domingo, 14 de junho de 2015

O velho

Um dia, de madrugada,
Enquanto eu caminhava,
Vi, sob uma porta, sentado,
Alguem que, curioso, me olhava.
Era figura estranha,
Cinza, encarquilhada,
Ele, da porta me olhando,
Medindo minha passada.
Era um velho, eu nem tanto.
Mundos ímpares, diferentes,
Eu com meus afazeres,
Ele com afazeres ausentes.
Decerto de mim pensava,
Porque o andar apressado,
Se a vida já é escrita,
Já é o destino traçado?
Por mais que se corra na vida,
Pela morte se é alcançado.
Eu por ele cismava:
Pobre velho acanhado,
Não quer poder de investida,
Não ve sentido na vida,
Ali na porta sentado.
Continuei a minha caminha,
Pressa cotidiana.
Ficou lá o velho sentado
Na soleira da cabana.
Ele, pensado por mim,
Eu, por ele pensado.
Passou por mim o tempo..
E, um dia, de madrugada,
Não tendo afazeres nada,
Sentei-me a tomar a fresca,
Aos pés da porta minha,
E eis que, apressada,  lá vinha,
Uma estranha criatura. ....
Era eu!

Um comentário:

Ola. Obrigado por ler e comentar. A arte é a expressão das angustias humanas e este blog é um espaço de reflexões e, com a sua participação caro leitor (a), um espaço para o debate filosófico existencialista. Peço a você que comente criticamente, expresse a sua opinião, recomende o blog e, para pareceres de foro intimo ou pessoal utilize o meu email. Um grande e poético abraço.