quarta-feira, 29 de julho de 2015

O princípio da felicidade

Conceito

A felicidade, segundo o homem moderno, é um estado infinito e profundo de bem estar fisico e emocional.  É um estado de excelência onde nada perturba. Um estado de profunda e absoluta satisfação.
Naturalmente este estado é idealizado e, como todo ideal, é impossível. 

A ilusão do ideal.

A palavra "ideal" nos remete a ideia de "algo pleno em significado e função que traz absoluta satisfação"; "algo que nos prove de forma a não se deixar a desejar" ora, todo estado traz em si infinitas variáveis que, na maioria das vezes,  não se coadunam.  Desta forma, algumas destas variáveis não se realizam positivamente com relação aos objetivos almejados tornando o ideal irrealizável.  O que se tem é sempre um objetivo estilhaçado que nos leva a insegurança e a angústia por percebemos a nossa impotência diante da vida.

A reação.

Ao vivenciar as dores da angústia gerada pela percepção da própria impotência e, não percebendo que as raízes das suas angústias estão na "idealização", o homem procura novos objetivos idealizados ( um "grande amor", segurança financeira,  auto afirmação, etc) e recebe novos "cacos de sonhos" que o levam a uma crescente angústia.  Ao longo do tempo (e o tempo é o carrasco que amputa os sonhos) o homem desenvolve a apatia característica dos que se cansaram de lutar e, por orgulho ou vergonha do fracasso, nomeiam "contentamento".

A cultura da infelicidade.

Este processo de derrota é ensinado às gerações de forma que este estado de tristezas passa a ser visto como natural e às dores nos caem de forma fatalista.  Alias, o fatalismo disfarçado de tranquilidade é um dos comportamentos notáveis do homem moderno.  Ve-se a vida como a um filme que se passa numa tela muito distante. Observa-se o mundo como se o observador não vivesse nele. Como se a observação se desse a distância segura.  Isto leva à não percepção da dor do outro. Frases como "isso nunca vai acontecer comigo" caracterizam este estado.

A importância dos processos de construção da felicidade.

A felicidade é construída a partir da consciência constante do estado em que se vive e a consciência constante das causas e efeitos de tal estado.
Na verdade creio que o distanciamento do homem da natureza é a única causa da infelicidade.  A não observação do ambiente propício ao desenvolvimento humano e o não suprimento das necessidades básicas que permitiriam a sua paz de espírito são os elementos mantenedores do "círculo vicioso" que tem gerado a evolução da infelicidade.
A meu ver, o despojamento de bens materiais resumidos ao estritamente necessário aproximaria o homem do seu estado natural. O homem deve perceber que a felicidade é o seu objetivo unico e deve agir de forma a realiza-lo.

O dilema.

Voltar-se para a natureza ou voltar às costas à ela?
Aceitar-se como fruto dela ou renega-la?
Eceitar o fato de sermos parte de uma infinita rede e assumir as nossas responsabilidades ou continuar o processo de "artificialização"?
O homem não está numa encruzilhada porque nem sequer se apercebeu da sua triste e desesperada figura.  Não percebe que "eu e o outro somos um".
A última e definitiva escolha será viver de forma natural e feliz aceitando-se como ser natural e sem pecados ou continuar negando-se até o colapso.

A cabana

Eu e o mundo
Um só eu
Vozes ecoam em mim
De fora pra dentro
De dentro pra fora
Telhas de barro
Som domésticos
Cheiros de casa
Doces rotinas
Já não ha mais tempo
Já não careço de pressa
A vida passa
E me cumprimenta
E eu a cumprimento
Escorado na enxada
A alegria está aqui
Sempre esteve
Pezinhos sujos de barro
Do mesmo de que sou feito
Meu cão abana o rabo
Dinamizando a vida
Me confundo com tudo
E tudo se funde em mim
Sou síntese
Não ha antítese
Nem o não existe
Ha muitos Deuses
Todos lindos
Tudo é naturalmente claro
Ha fluência
E a decadência
É apenas
Um novo começo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Reciclagem

Preciso de palavras novas,
Novos termos, novas rimas.
Preciso de uma nova métrica, cadências novas.
Preciso de palavras virgens
Para deflora-las com sensações recém nascidas.
Quero letras embebidas
Em licores conceituais.
Preciso invocar Salvador Dali e Pablo Picasso,
"Demônios de novas coisas".
Quero mais um vocabulário,
Preciso de duas canetas,
Uma para cada mão.
Uma folha de papel infinita.
Uma noite mais curta e um
Dia longo e ocioso,
Tudo eterno.
Preciso de belas paisagens
E paixões dolorosas (todo poeta é triste).
Preciso de solidão e musica,
E novos sonhos impossíveis.
Preciso envelhecer e
Nunca ser erudito.

Preciso de novas rosas,
Anseio por novos jardins,
Brisas que vem de confins,
Tudo em versos e prosas.

A todos aqueles que, como eu, sofrem de "brancos" eventuais.

