domingo, 19 de julho de 2015

A esfera negra.

Carrego em mim o fardo dos medos,
Ando pelo caminho escuro,
E, logo atrás de um muro,
Sobre eternos rochedos...

Um altar me espera.

Adentro aos muros e galgo a ancestral escadaria,
Do alto a morte espia e mede os meus passos.
Pergunta-me se desejo algo.

--Deixa-me entrar por essa porta,
Trago medos como oferenda,
Poupa-me da inútil contenda,
Tu, que és sempre morta!

Rindo da minha coragem,
Com seus cadavéricos dedos,
Gira o antigo ferrolho,
E me deixa adentrar com meus medos.

Ando por um corredor escuro,
Onde estão meus temores,
São tantos ali os horrores,
Que aos demônios esconjuro.

Encontro um amplo salão,
Nele ardem muitas tochas,
A minha frente dois altares,
Descansam sobre eternas rochas.

Me aproximo do altar menor,
Sobre o maior me espera,
Como se de mim soubesse,
Uma negra esfera.

Ao sentir minha presença,
Gira sobre si o negro globo,
Ergue-se e no ar flutua,
Gelida, metálica, imensa.

Pairando no ar ela cresce,
Vem se aproximando de mim,
Atravessa toda a sala,
E para em minha frente, por fim.

Percebo que em suas paredes,
Ha uma pequena abertura,
Que servira futuramente,
Para me aliviar a amargura.

--Gira-te agora, ó esfera,
Muda agora em cores,
Deixa tua cor escura,
E leva contigo meus temores.

Escolho um temor terrível,
Daqueles que me tiram o descanso,
Trago ele a tona,
Até onde o alcanço.

Sinto-o chegando, medonho,
Sinto sua fria presença,
E em uma única sentença,
Ordeno que se transforme em sonho.

Vivencio o meu temor,
Sinto fluir às dores,
Revivo todos os horrores,
Faço em fumaça o horror.

E saindo do peito essa névoa,
Do medo que então admito,
Usando de todas as forças,
No luzente globo deposito.

Faço-o girar novamente,
Enquanto diminuo seu tamanho,
E quanto menor ele fica,
Maior controle eu ganho.

Faço agora a esfera,
Do tamanho de um grão de areia,
No centro do salão iluminado,
Um simidouro espera.

Lanço o ínfimo grão,
À boca do simidouro,
Vai-se meu temor então,
Fica-me o bom agouro.

Há boa sorte aos que não temem.

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