vez e que nos leva às nuvens porém não conseguimos nos lembrar apesar de a sensação deixada esteja gravada a fogo em nossa memória.
Que o amor seja inusitado.  Que seja uma sucessão de acidentes diários e imprevistos porém esperados e dolorosamente desejados.
Que seja motivo de um doce e viciante sofrer daqueles que faz do álcool o nosso melhor refúgio.
Que seja misterioso mas intensamente interessado no outro e somente no outro. 
Que sempre nos pegue desprevenidos, de calças curtas, fora de hora.
Que apareça na segunda feira de madrugada e não nos deixe dormir.
Que nos faça esperar e esperar e esperar com um lindo e idiota sorriso no rosto.
Que seja um delicioso incomodo.
Que tire as nossas roupas na cozinha com as janelas abertas ao meio dia e que nos arraste para o sofá na sala fazendo barulho apesar dos vizinhos.
Enfim, que seja absolutamente incompleto.
Que nunca seja inteiro mas que faça-se desejar assim.
Amem tentando escapar por entre os dedos do outro.
Amém.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Monótono

Sou um homem que vive,
Sofre e vive,
Pensa e vive,
Ama e morre.
Sou a tese da antítese,
Teoria caduca,
Cadência maluca,
Algo mais leve que a síntese.
Sou um homem que vive,
Procurando sentido,
Saberes que nunca tive,
Mistério escondido,
No.sexo das almas,
Nos "emes" das palmas.
Sou ente vivente,
Agudo obtuso,
Coisa em desuso,
Velho adolescente.
Sou alma que vive,
De amores incompletos,
Discurso dos quietos,
Falares de mudas gentes,
Passeios inconscientes,
A alma que pena,
Fantasma na arena,
Gladiador de sentires.
Sou homem que ama
E de remorsos se contorce
Por amores não vividos.

Salário

Uma janela aberta,
É isso que o homem merece,
O pobre animal sofrido,
Pondo na vida sentido,
Na janela uma prece.

Uma janela na alma,
Aberta para tudo,
Sem barreiras, sem escudo,
Deixando entrar a calma,
Na alma que padece.

Uma janela a tarde,
Aberta para o dia que morre,
Vendo a noite que corre,
Em socorro,
Sem alarde.

A janela aberta,
A noite chegando não percebe,
Não distingue escuridão e luz,
Apenas uma janela aberta,
E um homem com uma janela aberta,
Numa alma que adormece,
E sonha...

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A coroa

Ha espinhos em minhas carnes ¤
Um para cada ato meu ♡
E um punhal risca o meu peito♥
Escrevendo os nomes dos que amei.
Ha vozes atemporais dentro de mim *
Gritos das dores que causei ♣
Fantasmagóricos corpos em meu leito☆
Olhos de olhares sem fim■
Olhos dentro de mim●
Saberes inúteis que cultivam a dor...
A certeza da finitude e da frugalidade do amor▼
Impotência diante do tempo
que passa levando a possibilidade
Da redenção→
Ha uma coroa de espinhos a me esperar...
Para a mim coroar
O homem que sentiu o mundo sem a pele do corpo ¥
Ha espinhos em minha carne◇
Um para cada amor inconcluso.
E rangem as engrenagens da maquina de
Não esquecer ♥♥♥♥?

