segunda-feira, 19 de setembro de 2016

360

Quero que a chuva molhe
As vis engrenagens dos relógios,
E que ele pare de vez por toda.
Não quero mais o tempo
Que envelhece minhas carnes.
Nem dos muitos anos, os elogios.

Não quero saber a próxima hora
E o dia de amanhã e o dia de sempre.
Quero sim, o dia e a noite,
Referências de labor e descanso.

Que, sob forte vento sul,
Rasgue-se o calendário.
E que o carrilhão diabólico venha abaixo.
Não quero a inútil hora pra nada
E nem o amargo  e inútil "aniversário".

Que o sol do meio dia
Retorne para o leste
E que o oeste seja esquecido.
Que seja eu esquecido pelo tempo
E que a ampulheta se cristalize.

Abaixo o tempo que desperta a morte,
E aproxima os finados corpos da terra.
Desmembre-se máquina que a ilusão encerra
E encerra, do finito homem, a sorte.

Porque atemporal eu sou,
Fustigado pelos ponteiros.

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