Pater

Ao mais alto valor dedico a vida,
E a ela abdico, por amor.
Sei que estas sempre de partida,
Sei, este meu maior temor.
Odeio o tempo que te torna homem,
Tempo que te dará as asas,
Enquanto, por ti, as minhas somem,
Em conflitos de alegrias.
A que vem o castigo de te ver crescer,
Fugindo de mim como areia entre meus dedos?
Como haverá paz em viver,
Se ainda me movem os medos,
Dos tempos que engatinhavas?
Hoje são outros teus brinquedos,
Já é próprio o seu brilho,
E, quem sabe, o teu filho,
Te faça sentir o que sinto,
E um dia, ja velho como eu,
A lhe falar sobre a vida,
Perceberá em ti o mesmo medo,
Que eu sentia por tua partida.

Filhos não deveriam crescer nunca.

(Ao meu filho Paulo)

sábado, 25 de julho de 2015

Conjugação

Te conheci.
Me conheceste.
Me apaixonei.
Tu te apaixonaste.
Te amei.
Tu me amaste.
Me aborreci.
Te aborreceste.
Te trai.
Me traíste.
Te deixei.
Me abandonaste.
Me enamorei.
Te enamoraste.
Me casei.
Te casaste.
Errei
Erraste.
Voltamos e, amanhã,  seremos felizes.

Prólogo

As luzes da cidade estilhaçam a noite.
Um avião passa por uma nuvem e deixa um rastro de estrelas,
Das quais sou poeira.
Um amor se inicia em algum lugar.
Um carro passa debaixo da minha janela.
Um amor se vai devagar,
E nem percebem os amantes.
Um vento frio acaricia todos os corpos,
Animados ou não.
Antigos amores me visitam em lembranças.
Antigos remorsos confabulam a minha volta.
Debatem sobre o melhor caminho para o inferno.
Uma sirene toca ao longe,
Festeja algum ilícito.
Estou cinco minutos mais velho.
Melhor parar de escrever.
A palavra é o veneno que eterniza o que vivi.

Farpas

O medo é um espinho cravado na carne.
Medo que nos acompanha.
O medo é um prego no cerne da alma.
Eterna campana em noite escura.
Não ha homem sem medo.
O medo é a cultura ou,
A cultura é a fuga do medo.
Teme o homem a outro homem,
Por ser homem e saber-se vil.
Por saber-se de outro a copia.
Ao medo é servil.
Medos são nódoas no espirito.
Espeto, farpa, espinho.
Todo homem está sozinho,
Com tudo aquilo que teme.
A cultura é seu grito.
É o gemido do animal fadado a ser
Eternamente ferido,
Pela covardia.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A laje

Sinceramente, não sei a quantas anda o dólar hoje, nem sei nada sobre o barril de petróleo, alias, não creio que isso me afete.  Neste momento uma grande montadora está lançando um novo e caríssimo modelo de automóvel que eu não compraria nem por decreto.  Porém,  enquanto isso, no andar de baixo da minha casa ouço o meu neto gritando "bobo"! Meu velho cachorro esta empoleirado no meu colo e o meu vizinho faz uma piada com a marca da minha cerveja que, por sinal, não é, nem de longe, a mais cara.
É sexta feira e estou no ponto mais alto da minha humilde moradia de onde vejo praticamente toda a minha cidade (Bragança Paulista,  S. P.). A noite está nublada e as luzes da cidade contra as nuvens forma um cenário de filme de ficção científica.  Me sinto em 1980 quando o ano corrente era 1970. Tenho 50 anos e estou contemplando a minha obra.  Tudo o que é construído na dificuldade tem mais amor e mais valor. Não construí notoriedade.  Nunca fui famoso e hoje percebo o bem que isso me faz. Tudo o que é simples me apaixona. Um beijo de um filho vale tanto quanto um dia no melhor hotel do mundo. O som (para não dizer o barulho) dos que eu amo dentro de casa soa muito mais melodioso do que a mais fina sinfonia.  Meu "arroz, , feijão, bife e salada" é mais agradável ao paladar do que um "manjar dos deuses".  Tudo é simples, facil e fincional.  A vida é simples e, ( atenção leitores! ) "tem que ser simples". A vida simples e despojada de vaidades é o substrato da felicidade.  Feliz aquele que tem apenas o necessário e ama o que tem. Feliz é o homem verdadeiramente amado por uma mulher.  Feliz é aquele que vive cercado dos que ama mas, feliz mesmo é aquele que tem consciência disso e mantém tudo isso com amor.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Metafísica

É preciso um deus
Para esconder do homem
Os seus limites.

Angústias que o consomem.

É preciso o homem estar quites
Com o homem.

Carece que seja um deus de verdade
Mesmo que fabricada à verdade.

É preciso credulidade.

A fé é a espectativa confiante
Em algo em que não se crê.
É preciso um deus errante
Mas em todo lugar presente.

Um deus feito gente.