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dores memoriais

Das dores existenciais talvez a maior seja a incrível incapacidade do homem em esquecer.
Ao longo da vida agimos e nossas ações geram frutos que guardamos na memória e vivenciamos constantemente e, às vezes, dolorosamente a existência insistente destes frutos.
Assim é a saudade e, mais dolorosa ainda, a saudade dos que amamos.
Criamos laços com coisas que nos fazem bem mas os laços mais fortes, eu diria até, indestrutiveis são os que criamos com pessoas que nos fazem bem.
Posso dizer com certa autoridade que cada "bem estar" gerado por alguém é insubstituível e irreplicável. Cada pessoa que nos faz bem deixa uma marca em nossa alma, marca essa que clama pela presença de quem a criou. Ha dias em que alguns clamores são muito fortes e o som gerado em nossas profundezas nos faz tristes e nos faz desejar um abraço do objeto de nossa saudade.
A saudade, esse tipo de idolatria, é a doença da boa memória e o seu único e precário alívio está no ato da confissão do amor a aqueles que, em função do bem que nos oferecem, nos transformam em saudosos crônicos.
Eu gostaria que houvesse um tipo de serviço que nos permitisse dizer um sonoro e caloroso "eu te amo" para as pessoas que amamos e estão distantes nos momentos em que a saudade nos espeta com os seus espinhos feitos de ausência.
Queria que às pessoas das quais sinto essa falta tão dolorosa pudessem me ouvir dizendo "Oi! Eu estou aqui e nunca me esqueci de você! " independente da distância e do tempo.
Queria que a minha presença na forma de um calor sutil e reconfortante envolvesse os corações daqueles que amo todas às vezes que eu sentisse saudades.
Na verdade, eu não queria mais sentir saudades.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Dois

É tanta cor no céu! ...
Azul palido, forte, palido azul...
Branco, amarelo, vermelho!
São tantas as formas da cidade!
Ângulos, curvas, linhas em movimento. ..
São tantos sons não concretos!
Assobios, roncos, vozes...
São tantos odores doados pelo vento!
Flores, fumaças e almíscares...
E são tantos, tantos sentimentos!...
Que é um desperdício eu ser um.

sábado, 3 de outubro de 2015

A dívida

Tudo que não fiz,
A lacuna deixada.
Amores que não amei,
Alma covarde.
Todo amor pela metade.
Tudo que deveria ser dito,
Mas calei.
Toda mudez castigada.
Tudo que ficou
E os olhos não podem ver.
Tudo que ficou por fazer.
Todo abraço evitado,
E o beijo não roubado.
Todo lugar onde nunca fui,
E jamais irei.
Toda paisagem que pediu parada,
E eu não parei.
Todo sonho que não vivi,
Que por eu me achar real demais
Me fugiu.
Todo carinho que esperei,
Pois vã sempre foi a espera.
Toda mansão que tornei tapera.
Às famílias que mudei,
Rotas para a deriva.
Toda dor de coisas mortas,
Ainda vivas.

Meu castigo pela inadimplencia
É a incapacidade em esquecer.

O carinho e o homem de mil pontas

Tudo o que queremos é carinho.
É uma necessidade uterina, como se fosse o combustível da vida plena.
O carinho é algo que nos anseia posto que, só é carinho se vem do outro. Não há "auto carinho". Partindo do próprio indivíduo só pode haver auto cuidado ou auto piedade.  Carinho é uma doce e positiva referência que nos diz que somos suficientes, que somos completos, que bastamos ou, pelo menos, é o que nos ilude a isso.
O carinho é um momento de descanso, um intervalo na dolorosa competição que é a vida.
O carinho é o alívio.  O colo da mãe.  O abraço do pai num momento de medo. As vezes o carinho é a solidão.  Aquela solidão que nos afasta de tudo o que nos causa dor. Sim, as vezes, por absoluta falta de carinho ou por absoluta presença da dor nos forçamos à solidão.  A mesma solidão de um bêbado dormindo numa calçada.
O carinho é a grande necessidade, aquela que está acima de qualquer coisa e a sua falta é o que leva o homem a sua primeira função que é a procura e a sua segunda função que é a esperança.
Desta forma o amor nada mais é que um processo de prospecção de carinho.  Amamos ao outro na esperança que a nossa dedicação a ele nos faça merecedor do seu carinho e sofrer por amor é não receber o carinho que esperamos do outro.
O carinho é uma linguagem com suas várias formas de expressão sejam físicas, verbais, comportamentais e de intenções e é o silêncio desta linguagem que leva ao sofrimento amoroso.  Não demonstrar carinho ao ente amado é a pior violência que se pode praticar.
O homem de mil pontas?
O homem de mil pontas é o homem tentando lutar contra os seus ímpetos, os seus extremos e desejando o descanso num carinho.