segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O veleiro

Sou um veículo denso,
Ao mesmo tempo passageiro,
O nada tenho como destino,
Nenhum vil ancoradouro.
Move-me ela, a morte,
A título de vela e vento,
Da-me de indivíduo o sentido,
Tange-me com o sofrimento.
Impõe-me a vida sem escolha,
Força-me ao improvável futuro,
Obriga-me a amar seus passos,
Da-me dor num cálice obscuro.
Faz-me andar por seus vales,
Pago a ela o pedágio,
Dou-lhe autoria dos males,
A mim impõe presságios.
A temo e a amo, ó morte,
Tu me insuflas a vida.
Qual seria minha, a sorte?
O que seria a medida,
Daquilo que me aguarda?
Passado e futuro não haveria.
Sem tu, amada morte,
Nem homem existiria.

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