quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A palavra que induz ao erro

Sobre a palavra como representação da realidade e o problema da interpretação.

Acho que já falei do problema da palavra e o seu significado altamente flexível.  Mas não poderia deixar de comentar sobre a questão da palavra enquanto indutora do erro ou da ilusão até porque, isto tem me incomodado bastante.
A palavra tem, como princípio, a representação de algo.  Nasce, ela, da racionalidade quando, ao perceber as coisas como algo a parte de si e, desta forma, ao perceber-se a parte das coisas o homem sente a ânsia de nomeá-las para afirmar a sua própria individualidade.  Sem a palavra seríamos coisas como todas as coisas. Creio eu que os animais irracionais desconheçam o sentido profundo da individualidade e não tenham a capacidade de se perceberem como "algo a parte". Um animal deve perceber-se parcialmente como algo que não pode morrer e, por isso, luta pela própria sobrevivência porém,  esta necessidade de sobrevivência é limitada. É por isso que os animais não tem uma tecnologia que os proteja da morte e lhes de conforto.
Voltando à palavra, ela serve como representante de algo.  É uma "chave" para a formação de uma imagem mental que levará a uma sequência de idéias que gerarão uma reação.
Já que é algo que gera uma imagem a palavra tem o seu significado subordinado às experiências daquele que às recebe.  Portanto, a palavra tem os seus efeitos intimamente ligados à cultura do receptor.  Sendo assim, a palavra tem sempre a possibilidade de uma interpretação "poética" ou seja, livre e desencadeia reações variadas que dependem das experiências, principalmente aquelas ligadas ao emocional que geram memórias mais profundas; mormente aquelas ligadas a auto preservação.
Partindo destes princípios passo a imaginar que as várias formas de expressão da palavra tenham efeitos, também, vários.
A melhor forma, ao meu ver, seria a palavra falada e dita pessoalmente em função da sua carga emotiva e gestual que lhe confere vida, significado concreto, facilita a formação rápida de idéias e é melhor e facilmente memorizada.
Já a palavra escrita, esta sim, traz alguns problemas. O primeiro é, imagino, a falta de emoção já que, a palavra escrita é composta de símbolos que estimulam apenas a visão cujo senso estético e emotivo é limitado a cores e formas trazendo a tona reações baseadas em memórias bastante básicas. Esta forma de representação de algo é aquela que mais induz ao erro pois locutor e interlocutor tem vivências diferentes e significam a palavra de forma diferente. Neste caso,  a falta dos gestos e emoções na expressão criam um ambiente propício a interpretações muito diferentes e dão a palavra sentidos ambíguos e conflitantes.  Este "ruido" gerado pela pobreza de expressão da palavra escrita exige um trabalho maior e minucioso para expressar uma idéia sem causar às irritantes explicações e mau entendidos.
Por isso advirto a você que, gentilmente, lê os meus textos para que os leia de forma imparcial e com imaginação contida.
Lembre-se de que a palavra é uma representação pobre de algo que, em sua existência concreta, é muito mais grandioso.
Diz-se que a palavra é mágica porque pode se transformar em tudo o que quisermos, mesmo em algo que não condiz com a realidade.

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