É preciso que haja eleitos
Para carregar o fardo.

É preciso que a outros deuses sejam afeitos,
E que saibam tirar vantagens.

Criaremos um deus que nos alivie a inferioridade,
Ou melhor,
Que a transfira para aqueles que optam por não crer.

Não se admite a liberdade
Pois ser livre é poder.

O poder é premissa da divindade.

Ai de ti que olha para o céu e só vê estrelas.

Ai de ti que ousa ve-las
Sem deduzir um criador.

Estas fadado ao inferno e seu calor.

Inferno por seu algoz criado
E por seus algozes acreditado.

Mas descerá ao inferno aquele que no inferno não crê porque não cre em quem o criou?

Ou vai a geena aquele a quem os instintos negou?

Pobre homem que não tem utilização para às pernas.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Biografia

A vida é um caminho tortuoso.
Um rito de passagem.
A vida é uma viagem,
A estrada única.
Cercada de paisagens
Que se distanciam
Enquanto o caminho se estreita.
E no deserto espreita
A morte que a estrada encerra.
Quanto mais eu caminho
Mais aprecio a paisagem,
Mais veloz a viagem,
Menor é o tempo,
Desesperado contemplo,
Se é que se contempla em
Desespero.
Ao fim do caminho serei o primeiro,
Até porque sou o único.
Este caminho é só meu.
Nele não ha companhia,
E o sol que ilumina o dia,
O mesmo que me envelhece inclemente,
Tem todos menos a mim
Ausente.
Este sol também é meu.

Dia

Um intervalo de tempo.
O despertador não tocou!
Perdi a hora!
O café esta sem açúcar.
E agora?
O tempo passou.
Preciso de um atalho.
Que frio! (O inverno chegou)
Vou me atrasar pro trabalho.
Uma amiga descobriu um cancer.
Um amigo se divorciou.
E agora? O que ha de ser?
Música ruim no rádio.
O transito ruim.
Compro algo de comer pra mim.
Depois do almoço, um sono.
Alguém me mandou uma mensagem de amor.
Me chamou de cão sem dono.
Me pediu perdão.
Acabo de ganhar um abraço!
E sem motivo algum.
Ou será que havia e não percebi?
Hoje tem aniversário!
Comprei presente nenhum.
Estou com azia!
Quero um chá.
Quase acaba-se o dia.
Talvez eu vá.
Passo no mercadinho.
Me esqueço de algo,
Com certeza.
Queria beber, afogar a tristeza.
Mas pra que?
Nem sempre estou sozinho.
Vou ler, me afogar em palavras,
E dormir.
Porque ha um intervalo de tempo,
E amanhã será outro dia.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Inefável

Não construo a outros, caminhos.
Só construo os meus.
Faço eu meus destinos,
Não os teus.

Me abstenho de viver outras vidas.
Vivo a minha.
Produzo a minha felicidade,
Ela não se faz sozinha.

Não me culpo por outras dores,
Só as por mim causadas.
Só eu escolhi meus amores.

Não caminho nas tuas estradas,
Tu nelas caminhas e,
Receberas por tuas passadas.

(Cada um é responsável pela sua sorte. Cada um constroi o seu destino e dele bebe o fél ou o néctar)

domingo, 19 de julho de 2015

A esfera negra.

Carrego em mim o fardo dos medos,
Ando pelo caminho escuro,
E, logo atrás de um muro,
Sobre eternos rochedos...

Um altar me espera.

Adentro aos muros e galgo a ancestral escadaria,
Do alto a morte espia e mede os meus passos.
Pergunta-me se desejo algo.

--Deixa-me entrar por essa porta,
Trago medos como oferenda,
Poupa-me da inútil contenda,
Tu, que és sempre morta!

Rindo da minha coragem,
Com seus cadavéricos dedos,
Gira o antigo ferrolho,
E me deixa adentrar com meus medos.

Ando por um corredor escuro,
Onde estão meus temores,
São tantos ali os horrores,
Que aos demônios esconjuro.

Encontro um amplo salão,
Nele ardem muitas tochas,
A minha frente dois altares,
Descansam sobre eternas rochas.

Me aproximo do altar menor,
Sobre o maior me espera,
Como se de mim soubesse,
Uma negra esfera.

Ao sentir minha presença,
Gira sobre si o negro globo,
Ergue-se e no ar flutua,
Gelida, metálica, imensa.

Pairando no ar ela cresce,
Vem se aproximando de mim,
Atravessa toda a sala,
E para em minha frente, por fim.

Percebo que em suas paredes,
Ha uma pequena abertura,
Que servira futuramente,
Para me aliviar a amargura.

--Gira-te agora, ó esfera,
Muda agora em cores,
Deixa tua cor escura,
E leva contigo meus temores.

Escolho um temor terrível,
Daqueles que me tiram o descanso,
Trago ele a tona,
Até onde o alcanço.

Sinto-o chegando, medonho,
Sinto sua fria presença,
E em uma única sentença,
Ordeno que se transforme em sonho.

