Estou sozinho, sentado em minha sala onde a vista maravilhosa do céu noturno, da cidade e um vento gelado de inverno me inspiram e me fazem sentir falta do calor de um outro corpo.
O homem é 1% razão e 90% irracionalidade. O homem é um grão de areia de artificialidade numa enorme duna de animalidade, de vivência instintiva, de "natureza humana".
O que leva o homem a não perceber este triste estado é a razão que lhe atribui a consciência de si.
A consciência é o berço da individualidade que faz o homem ver-se apartado das coisas. E a individualidade tem como sintoma e remédio a solidão.
A solidão é o impulso da natureza nos movendo de volta ao todo. A solidão é a vontade da natureza de que encontremos o significado da vida nos outros ou seja, é a vontade da natureza nos levando a dependência do outro para que possamos reconhecer a nossa própria existência.
Mais do que isso, a solidão nos move, em última instância, ao contato físico.
Desejamos a comunhão com os outros mas, acima de tudo, desejamos a comunhão com "alguém". Todo ser humano "se alimenta" do contato físico. Todo ser humano se nutre dele.
Precisamos tocar a pele de alguém e precisamos ser tocados com níveis de carinho e paixão, eu diria, equivalentes. Não há uma grande diferença entre o nível de carinho físico que necessitamos e a sensação de segurança que tínhamos no útero de nossas mães. Desta forma, nos somos para o outro e desejamos que o outro seja para nós "a extensão de um útero".
Procuramos, ao abraçar o outro, o mesmo abraço morno do líquido amniótico. Aí está o segredo. Ao tocarmos o outro com paixão e ao sermos tocados somos levados a um ambiente em que a nossa "animalidade" se exerce e nos libertamos das amarras da cultura. Ao adentrarmos neste ambiente erótico voltamos a correr livres e nus pelas savanas sob os auspícios do Deus Sol. Ao nos entrelaçararmos ao corpo do nosso "alguém" transgredimos alegremente a moral e a artificialidade grotesca do mundo criado pelo homem.
Estes são momentos de descanso para o homem natural mas deveria ser a vida. Deveríamos nos sentir eternas crianças bem amparadas. O carinho físico deveria ser usado como terapia para o homem moderno para amenizar às dores sociais. O mundo deveria ser idealizado como um gigantesco útero.
Amemos.
domingo, 13 de setembro de 2015
Afetividade física e transgressão
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