quarta-feira, 29 de julho de 2015

O princípio da felicidade

Conceito

A felicidade, segundo o homem moderno, é um estado infinito e profundo de bem estar fisico e emocional.  É um estado de excelência onde nada perturba. Um estado de profunda e absoluta satisfação.
Naturalmente este estado é idealizado e, como todo ideal, é impossível. 

A ilusão do ideal.

A palavra "ideal" nos remete a ideia de "algo pleno em significado e função que traz absoluta satisfação"; "algo que nos prove de forma a não se deixar a desejar" ora, todo estado traz em si infinitas variáveis que, na maioria das vezes,  não se coadunam.  Desta forma, algumas destas variáveis não se realizam positivamente com relação aos objetivos almejados tornando o ideal irrealizável.  O que se tem é sempre um objetivo estilhaçado que nos leva a insegurança e a angústia por percebemos a nossa impotência diante da vida.

A reação.

Ao vivenciar as dores da angústia gerada pela percepção da própria impotência e, não percebendo que as raízes das suas angústias estão na "idealização", o homem procura novos objetivos idealizados ( um "grande amor", segurança financeira,  auto afirmação, etc) e recebe novos "cacos de sonhos" que o levam a uma crescente angústia.  Ao longo do tempo (e o tempo é o carrasco que amputa os sonhos) o homem desenvolve a apatia característica dos que se cansaram de lutar e, por orgulho ou vergonha do fracasso, nomeiam "contentamento".

A cultura da infelicidade.

Este processo de derrota é ensinado às gerações de forma que este estado de tristezas passa a ser visto como natural e às dores nos caem de forma fatalista.  Alias, o fatalismo disfarçado de tranquilidade é um dos comportamentos notáveis do homem moderno.  Ve-se a vida como a um filme que se passa numa tela muito distante. Observa-se o mundo como se o observador não vivesse nele. Como se a observação se desse a distância segura.  Isto leva à não percepção da dor do outro. Frases como "isso nunca vai acontecer comigo" caracterizam este estado.

A importância dos processos de construção da felicidade.

A felicidade é construída a partir da consciência constante do estado em que se vive e a consciência constante das causas e efeitos de tal estado.
Na verdade creio que o distanciamento do homem da natureza é a única causa da infelicidade.  A não observação do ambiente propício ao desenvolvimento humano e o não suprimento das necessidades básicas que permitiriam a sua paz de espírito são os elementos mantenedores do "círculo vicioso" que tem gerado a evolução da infelicidade.
A meu ver, o despojamento de bens materiais resumidos ao estritamente necessário aproximaria o homem do seu estado natural. O homem deve perceber que a felicidade é o seu objetivo unico e deve agir de forma a realiza-lo.

O dilema.

Voltar-se para a natureza ou voltar às costas à ela?
Aceitar-se como fruto dela ou renega-la?
Eceitar o fato de sermos parte de uma infinita rede e assumir as nossas responsabilidades ou continuar o processo de "artificialização"?
O homem não está numa encruzilhada porque nem sequer se apercebeu da sua triste e desesperada figura.  Não percebe que "eu e o outro somos um".
A última e definitiva escolha será viver de forma natural e feliz aceitando-se como ser natural e sem pecados ou continuar negando-se até o colapso.

A cabana

Eu e o mundo
Um só eu
Vozes ecoam em mim
De fora pra dentro
De dentro pra fora
Telhas de barro
Som domésticos
Cheiros de casa
Doces rotinas
Já não ha mais tempo
Já não careço de pressa
A vida passa
E me cumprimenta
E eu a cumprimento
Escorado na enxada
A alegria está aqui
Sempre esteve
Pezinhos sujos de barro
Do mesmo de que sou feito
Meu cão abana o rabo
Dinamizando a vida
Me confundo com tudo
E tudo se funde em mim
Sou síntese
Não ha antítese
Nem o não existe
Ha muitos Deuses
Todos lindos
Tudo é naturalmente claro
Ha fluência
E a decadência
É apenas
Um novo começo.

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