Vivencio o meu temor,
Sinto fluir às dores,
Revivo todos os horrores,
Faço em fumaça o horror.

E saindo do peito essa névoa,
Do medo que então admito,
Usando de todas as forças,
No luzente globo deposito.

Faço-o girar novamente,
Enquanto diminuo seu tamanho,
E quanto menor ele fica,
Maior controle eu ganho.

Faço agora a esfera,
Do tamanho de um grão de areia,
No centro do salão iluminado,
Um simidouro espera.

Lanço o ínfimo grão,
À boca do simidouro,
Vai-se meu temor então,
Fica-me o bom agouro.

Há boa sorte aos que não temem.

A infinitude, fábrica de deuses.

O animal racional sofre com a ilusão crônica da infinitude.
A razão leva o homem a construir.  Ele constroi o concreto e o abstrato.  Constroi prédios e a própria felicidade porem, ao construir o homem se condena aos limites das suas construções e esses limites lhe dizem que a algo mais a fazer, dizem que ainda há possibilidades.  A razão torna-se uma ferramenta de evolução e interpretação do mundo mas a razão nega ao homem o fim da sua obra.
Ao construir o homem deseja completar o que constroi e ao completar tem um breve momento de paz onde contempla o que construiu. Porém, a própria contemplação leva o homem a perceber os limites da sua obra e passa a desejar mais. Este "desejar mais" é a angústia.  A cenoura presa a ponta da vara fixada às suas costas a qual segue desejando.
Este processo também leva o homem a temer os limites porque os limites lembram ao homem a sua insegurança. 
Ciente dos seus limites e dos limites dos seus conhecimentos o homem "procura". E, na ânsia pela cura das dores da procura o homem cria deus.
Deus é o descanso do homem.  Uma sombra artificial onde ele se esconde do sol inclemente da sua ignorância.  Mas a angústia advinda da consciência do infinito o leva a sair da sombra e o leva a procurar até que o cansaço da procura o leve a sombra de deus novamente.
Estou sentado em minha casa agora e, vizinha à ela ha uma igreja onde alguém grita "glória e aleluia" a horas sem parar. Este homem se desliga da sua angústia enquanto grita e o processo de catarse o levará a uma paz que vai durar até que a consciência do infinito e os seus limites impostos o acordem do sonho.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Retificação

Eu queria não ter dito aquela palavra.
Aquela frase que mudou o rumo.
Aquele desejo que mudou a rota.
A água que mudou a lavra.

Eu queria não ter feito.
Queria não ter causado.
Queria ter-me mudado.
Mudado todo efeito.

Queria ter desfeito as malas.
Queria não ter conhecido.
Poderia não ter insistido.
Teria evitado as falas.

Queria ter adivinhado.
Queria ter previsto.
Queria ter planejado.
Deveria ter antevisto.

Agora tudo é concreto.
Torto é o construido.
Queria o caminho certo.
Queria não ser iludido.

De fato carrego um fardo,
Tudo o que fiz.
Sou desafinado bardo,
De homem sou aprendiz.

Espero amanhã o acerto,
Serei feliz então,
De todos e de mim pretendo,
Se possível o perdão.

Não ha culpados,
Somente vítimas.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O surreal como remédio para a realidade.

Não creio muito nos limites entre real e irreal.  Acho que, na verdade não ha real ou o seu antônimo.
O que vivemos é um estado onírico ou surreal que não percebemos por estarmos inseridos nele como o peixe está inserido na água do aquário e, em função disso, não o percebe e digo mais, creio que cada um cria a sua "surrealidade".
O mundo é interpretado de forma absolutamente pessoal.  Usamos como ferramenta a nossa bagagem experimental.  Desta forma eu "leio" o meu mundo como se usasse uma linguagem exclusiva.
Ser "normal" ou ser "sociável" dependeria da capacidade em se comunicar interpretando o "dialeto" do outro.
Partindo desta visão me pergunto se somos justos em julgar o mundo já que, o mesmo mundo é visto e influencia o outro de forma diferenciada.  A minha visão de mundo não corresponde em absoluto com a visão de mundo dos outros.  A vida social nada mais é que o compartilhamento pacífico de mundos diferentes dentro de um mesmo mundo.
Imagine,  por exemplo, a situação política.
Ha um constante debate sobre o lícito e o ilícito mas, permeando a discussão ha sempre a opinião que expressa visões particulares.  Durante essa acalorada discussão que não leva a nada a realidade acontece e vai sendo percebida sempre quando já é passado.
Está visão surreal é, talvez a explicação para os efeitos dos acontecimentos sobre nós.  Sofremos esses efeitos sempre em tempo real enquanto discutimos a dinâmica dos acontecimentos partindo do que já aconteceu.
A briga no meu ambiente de trabalho "hoje" foi sobre a derrota sofrida por um certo time de futebol..."ontem".

