segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O homem de duas faces - 1

Sobre o meu incomodo com a dualidade de tudo.

Os gregos sempre tiveram razão até Sócrates. 

Os admiráveis gregos pré socráticos tinham um enorme e bem elaborado sistema para explicar o homem, o mundo e suas relações.  Para eles o homem era parte do universo, um universo exuberante, cruel, horrendo enquanto instância inacessível e misteriosa.  Para o grego pré socrático a existência era uma alternância entre prazer e dor e, na sua angústia, ele procurava explicações para tudo aquilo.  Na ânsia por respostas ele criou os seus Deuses os quais pertenciam a mesma natureza que ele e compartilhavam das suas angústias, virtudes e defeitos.  Os Deuses gregos justificavam o homem.
De todo panteão grego os meus prediletos são Apolo e Dionísio.  Prediletos por justificarem a dualidade no homem ou seja, ambos simbolizam o homem racional e o irracional nos seus extremos.
Esta minha curta explanação pretende refletir e levar a refletir sobre a dualidade no homem, representada por esses maravilhosos Deuses míticos, e pretende abrir um caminho para a redenção do homem pois creio que o indivíduo só deve ser culpado pelos seus atos se agir apenas com a razão ou seja,  agir com absoluto e racional controle sobre os seus atos atividade que considero impossível.  Como sempre digo, no final só há vitimas.
Mas como Apolo e Dionísio representam essa dualidade humana?
Não vou me ater a genealogia desses Deuses já que há farta e acessível literatura sobre o assunto disponível a quem deseja estas informações.
Resumidamente, Apolo é o Deus da beleza, das formas, da razão e daquilo que seria evolutivo no homem e na natureza.
Já Dionísio é o Deus do instintivo, do vibrante, do irracional, é o Deus do homem primordial, aquele que não foi maculado pela razão e segue os desígnios da natureza.
Ambos esses seres míticos "habitam o homem".
Creio eu que apolo possa ser o representante do que Freud chamou de Super Ego e Dionísio seria o representante do Id (o meu preferido).
Ambos os Deuses, apesar de opostos nas suas características, seriam complementares.  Nas artes, por exemplo e como observou esplendidamente Friedrich Nietzsche, Apolo representaria o sonho, a representação fantasiosa da realidade que facilitaria para o espectador o seu entendimento.  Apolo seria, portanto, o Deus da configuração ou seja, o Deus das formas representadas, por exemplo, pelas artes plásticas e por tudo o que nos estimulasse através da imagem.
Dionísio, por outro lado, seria o representante do homem em estado bruto, obediente e desejoso em seguir os desígnios da natureza.  É o Deus da libertação pelo entorpecimento, da lascívia, da sensualidade, do sexo. Nas artes é o Deus das formas de estímulos onde a imagem é gerada ao invés de ser o veículo do estímulo, por exemplo, a música que, ao nos impressionar, nos induz a imagem.
No homem estes Deuses travam uma cruel disputa pelo controle do mesmo que, dividido por estas duas instâncias, "comporta-se".
Estes dois homens que disputam, a saber, o racional e contido e o irracional e sem regras, são a síntese do humano e a raiz do seu eterno conflito.
Em seguida tratarei daquilo que entendo como a formação do comportamento por estas duas instâncias.

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