Hoje abri armários e gavetas.
Deixei sair os fantasmas anuais
E seu séquito de lembranças,
Remorsos e dúvidas ancestrais.
Abri velhas pastas de conteúdo conhecido e incerto.
Cada papel trás um momento,
Uma encruzilhada numa estrada
Que poderia ter me levado a outro
Lugar.
Ou ao mesmo deserto.
Onde estaria eu se tivesse me negado?
O que seria de mim agora, se
A demora fosse pouca?
Ou, se muita, quanto seria?
Tomaria, eu, o caminho errado?
Ou o certo reconheceria?
Quantas presenças adiei? ( penso
Enquanto uma velha fotografia
Cai aos meus pés.)
Quantas desprezei e hoje me
Arrependo.
Quantas perdi ou me perderam
Por um ou outro insano revés?
Penso, rumino e peço perdão às paredes.
Separo aquilo que já não me dá
O prazer masoquista da dor.
Guardo aquilo, e apenas aquilo
Cujo perdão ainda não veio.
Fecho às portas dos armários,
Me visto para às festas
E vou semear mais um campo
Com novas saudades.
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