O apartamento

Queria tornar eterno este segundo
Onde me aparto do mundo.
Segundo de consciência
Da própria existência.
Queria ter a consciência
Da inexistência do tempo
Pra sempre.
As vezes acordo do efemero sonho
E o olhar pra fora ponho.
E vejo tudo fora de mim
Assim
Como vejo agora.
Em seguida durmo
E volto a vagar sem rumo
Pelas trilhas dos que não acordam.
Olhares e coisas rodopiam
E eu não me percebo.
E quando me percebo
Vejo que o que existe não
Existia.
E antes de dormir de novo
De poderes de poeta me envolvo
E torno o que existe
Em poesia.

Escrito num raro momento de lucidez.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Brinde a Schopenhauer

Aos poetas meu cálice de cicuta,
Aos filósofos o fél do conhecimento,
Tudo o que produzem é ao vento.
Somente ao louco o mar escuta.

Ao triste o melhor vinho,
Só ele está acordado,
Sente a febre extasiado,
Sabe que sofre sozinho.

Aos dias a noite escura,
A brisa sal e fumaça,
A pedra muita vidraça.

Homem auto-insuportável,
Ser anti-sustentável,
A ti dou a loucura.

A mim nem vinho ou cicuta,
Aliviará aquilo que sinto.
A mim que azedo a palavra,
A melhor taça de absinto.

E que nietzsche o tenha.

Santa inquietação

Todo homem sofre, de si, o avesso.
O homem é oposto à paz,
Ha, sempre,  o querer mais.
A tristeza é um adereço.

Todo homem é uma metralhadora de si,
Ou um pequeno ralo para o mundo.
Todo homem é raso e profundo,
Nenhum se encontra aqui.

Está no passado ou futuro.
Absorto na tristeza ou esperança.
Nenhum homem alcança,
O final do tunel é escuro.

Eterno é o desejo,
Infinito o ensejo,
Infinita a procura,
Indelével amargura.

A paz é diversão,
Momentânea, enfadonha,
Com medo o homem sonha,
Com a própria inquietude,
Deseja a paz e, amiúde,
Por ela tem aversão.

A paz é uma refeição,
A paz é maledicência,
Ver no outro a urgência,
Pela própria redenção.

Mas a paz é momento,
A paz é subterfúgio,
Embriagante refúgio,
Um "esconder o sofrimento".

O homem é o animal que precisa de férias de si mesmo.

terça-feira, 14 de julho de 2015

O limite

Acho que já chega.
Não quero mais futuro.
Não quero mais o orgulho,
Daquilo que serei.

Parei.

Não quero mais amores (só um),
Não quero mais um corpo,
Para atrair outros corpos.
(Nenhum).
Hoje me encontrei,

Parei.

Não produzo mais imagem,
Não quero mais vaidade,
Nem a futilidade,
Não sou mais miragem,
Hoje desertei,

Parei.

Não quero mais as armas,
Nem a língua que fere.
Não quero nada que altere,
O rumo de outras rotas.
Não mais machucarei,

Parei.

Não quero notoriedade,
Não quero evidência,
Quero uma bem-querença (só uma),
Quero uma eternidade,
Quero boa a saudade,
Meus bons e velhos chinelos,
Meu cachorro,  livros velhos,
Ja vivi, desisti,

Viverei.

Patagônia II

Queria que um ar gelado,
Algo glacial como os ares do norte cobrisse a terra para sempre.

E que nada nunca mudasse.

Queria que os calores dos corpos fossem,
Para sempre,
Conscientes.
E que os calores desejassem sempre,
Outros calores.

E que nada nunca mudasse.

Queria que a troca de calores corporais fosse um esporte.
E que o amor fosse a lei.

E que nada nunca mudasse.

Queria às mulheres vestidas para o frio (tão lindas!)
Perfume com cheiro de lã!
Queria chocolate quente, não coca.

E que nada nunca mudasse.

Queria frio, lareira acesa e saudades de coisas boas.
Não essa saudade polvilhada de culpa.
Queria dormir de cobertor... quentinho.

E que nada nunca mudasse.

Queria nunca causar dor,
Alias, pra que serve a dor?
Queria não conhecer o suportar.
Queria apenas o amor...e o frio...e festa junina...e natal!
Queria que papai Noel caísse do céu,
E viesse morar comigo.

E que nada nunca mudasse.

Queria que fizesse frio, queria que nevasse, geasse, glaciasse e que o mundo parasse.

E que nada nunca mudasse.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Oferta

Não gosto de conselhos.
Nunca gostei.
Quem pode me privar do que não sei?

Quero que me permitam o erro.
O benefício de sofrer.
O malefício de aprender.

Quero queimar a mão na brasa.
Ser chamado de nome feio.
Voltar chorando pra casa.

Quero perder a namorada,
O emprego, o amigo.
Quero correr perigo.

Quem da conselho da porque ama,
Ou inveja a gente.
Conselho se da, não se vende.

