sábado, 21 de novembro de 2015

O manual de um Deus

" 26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
Gênesis - 1"

Sobre o caminho  da libertação do homem ou "como apartar-se da manada".

Quando falo em Deus quero usar aqui os seus atributos como atributos que, se conquistados pelo homem, torna-lo-ão efetivamente livre para criar.  O versículo de Gênesis aqui citado não tem o propósito de remeter-nos ao aspecto religioso, espiritual ou místico.   O intuito é criar uma imagem que torne possível o entendimento da possibilidade de cura das dores existenciais do homem a partir da conscientização da sua individualidade ou, da sua libertação da manada.
O atributo divino primeiro e o que caracteriza a sua liberdade é o poder de criação.  Os Deuses, de uma forma geral,  são criadores livres ou seja, tem a prerrogativa de criarem os seus próprios destinos.
Usando um exemplo conhecido no ocidente mas não o único cito Gênesis - 1/26 onde Deus, exercendo a sua liberdade, cria o homem e o liberta dizendo " Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" ou seja, "faça-se o homem igual a mim". Desta forma o homem é criado com todos os atributos divinos não sobrenaturais que o tornam livre e, assim como a um Deus, o tornam um "indivíduo", uma célula da humanidade autônoma, um ser gregário em função da sua pequenez física porém solitário pelo seu poder de criação da sua própria virtude.
O homem é um ser auto construtivo.  Um animal apto a criar o seu próprio mundo individual.  Um criador de cultura própria e disseminável. O homem tem a capacidade de criar solitariamente e compartilhar o que criou com o grupo ou seja,  ele é capaz de criar um bem para si, o indivíduo, e para a coletividade, o grupo.
Porém,  o homem é, essencialmente, um indivíduo, alguém com uma identidade própria e que tem como modo natural a autonomia.  É esta tendência e necessidade da autonomia que dão ao homem o sentido de liberdade.  Então,  a liberdade para o homem é a dissociação de tudo e a absoluta liberdade de criar o seu mundo e o seu destino.  Qualquer outra forma de existência lhe causa a doença. 
Ora, já comentei que o homem é um ser gregário por conveniência mas, essencialmente, é autônomo porém, em virtude da dominação e para mante-la criou-se o contexto de "manada" onde o homem foi inserido e transformado numa rês.  Como uma rês ou membro da manada o homem precisa criar uma identidade comum a manada ou seja, ele deve se "pluralizar" em detrimento da sua singularidade natural.  Obviamente essa pluralização do indivíduo que é, por natureza, singular leva-o ao sofrimento e a doença.  Pode parecer um contra senso mas o homem deve ser um indivíduo autônomo dentro de um grupo. 
Para ser feliz e viver plenamente a sua existência deve o homem se libertar da dependência do grupo para construir-se.  Ele deve "andar solitário entre às gentes". Mas isso será um exercício terrível pois o sentido de manada e o conforto de fazer parte de uma são muito fortes.  A manada não tolera membros que se diferenciam e fará tudo para não perder uma rês.
Este conflito pode ser testemunhado modernamente nos fenômenos das redes sociais que fortalecem o sentido de manada e estimulam a dependência por aprovação da rês pelo grupo.  Aquele que não consegue a suficiente aprovação da amada se sente apartado e teme a solidão e a falta da segurança e do conforto oferecidos pelo grupo.
Assim, aquele que deseja ser livre deverá transcender ao grupo e deverá se libertar da sua dependência assumindo o controle sobre a construção de si mesmo.  Isto, naturalmente, será doloroso e exigirá coragem e abnegação.  Este indivíduo deverá estar pronto para ser objeto de preconceitos por parte dos membros do grupo e deverá estar pronto para a solidão pois é na solidão que se constrói a singularidade que o transformará num "Deus".
E como um Deus ele deverá se posicionar acima da moral.  Ele não dependerá de aprovação e nem precisará dar satisfações.  Ele usará o seu tempo para criar livremente como criaria um artista que vê o mundo do cimo de uma montanha.  Este homem livre exercerá o seu "eu" natural em sua plenitude e, como a um Deus, estará acima de qualquer pecado.
Ele dominará sobre a terra aliado a sua mãe, a natureza.

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