sábado, 14 de novembro de 2015

O outro invisível

De como a consciência da existência do outro nos insere na vida.

Já disse, e acho que, alem de mim, outros já disseram que, o homem é um ser inconcluso, acho eu, o único ser inconcluso já que, a sua evolução ou "adaptação" se da instantaneamente e não em milênios.
Por ser "inconscientemente consciente" da sua inconclusão o motor do homem é a "procura" da sua conclusão alimentado pela esperança de encontra-la.
Mas, assim como um viajante precisa de um mapa que lhe de referências sobre onde ele está e sobre como chegar ao destino desejado, o homem também precisa de um "outro mapa" que lhe indique quem ele é e, baseado nisto, como deverá ser para se concluir.  Ao estado concluso o homem chama de "felicidade". A conclusão de si é o sonho de 100% da humanidade. 
O amor e a fome (reprodução, conservação da espécie e auto preservação) movem o homem instintivo mas, ao homem consciente de si, ao homem que sente o mundo "sem a sua pele", ao homem que é tocado por tudo estando em carne viva, a este move-lhe a necessidade do descanso ao fim da obra, move-lhe a necessidade da auto conclusão.
O "outro mapa" acima citado é a referência a partir de uma outra pessoa.  É a outra pessoa como "espelho". Você se comporta e, ao te perceber se comportando, eu me vejo me comportando de forma igual já que somos iguais e, desta forma, temos as mesmas possibilidades de comportamento.  "Eu te percebo como "eu" e, de acordo com o que gosto ou não "em" mim eu gosto ou não "de" mim... em você e gosto ou não de você." Mas você, o outro, é necessário e, digo mais, é imprescindível na construção da minha identidade para eu mesmo.
Sem o outro eu não sei quem sou e, sem saber quem sou, eu não vejo uma conclusão possível para mim.
Para o homem, ainda sem a razão, a vida em grupo, ou seja, a criação da sociedade se da em função da consciência da sua fragilidade física perante uma natureza exuberante e cruel.  Para o homem, já portador da razão,  a vida em grupo ou em sociedade se faz necessária para a construção de uma identidade (caminho) que o levará a sua conclusão e a "paz" ou "descanso eterno".
O problema é que o indivíduo vive em três mundos:
Aquele que ele cria para si, um mundo ideal;
Aquele que ele cria para o outro, um mundo não facultativo onde "o outro deveria ser aquilo que eu desejo" e;
O mundo real, aquele em que tudo foge ao meu controle me contrariando o tempo todo e me obrigando a lutar ou a me submeter (dominação e submissão, "ser ou não ser...").
A tempestuosa interação entre estes três mundos é o substrato do homem,  o solo onde ele viceja, floresce e frutifica sem parar e sem se concluir ou seja, a interação destes três mundos gera um ruidoso e incomodo conflito que inquieta o homem.  O homem é um animal que vive atormentado pelas possibilidades e pelos seus limites diante delas.
Diante deste, aparentemente, interminável conflito o homem turva a sua visão para o outro desenvolvendo do outro uma imagem distorcida ou, até, uma "não imagem". Vemos o outro como uma sombra ou como nada.
"Santo de casa não faz milagres! "

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