Não quero conselho dessa gente,
Exigente.
Sou muito mais eu,
Um velho adolescente.

sábado, 11 de julho de 2015

Caboclo

Sentado num velho banco de madeira,
Um homem olha o tempo,
Só ha o tempo e o homem,
E o cheiro da vida inteira.

Olha o homem para a terra,
Com a terra conversa,
Sobre a terra ele versa,
Nela se encerra.

O que é problema?
Não sei, palavra feia,
Que rima com dilema.

Que é felicidade?
É a palha que eu pito,
É viver como o "Seo Dito".

Ao meu amigo e mestre "Seo Dito Xaripe.

Precipitação

A chuva é um intervalo na vida.
Argumento para a preguiça.
A chuva traz, na caída,
Tudo o que se precisa.
Bolinho de chuva!
Café quentinho,
E braços amados para se fazer de ninho.
Pausa para um cigarro,
E colocar o casaco.
A chuva traz o frio que esfria o estio.
Chuva de céu cinza,
Chuva que alimenta,
Chuva que refresca e esquenta.
Chuva pra namorar e criar família.
Pra não ir trabalhar.
Chuva que faz crescer
E tornar-se verde.
E eu vendo tudo isso da minha rede.
Barulho de chuva pra dormir.
Eu deixo a chuva cair.
E o céu de chuva vai pra lá e pra cá. ..pra lá e pra cá. ..
Pra lá. ........

O homem nu.

Acredito que a felicidade seja feita de momentos que se alternam com momentos infelizes e também acredito que os períodos felizes são tão maiores quanto menores forem as responsabilidades.
Acredito que o homem deve ter responsabilidades minimas. Se possível, apenas aquelas que lhe garanta o mínimo de conforto que lhe permita viver em estado de contemplação da natureza.  A isso chamo "vida".
Por ser animal gregário deve, o homem,  ter amigos, família enfim, deve se relacionar com outros.
Porém,  o que me vem a mente agora é a questão do "ser" (o verbo). "Ser" é algo que está relacionado com o desligamento das coisas em benefício do "construir-se", do "contemplar-se". É preciso que o homem se valorize acima de todas as coisas. É preciso que o homem se ame e, desta forma compreenda o amor de forma visceral para que possa, a partir daí,  amar às coisas. O homem deve ser pleno de amor por si a ponto de se proteger das próprias ilusões.  Deve criar a liberdade necessária para "exercer-se".  O homem deve dar vazão a sua arte e deve ser o seu maior apreciador.  Ao desvalorizar as coisas em benefício da sua valorização o homem retorna a natureza sem abandonar o conforto que criou. Ao perceber-se como filho da natureza e ao perceber que nisso está a felicidade o homem mata Descartes e volta a ser humano.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

As duas faces.

"A felicidade é um alívio momentâneo. "
Acho que a infelicidade advém do não advento da felicidade. É óbvio?  Temo que não.
Espera-se a felicidade.  Luta-se por ela mas, ela vem e vai.
Espera-se alguém que nos faça feliz, ou algo, ou uma situação.  Mas a felicidade, assim como a infelicidade, vem em visita e vai embora.  Vive-se numa incomoda alternância de estados. Um vai e vem nauseante.  A infelicidade dói,  a espera dói e a partida da felicidade ou a chegada da infelicidade (ambas se equivalem) também dói.
Talvez o que doa mais seja a insolubilidade da questão.
Não pretendo ser eu o criador ou descobridor da solução para tudo isso (pobre de mim!) mas, como bom observador crítico, tenho cá minhas teorias.
Tenho notado que, apesar de alternante, os momentos felizes tendem a ser maiores para aqueles que não dependem tanto das tecnologias comercializadas e que estão mais próximos a natureza.  Quando digo "proximos a natureza" quero dizer "fiéis aos seus desígnios" ou "fiéis aos seus instintos". Ao contrário do que se acredita, os irracionais não são naturalmente violentos e beligerantes.  Todo animal livre é naturalmente amoroso com os seus e respeitador com os outros.  Apenas os "racionais" (hã hã!) são violentos gratuitamente.
Somos felizes/infelizes porque nos afastamos da simplicidade natural e criamos uma felicidade pendurada na ponta de uma vara para seguirmos, infelizes.
"A felicidade é uma cabana."
A felicidade também conhecida como "liberdade" advém do afastamento dos excessos.  Da diminuição dos fardos. Da "aniquilação da imagem".
A felicidade é o necessário que traz a segurança.  A felicidade é o mínimo no mínimo.
Ser feliz é viver pelo amor a dádiva.

A pipa!

Julho é mês da molecada.
Mes de não fazer nada,
De correr atrás.

Julho é o mês de quem faz,
E sabe fazer.
Julho é mês de correr.

Rabiola, papel e linha,
Enrrolada na latinha.
Julho é o mês da criançada.

Uma algazarra danada!
Pula o muro do vizinho.
Mês de não ficar sozinho.

Mes de triscada, do rélo,
Mes do céu mais belo,
Senão o mais mirado.

