sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A humanidade como produto da morte

"A morte é a mãe do humano."

Com esta frase, imagino contundente, começo uma reflexão sobre os princípios da humanidade.  Quando digo "humanidade" me refiro a condição de humanos e não ao coletivo de homens. 

A morte é um marco na existência de qualquer ser vivo porém, é vivenciada de acordo com a espécie.
Para uma árvore,  talvez, a morte de outra árvore não signifique nada (parto do princípio não comprovado de que as árvores não sentem). Para algumas espécies de animais a morte de um semelhante pode significar um perigo imediato mas, para o homem ( ah o homem!), para o homem a morte é a corroboração do fato da existência. 

Se o meu "semelhante" morreu "racionalizo" que, já que somos semelhantes e, se ele se encontra num estado diferente do meu, ou seja, morto e, se eu vejo-o morto infiro que estou "vivo" e, consequentemente,  posso vir a morrer.
A partir desta premissa percebo a "minha existência" como indivíduo pois percebo-me semelhante a alguns e diferente de alguns.
Assim nasce a razão e, com a razão o indivíduo.
(Adão, engasgado com a maçã, percebe que ha um Deus e ele.)

Mas, a morte é (ainda) o maior dos mistérios e, o fato de ser um mistério que da ao homem a certeza da própria existência agrega a ela valor. E este valor torna a morte, para o homem, um bem precioso.

O homem cria os ritos fúnebres que tem vários sentidos:
O homem valoriza o cadáver pois este simboliza a existência, visto que é o seu oposto, afirmando-a;
O homem infere que, se há morte há uma causa e, já que ele desconhece a causa, ela é "sobrenatural" portanto, há a possibilidade de ser causada por "alguém" (nascem os Deuses) que pode causar a ele a morte.  O homem procura, então, ganhar a simpatia desses Deuses pois teme a morte;
A morte é a partida e a infinita ausência de alguém que dava ao homem algum alívio e o que sobra deste alguém é a memória que, baseado na ilusão da posse (se me faz bem eu desejo e, se está comigo e, até que uma força muito grande prove o contrário, "É MEU!") ;
O medo da morte é compartilhado com os seus semelhantes tornando-se um "elo" que os une e, os aproxima da igualdade a partir do momento que se percebe a morte como o destino comum a tudo ( a morte nos faz gregários).

Obviamente ha muitos outros bons motivos para que o homem cultue a morte mas prefiro deixar para aqueles que desejarem os listem a título de debate.

Somos humanos porque sabemos a morte e sabemos que somos diferentes dos mortos e tememos a morte porque ela nos limita e esse limite infere algo além.

Tememos e adoramos a morte porque a morte nos infringe o sentido de finitude o que nos faz inferir a infinitude nunca provada.

Amamos a morte porque, ao contrário das outras espécies, ela nos faz vivenciar a existência e nos faz valorizar o fato de existirmos e nos da uma consciência luminosa e estimulante de tudo.

Conheço a morte logo, estou vivo.

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