Neste pequeno texto procuro analisar de forma crítica a influência das estruturas mutantes das dinâmicas usadas para a aquisição de bens sobre as dinâmicas nos relacionamentos humanos.
Chamo de "dinâmica" a um conjunto de procedimentos ou ações que tem um fim definido e "estruturas" a esse conjunto de procedimentos.
Não discutirei aqui os benefícios ou malefícios de tais dinâmicas mas sim, às mudanças ocorridas ao longo do tempo e suas consequências.
Antes do advento do capitalismo o mundo vivia uma realidade onde as relações pessoais com as coisas eram muito mais sólidas. Um camponês que desejasse comida tinha que cultiva-la com os recursos locais e suas tecnologias. A produção era praticamente artesanal e, desta forma, o valor agregado a tudo era grande. Tudo era "caro" ( no sentido de "querido"). Tudo deveria durar muito em função da complexidade da produção. Havia uma cultura voltada para a manutenção, ou seja, tudo era passivel de conserto e a durabilidade era uma qualidade muito desejável.
A tudo isso o homem deu o nome de "tradição".
Portanto podemos afirmar que a "dinâmica para aquisição de bens" tinha uma estrutura complexa que agregava valor ao bem desejado tornando-o tradicional.
Com o advento do capitalismo e, consequentemente, com a implementação dos meios de produção em escala industrial criou-se o conceito de " mercadoria".
Com isso a dinâmica para aquisição de bens mudou. A estrutura desta dinâmica se tornou muito mais simples já que o comércio se especializou e se desenvolveu para alcançar lucros crescentes. A aquisição foi facilitada para o consumidor que, aliás, se tornou mercadoria também.
Se antes, para se adquirir um bem deveria-se implementar uma dinâmica de aquisição complexa e artesanal que levava a relações humanas complexas e tradicionais agora a dinâmica vigente leva o homem a adquirir bens para adquirir outros bens e as relações comerciais entre humanos que duravam gerações agora duram minutos.
Isto teve profunda influência nas relações pessoais com a adoção de modelos relacionais baseados nos modelos produtivo/comerciais capitalistas.
A urgência pelo lucro passou a ser medida para a urgência nas relações. A aquisição de relações humanas segue o ritmo das relações comerciais. O fator "descartabilidade" dos processos capitalistas também é aplicado às relações entre pessoas tornando obsoletos os atos que visam "consertar" situações. A tradição que simboliza a durabilidade de tudo é trocada pelo "anseio do novo". Os meios de comunicação são, predominantemente, virtuais potencializando a capacidade de criação de personagens que tornam às relações baseadas em ilusões e fadadas ao conflito entre realidade e utopia.
Já não estamos certos das nossas relações como já não temos a certeza se um certo bem de consumo é moderno ou obsoleto dada a velocidade de produção do novo.
Estamos encarnando o fantasma do autômato?
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