Mes do pé machucado,
Vitima de topada.
Julho é mês... da molecada.

Julho é mes de correria,
Deles que nem imaginam,
Que fazem poesia.

Bola, pião e gude,
E o meu coração, amiúde,
Corre, corre, corre. ...
Ta na mão! !!!!

terça-feira, 7 de julho de 2015

Amigos e espelhos

São 16:10 do dia 07 de junho de 2015 e estou sentado num pequeno palco de um complexo esportivo.  A minha volta um pequeno porem enormemente barulhento grupo de adolescentes.
Não perco um som. Não perco um movimento.
São garotos construindo um mundo novo bem debaixo do meu cavanhaque. Sinto-me num momento histórico.  Feliz por ter consciência suficiente para apreender o momento.
Olho os olhos de todos e todos se olham com um profundo interesse em si. Explico.
Cada garoto olha o outro como se olhasse o próprio reflexo num espelho. Ajeita-se e trejeita-se e observa o resultado no outro.  Cada movimento,  cada som traz uma alegria ou uma decepção.  Cada um pergunta para o outro de forma não verbal "quem sou eu?" "O que eu sou?".
Cada um constroi o outro e é construido.
Um dia serão a síntese das suas relações.
Ah! Se cada um soubesse a responsabilidade e a oportunidade que tem nas mãos!
Fico aqui, ouvindo todo esse barulho ( tadinhos dos meus pais! ) e imaginando o homem sem espelhos. Acho que seria um animal feio e disforme.
E como brilham esses espelhos!

Fronteiras

O homem é um animal finito,
Amaldiçoado com a infinita vontade.
Denso de vaidade,
O homem é um grito.

Raso sussurro pelo que desconhece.
O choro pela cegueira.
A procura pela maneira.
O homem desfalece.

O homem é a perene queda,
Mirando o que é desejado,
O homem sonha-se alado,
Sentado sobre uma pedra.

Precisa o homem de Deus,
Sem ele não sobreviveria,
Sobre os delírios seus.

O homem é condenado
A olhar, enfadado,
Para os limites que cria.

Fardo

Eu carrego a mim sobre os meus ombros.
E sobre os meus ombros carrego a minha casa,
E desejo.
Dentro de mim carrego
Tudo que amo,
E péso.
Sou pesado por tudo que carrego,
E suporto.
E suporto porque nada mais me resta.
Eu carrego o mundo nos meus ombros.
Mundo que eu crio enquanto carrego.
Eu carrego a esperança dentro de mim.
Me acovardo.
Eu carrego este corpo que pensa que me carrega.
Eu iludo.
Sou fruto da imaginação
Tresloucada.
Eu carrego o que sou,
E sou a triste rima,
Desta patética quadra.

Eu

Houve um tempo sem dor,
Não havia sorte,
Não havia queda,
Desconhecia-se a morte,
Não era nascido o amor.
Houve um mundo inconsciente,
Onde tudo era verdade.
Houve um dia a vida,
Na sua mais pura crueza.
O homem era um corpo,
E andava nu e nua a sua alma.
Não havia tristeza e nem alegria.
Não havia decadência nem
Velhice.
Não havia demência.
Não havia desejo,
Havia necessidade.
A mulher era a terra,
O homem o vento que,
Sem identidade,
Espalhava homens
E ia.
Não havia Saudades!
(Bons tempos!).
...Dia e noite, noite e dia.
Então. ..fez-se a luz,
E eu nasci.
Eu.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Pombinha

Trazida de longe nos ventos de uma tempestade,
Trouxe a areia dos tempos em forma de nuvens,
E choveu sobre a cidade,
Triste cidade vazia que foi vazia um dia antes dela.
O abanar das asas puras trouxeram alivio.
Já não há noites escuras.
Todas as luas são cheias.
O vôo dos pássaros perde a graça quando, voando, ela passa.
E vem voando em minha direção e sem tocar no chão,
Me abraça.
Queria caminhar pela vida deixando os restos pelo caminho.
Mas entre os restos que deixo, escondido em seu meio há coisas que amo,
E eu volto e choro cheio das areias do tempo.
Do mundo deveriam ser duas às metades;
Uma com os meus passados e esquecíveis restos,
Outro com amores infindáveis.
Um mundo povoado por pombinhas,
Onde só haveriam dias.

