segunda-feira, 27 de junho de 2016

Luto

À zero hora você se foi.
Ao som de um exagerado não,
Seguido de imperceptíveis pequenos nãos,
A volta do teu santo nome.

Às cinco horas adveio o fogo
Voraz e tempestuoso seguido do teu pecaminoso nome
E ouvi de mim maldições e inúteis ameaças
Contra o meu próprio desejo.

Às dez fui ao mercado ter com Deus
Ou com qualquer divindade.
Queria trocar qualquer coisa
Por teu valioso nome.
Ouro que escoa entre ósseos dedos.

Às quinze me vi sozinho e nu.
Criança cuja mãe ficou louca
Ou morreu de amor me negando o seio.
Ou cujo pai foi à guerra.
Eu e o nada, nada eu.

Às vinte abri uma janela sem perceber.
E fez-se a luz.
E me fiz espírito pairando sobre os mundos
Num trocar de lugar num sonho.
E recebi meus amigos
E entoamos hinos fúnebres alegremente.

Agora vou dormir o sono dos amantes,
Pois a hora é chegada.
Quero acordar no jubiloso dia
Onde vencerei a morte,
Seja do amor ou da carne.
E não haverá despedida.

Em memória de tudo o que morreu contra a minha vontade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ola. Obrigado por ler e comentar. A arte é a expressão das angustias humanas e este blog é um espaço de reflexões e, com a sua participação caro leitor (a), um espaço para o debate filosófico existencialista. Peço a você que comente criticamente, expresse a sua opinião, recomende o blog e, para pareceres de foro intimo ou pessoal utilize o meu email. Um grande e poético abraço.