sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A busca pela continuidade

A admiração e estupefação pela morte e sua consequente conscientização trouxe, ao homem,  o pensamento e o transformou em indivíduo.
Ao perceber-se indivíduo o homem percebe, também, o seu apartamento do todo e, consequentemente,  a sua solidão.
A solidão é algo maravilhoso pois nos permite vermos a nós mesmos e, desta forma,  permite-nos a mudança em nós e, a partir de nós,  a mudança do mundo.
Mas o indivíduo, ao perceber-se só, percebe o próprio desamparo diante da imensidão imensurável do mundo e se amedronta.
Amedrontado e inseguro o homem deseja o retorno ao todo. O erotismo e o amor são invenções humanas para completar, momentaneamente, a lacuna deixada pela individualização do homem.
Na tentativa de recompor o fio que o ligava a tudo o homem ama e se relaciona de forma erótica.
O erotismo é uma forma de transgredir os limites impostos a sexualidade, uma forma de ligação momentânea com o todo (comunhão) e uma forma momentânea de vencer a morte.
Durante o orgasmo nos fundimos ao universo e, ao voltarmos sofremos por sermos confrontados com a nossa miserável situação após termos nos apartado dás nossas origens.
Viver é, portanto, a procura, eu diria, desesperada por momentos de comunhão com o todo; o que, erroneamente, chamamos de paz.
O seu oposto, a violência em suas múltiplas expressões, também é "orgasmica" já que nos leva a comunhão com o todo via alívio da nossa violência interior represada pelos limites impostos pelo trabalho assim como a sexualidade o é.
O homem, portanto,  é um animal que se apartou daquilo que o originou e, em função disso, teve que reprimir os seus instintos em nome do trabalho que constroi o seu mundo.
Mas, ao reprimir o seu verdadeiro " eu " o homem o represa, já que ele não deixa de existir mas luta para libertar-se.
Para não enlouquecer com as pressões dessas forças represadas o homem cria rotas de fuga ou válvulas de escape na forma de relações amorosas, eróticas e competitivas.
Talvez o sucesso e a felicidade da espécie humana estejam atrelados a compreensão dos mecanismos de alívio das forças naturais represadas.

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