sábado, 4 de julho de 2015

Memórias comportamentais

Tenho já meio século e e esta "média secularidade" me autoriza a falar das mudanças da moral como algo sistemático.  Falar das mudanças culturais como um processo dinâmico e específico absolutamente voltado para o conforto do homem em detrimento da natureza.
Quando criança,  na zona rural de Atibaia, S.P,  minha terra natal,  eramos tidos como "remediados" portanto,  um degrau acima de "pobres" porque tinhamos um radio AM.
Não havia fogão a gás,  água encanada e havia apenas uma lâmpada e uma tomada elétrica.  Havia um poço que supria às nossas necessidades hídricas via balde e sarilho,
Uma "casinha" (banheiro) externa e espaço,  muito espaço!
Nossos brinquedos ae resumiam a gravetos, terra, água e uma imaginação que não caberia em todas às lojas de brinquedos do mundo.
A responsabilidade também fazia parte das brincadeiras já que trabalhávamos para ajudar os nossos pais, seja os mais velhos pajeando os mais jovens, seja botando a mão na massa literalmente.
Vi muita mãe jovem com o filho montado nas ancas a cortar galhos com um facão ou de cócoras cuidando de hortas.
Vi muitos homens chegarem em casa caindo às gargalhadas,  picados por abelhas com baldes cheios de favos de mel!
Vi senhoras de muita idade sairem dos matos com enormes feixes de lenha nas costas já encurtadas pelos longos anos de luta.
Não havia tempo para a maldade.  Falava-se sobre o tempo e sobre a roça de milho ou outros alimentos.  Gabava-se sobre a quantidade de litros de leite de uma vaca ou a produção de ovos enormes de uma galinha.
Amava-se sem a dialética.  Amava-se.
Respeitava-se porque respeitar era bonito.
Ajudava-se porque era obrigação.
Rezava-se para agradecer ou para agradar a Deus ou a um santo específico.
Havia fé sincera (eu já criara os meus Deuses)
Agora olhe a sua volta.
Essa é a diferença.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Mamutes

São estranhos esses seres,
Pesados de conhecimentos,
Exímios em experimentos,
Automáticos em afazeres.

Tem eles a cabeça branca,
Alvejada pelas estações,
São velha gente,
Seres de antigamente.

Quase já não cabem no mundo
De tão fartos de tanta coisa vista.
Tem olhos de despedida
E a tristeza de quem antevê
Uma grande saudade.

Já viveram a vida
E da vida já colheram.
Tem o desejo do retorno
Enquanto no entorno...
Brincam as crianças,
As brincadeiras que um dia
Foram suas.

Talvez, talvez um dia,
Alguem,  acidentalmente,
Os encontre em um iceberg,
Ou escondidos numa pilha
De papéis mofados.
Mas agora só querem ser
Olhados,
Com carinho.

A ética dentro do contexto.

"A moral é o valor, a ética o comportamento. "
O valor é sempre um aspecto particular já que é preciso que seja entendido como valor e, o valor norteia o comportamento.  Agimos baseados na interpretação pessoal dos valores portanto, o comportamento do indivíduo é a síntese das suas crenças.
O comportamento tem como objetivo o bem, a segurança e o conforto.  Desta forma há uma tendência natural para que os valores também objetivem o conforto ou seja, em última instância, a moral e seus valores são "convenientes".
As perguntas  que  faço são;
Dentro do contexto atual no Brasil e, levando em consideração que todo brasileiro almeja o conforto e que a moral objetiva o conforto, ha o "enriquecimento ilícito"?

Observo o comportamento das pessoas a minha volta e percebo uma corrida frenética por vantagens.  Ora, se esse é o modelo de comportamento vigente a moral do brasileiro não seria moldada para se adquirir a vantagem a qualquer custo?

A moral e a ética geral brasileira permeia tudo no Brasil e no brasileiro, obviamente;
Não estaria o nosso sistema de ensino contaminado a ponto de criar cidadãos "amorais"?

Não estaríamos num lento e imperceptível processo de "moralização da imoralidade"?

O que é lícito?

Jovens do barulho!

..."O produto da juventude é o barulho! "
Cheguei a essa conclusão após 50 anos de observação.  E olha que não foi fácil!
Mas, como crítico e analista da vida, não pude deixar de traçar alguns paralelos.
Primeiro: Não me lembro de ter sido tão barulhento na minha juventude!  Ou seja, de alguma forma apagamos azedamente aspectos alegres das nossas vidas e colocamos no seu lugar conceitos "corretos" nascidos das nossas "contaminações responsáveis e sisudas", às mesmas de nossos pais e avós, coisas que criticavamos como "caretas".
Segundo: O barulho do jovem é a celebração das possibilidades,  a afirmação da sua potência e o ruído estrondoso que afasta os maus espíritos do medo da vida adulta e às suas consequentes limitações.  Jovens fazem barulho porque tem medo do desconhecido, medo do desconforto advindo das responsabilidades impostas, medo da morte da liberdade com a qual vieram ao mundo e que a "existência artificial" lhes amputa.
Já fui um jovem barulhento apesar de não me lembrar mas o que me incomoda é o fato de eu ter escolhido me silenciar como a vida anti natural me "mandou".
Nietzsche, no seu maravilhoso "O crepúsculo dos deuses" fala de como a repressão dos instintos e a super valorização da razão transformou o homem de obra prima da natureza em um autômato racional.
Esperemos o advento de  um "jovem e barulhento pajé-messias" que venha nos ensinar uma perpétua dança que restituirá o amor instintivo.
Cantem minhas crianças, cantem.